Na manhã, ao fazer-se o balanço
da véspera, com intenção de reflectir sobre o que se está a viver, há larga
escolha de temas. O dia de ontem foi perturbado – e perturbador – no que
respeita à informação a que há acesso generalizado e, de certo modo, imposto
pelos que dominam os canais que a veiculam.
O que aconteceu em Washington
foi informativamente avassalador, no processo em que a democracia tem tratos de polé. Não há dúvida que a
análise serena (se possível quanto desejável…) do que se passa nos Estados
Unidos revela situações gravíssimas para quem obedeça a critérios de avaliação
políticos e sociais. A cabeça de um sistema, de uma forma de organização da
sociedade que se apresenta a si própria como exemplo, e actua como se, enquanto
exemplo e guia, tivesse o direito de impor a outros lugares, essa cabeçorra
revela-se verdadeiramente atrasada, recuada civilizacionalmente. Que se diria,
a partir do controle comunicacional que o poder domina, se este calvário da
democracia nos Estados Unidos, que enche as manchetes da informação, tivesse
semelhanças em alguns desses países, Estados, em que se quer impor, à força, o
modelo e o exemplo dos Estados Unidos?
Se os Estados Unidos tanto ocuparam (como sempre) o espaço informativo, muito deste teve de se dedicar ao surto epidérmico, que não cede, antes se agrava, apesar da sucessão de estados de excepção, que importa não banalizar e apressa a tomada de outras medidas.
A aplicação de vacinas – mantendo
debaixo do tapete a escandalosa concorrência e negociatazonas nesta parte do
mundo –, se rodeada de auréolas mitificadoras – e mistificadoras –, não pode
cumprir a tarefa que lhes pretendem emprestar, isto sem negar a enorme
gravidade da situação, mas função preventiva e não salvática ou redentora.
Finalmente, mas não por último, estas reflexões decorrem da campanha eleitoral para as presidenciais. Na presente situação, têm sido reveladoras. Face a uma recandidatura que tem o seu quê de cumprimento de uma predestinação que vem do berço, as outras candidaturas são, embora nem todas como tal se assumam, de marcação de um espaço político/ideológico, e uma única parece interessada em definir, esclarecer, dizer claramente ao que se candidata no quadro político, constitucional, em que nos situamos. São reveladores moderações e comentários aos debates desvalorizando o acto, a importância de escolher, democraticamente, um Presidente da República, tal como o quadro constitucional o define, preferindo saber que posições têm os candidatos na avaliação oportunística da actualidade. Chega a ser confrangedora a ignorância da Constituição, e comentador de debates atingiu o ridículo de lembrar que ela foi revista, ao candidato que diz candidatar-se para a cumprir, defender e fazer cumprir, e que, com essas revisões tinha deixado de ser a “dele”-candidato, e ter feito tal comentário após debate em que esse candidato referira e citara a Constituição demonstrando um conhecimento que, lamentavelmente, o comentador não tem e, mais, nunca a tomando como sua mas como a que, sendo nossa, defenderia na função a que se candidata. Aliás, para terminar a reflexão, que vai longa, estes moderadores/comentadores ilustram, em relação a esse mesmo candidato a posição que Lenine tão bem denunciou: fazem do outro uma caricatura, a traço grosso e falsificador, e atacam não o que ele é e defende mas a caricatura, irreconhecível, que dele fizeram.
1 comentário:
Uma reflexão bem afirmativa sobre o arremedo de democracia dos nossos dias.Bjo
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