quinta-feira, fevereiro 25, 2021

Ângela Merkl e a vacina russa

 extractos de um (quase-)diário

Ontem, ao ouvir jornal 2, o que se ouve cá em casa, em regime de pandemia e acautelando o estado mental… mesmo assim sempre a ser posto à prova,
pois ontem, dia 24 de Fevereiro, entre as 21.30 e as 22 horas, ao fazer o ponto da situação do surto epidémico (do que é que havia de ser?!), o "pivô" foi até Moscovo cavalgando uma notícia que, francamente, espantou (como é que ainda?...). 
Dizia ele que Ângela Merkl estava a encontrar uma saída para o problema das vacinas, para o que estava em contacto (ou negociações?) com Putin, 
e o que ele disse foi confirmado por aquele ponta-de-lança que a televisão portuguesa tem em Moscovo desde a Idade Média, perdão, desde que há por cá televisão.
Mais disse esse português com sotaque russo (ou será russo com sotaque português?), que falou em diplomacia da vacina e acrescentou que a Rússia não iria desprezar a opotunidade, antes a aproveitaria, como aproveita tudo para se afirmar, e ainda acrescentou que a Hungria e São Marino já estão a vacinar moscovita, ou russamente, as suas populações.

Fiquei absorto, e absorto continuo, passada uma noite mal dormida (não só por dessa e de outras noticias). 

Mas então não há uma União Europeia que, com os seus 27 Estados-membros (acertei no número?), está unitária e europeiamente a resolver?
E dessa União Europeia não faz parte a Hungria?, e São Marino não é uma espécie de seu enclave, com o euro como moeda e tudo?
Como se explica a intransigente ausência de alternativas que o Estado português, pelo seu executivo e presidência da República, adoptou como aluno exemplar que pretende sempre assumir?

E, já agora, cabe perguntar qual é o papel da Presidência da U.E., por acaso portuguesa, perante as iniciativas de Ângela Merkl?

 


INFORMAÇÃO (zinha)




A CHINA VAI ENVIAR VACINAS 

PARA MAIS 19 PAÍSES AFRICANOS

A China enviou vacinas para o Zimbabwe e a Guiné Equatorial, e irá ajudar mais 19 países de África como parte do compromisso de tornar as vacinas um bem público mundial, afirmou um funcionário do governo.
Trabalhadores descarregam as vacinas doadas pela China no Aeroporto Internacional Robert Gabriel Mugabe, em Harare, capital do Zimbabwe, no dia 15 de Fevereiro de 2021 CréditosShaun Jusa / Xinhua

Wang Wenbin, representante do Ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, disse esta segunda-feira que o seu governo se propõe apoiar o continente africano no menor tempo possível.

Wang referiu-se às doações feitas ao Zimbabwe e à Guiné Equatorial, destacando que, com estas acções, o país asiático quer fazer das suas vacinas um bem público mundial.

Afirmou que se trata de uma clara manifestação da amizade tradicional entre a China e África, acrescentando que o seu país irá continuar a fornecer apoio e assistência dentro das suas capacidades e tendo em conta as necessidades do continente, informa a agência Xinhua.

Além dos países referidos, o responsável governamental disse que a China irá ajudar, concretamente, outros 19 países africanos, doando vacinas àqueles que se encontram em situação de maior desvantagem e apoiando empresas a exportar os seus produtos contra a Covid-19 para países africanos que deles necessitam com urgência e que aprovaram a sua utilização.

CHINA APOIA OS ESFORÇOS DO OCIDENTE 

PARA APOIAR ÁFRICA

Wang reagiu desta forma às declarações proferidas pelo presidente francês, Emmanuel Macron, no contexto da Conferência de Segurança de Munique, em que exortou europeus e norte-americanos a enviar o mais rapidamente possível para África doses suficientes de vacinas contra a Covid-19 para proteger o pessoal da Saúde, defendendo que, assim, «o Ocidente será considerado em África» e que, de outra forma, «os nossos amigos africanos irão comprar doses aos chineses, aos russos».

«A força do Ocidente será um conceito e não uma realidade», disse o chefe de Estado francês, citado pela Prensa Latina.

Ao ser questionado para comentar directamente estas afirmações de Macron, Wang Wenbin disse que a China valoriza e apoia o esforço da França e de outros países europeus e americanos para fornecer vacinas e ajudar África a combater a pandemia.

A China tem actualmente 16 vacinas contra a Covid-19 a ser testadas, sete das quais na terceira fase dos ensaios clínicos, e aplicou as quatro mais avançadas a mais de 40 milhões de pessoas.

O país asiático enviou as suas vacinas contra a Covid-19 para 53 países em desenvolvimento, como forma de ajuda, tem acordos de exportação com mais 22 e entregou dez milhões de doses ao mecanismo Covax, promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), indica a Xinhua.

A OMS está a estudar as vacinas produzidas pelas empresas chinesas Sinopharm, Sinovac e CanSino para determinar se cumprem os padrões mundiais de qualidade e segurança, antes de as incluir na sua lista de fármacos aprovados.

Ver original em "AbrilAbril" na seguinte ligação:

https://www.abrilabril.pt/internacional/china-vai-enviar-vacinas-para-mais-19-paises-africanos

sexta-feira, fevereiro 19, 2021

  - Edição Nº2464  -  18-2-2021

Criminoso bloqueio

Pelo seu conteúdo, os «resultados preliminares da visita à República Bolivariana da Venezuela» (realizada de 1 a 12 de Fevereiro), apresentados pela «relatora especial da ONU sobre o impacto das medidas coercivas unilaterais no exercício dos direitos humanos», representam uma importante denúncia do crime contra o povo venezuelano que constitui o conjunto de medidas e sanções impostas pelos EUA contra a Venezuela.

Adoptadas na sua maioria pela Administração Trump – e vergonhosamente seguidas pela União Europeia e alguns governos, incluindo pelo Governo português –, as sanções norte-americanas configuram um desumano bloqueio comercial, económico e financeiro que, de forma premeditada, visa atingir o povo venezuelano, promovendo metodicamente a degradação das suas condições de vida, procurando impossibilitar a existência das condições que possam assegurar o cumprimento dos seus direitos.

Recorde-se o colossal saque de activos do Estado venezuelano, no valor de milhares de milhões de dólares, particularmente dos 1,2 mil milhões de dólares do Banco Central da Venezuela retidos em Portugal. Meios financeiros que, face ao cruel bloqueio imposto pelos EUA, o Governo venezuelano procura utilizar para dar resposta às necessidades mais essenciais do povo venezuelano, incluindo alimentares e de saúde – tão mais urgentes no contexto da pandemia de COVID-19 –, e que são inaceitavelmente retidos pelo Novo Banco, perante a condescendência do Governo português.

É significativo que a relatora da ONU enfatize que as sanções unilaterais constituem uma violação do direito internacional e que «o propósito anunciado da campanha de “pressão máxima” – para mudar o Governo da Venezuela – viola o princípio da igualdade soberana dos Estados e constitui uma intervenção nos assuntos internos da Venezuela»; e que sublinhe que «o congelamento do património do Banco Central da Venezuela […] viola os direitos soberanos do país e impede o seu governo efectivo de exercer o dever de garantir as necessidades da população».

Recordando a obrigação dos Estados perante os princípios e normas da Carta das Nações Unidas e do direito internacional – como a não intervenção nos assuntos internos dos Estados –, a relatora da ONU ressalta a inadmissibilidade de aplicar sanções extraterritorialmente e, entre outras importantes recomendações, «insta o Governo dos Estados Unidos a pôr fim à emergência nacional em relação à Venezuela, rever e suspender as sanções contra o sector público da Venezuela, rever e levantar sanções contra terceiros Estados e abster-se de impor sanções ao fornecimento de óleo diesel que provoquem uma crise humanitária de proporções sem precedentes»; assim como «insta os Governos do Reino Unido, Portugal e dos Estados Unidos e os bancos correspondentes a descongelar os activos do Banco Central da Venezuela».

Face ao sublinhado pela relatora da ONU, vai o Governo português continuar a alinhar com a política adoptada pela Administração Trump contra a Venezuela? Vai o Governo português continuar a alinhar com o cruel bloqueio e saque de activos, que tão dramáticas consequências têm imposto ao povo venezuelano, assim como à comunidade portuguesa que vive naquele país latino-americano?

Pedro Guerreiro

A saga do vaci-negócio

de páginas de um quase-diário:

19.02.2021

Ontem coloquei, em dois posts, intervenções de deputados no Parlamento Europeu, sobre o magno problema das vacinas.

Um, do João Ferreira, que sublinhava aspectos muito relevantes sublinhando a operação público-privada em benefício evidente dos privados, e outro, de deputada francesa, que se dirigia à presidente da Comissão, com grande acutilância, e denunciava a submissão da dita Comissão aos grandes laboratórios privados.

Nesta intervenção, a deputada Manon Aubry mostrou um dos documentos do acordo da Comissão com os laboratórios, a que apenas com muitos esforços os deputados tinham tido acesso… mas em que partes do acordo estavam ocultas, ilegíveis.

O que, sendo estranho, é inaceitável num equilíbrio institucional, os eleitos parecem ter de se submeter a executivos nomeados sabe-se lá (a U.E.) como, embora tenham de passar por um ritual aparentemente democratizante.

Essas partes do contrato mostrado, com tiras a negro em documento dactilografado (melhor se diria computorizado ou digitalizado) seriam evidentemente as que mais interessariam, sobre preços, calendário de entregas (e se isso nos interessa!), cláusulas de responsabilidade…

Hoje, na informação de que me “alimento” ao pequeno-almoço, encontrei, num documento dos promocionais da imagem da U.E., uma informação que considero interessante:

Biontech et Pfizer exigeaient 54 euros par dose de vaccin 

en juin

[Politique] Les sociétés pharmaceutiques Pfizer et Biontech avaient demandé 54,08 euros par dose de vaccin en juin dernier, montant qui a ensuite été ramené à 15,50 euros par dose lors de négociations.

A isto chama-se “marralhar”: o vendedor começa por oferecer a mercadoria, em Junho, por 54,08 euros a dose de vacina e acaba por a contratar por 15,50 euros a dose… em que prazos de entrega, com que cláusulas de responsabilidade em caso de não cumprimento?

E importaria também conhecer qual o investimento público para que o privado tivesse a mercadoria e… a patenteasse como sua propriedade industrial.

E eu a lembrar-me de texto de 1848 sobre a não neutralidade social do aparelho de Estado nacional (ou, actualizando, associação de Estados com apregoadas virtudes públicas mas submetendo-se e beneficiando vícios privados – e vacinas...)   

A U.E. de joelhos perante as transnacionais farmaceuticas...

... e nós, de rastos!
(é preciso fazer um desenho... ou traduzir?!)

quinta-feira, fevereiro 18, 2021

Direito à vacinação - que outros "direitos" o condicionam?


 

Crimes sem castigo... e tantos são!

  - Edição Nº2464  -  18-2-2021


Crimes sem castigo

A 30 de Janeiro começou em França o julgamento de várias multinacionais da indústria química (entre elas a Bayer-Monsanto e a Dow Chemical) que venderam aos EUA o Agente Laranja utilizado massivamente como desfolhante na agressão militar ao Vietname: estima-se que entre 1961 e 1971 tenham sido despejados sobre as florestas do Sul desse país, como nas do Laos e do Cambodja, 76 milhões de litros deste produto.

Segundo a Associação Vietnamita de Vítimas do Agente Laranja, 4,8 milhões de pessoas foram expostas a este químico e são três milhões os que actualmente vivem com as suas consequências, entre as quais se incluem a diminuição da imunidade, os distúrbios endócrinos, neurológicos e reprodutivos, os cancros e as malformações, muitas delas particularmente graves e incapacitantes. Ninguém sabe ao certo quantas gerações poderão vir a ser afectadas, mas são muitos os bebés que, ainda hoje, nascem condenados a viver estes e outros dramas.

O processo judicial foi movido pela cidadã franco-vietnamita Tran To Nga, exposta à dioxina em 1966, quando era uma jovem jornalista e activista patriótica no Vietname do Sul. Desde então, desenvolveu diabetes e alergias raras, padeceu de cancro e contraiu tuberculose por duas vezes. Uma das suas filhas morreu com uma malformação no coração e as netas também já têm doenças. «Não luto por mim, mas pelos meus filhos e por milhões de vítimas», afirmou antes do início do julgamento, que muitos consideram já histórico, pelo precedente legal que poderá abrir.

Até ao momento, apenas veteranos militares norte-americanos, australianos e sul-coreanos foram indemnizados pelos efeitos do Agente Laranja, precisamente por algumas das empresas que agora enjeitam qualquer responsabilidade pelo modo como o exército norte-americano utilizou os seus produtos. Ao mesmo tempo, nem um dos milhões de vietnamitas, laocianos ou cambojanos expostos ao químico (e os seus filhos e netos) foi sequer considerado vítima em qualquer processo judicial internacional, pese embora os esforços feitos durante décadas nesse sentido pelas autoridades da República Socialista do Vietname.

Este está longe de ser o único crime lento, cruel, hereditário, cometido pelo imperialismo nesse crime maior que é a guerra: a radiação ainda faz vítimas em Hiroxima e Nagasáqui, assim como nos Balcãs e no Iraque, onde foram usadas em grande escala munições com urânio empobrecido. Todos sem excepção permanecem por julgar.

Independentemente de qual venha a ser a decisão do tribunal francês, que deverá ser conhecida em Maio, o principal criminoso ficará impune, pois nem sequer está sentado no banco dos réus. O seu julgamento será feito pela História. O veredito, esse, foi já ditado.

Gustavo Carneiro

quarta-feira, fevereiro 17, 2021

Inaceitável patUErnalismo!

A basuca, que passou a vitamina, e que, por este caminho, se transformará em aspirina ou analgésico, motivou, ontem, uma verdadeira ofensiva de "informação" vinda de Bruxelas; ofensiva que também o foi com o significado de ofender, de apoucar, de nos tratar como atrasadinhos a quem se tem de explicar tudinho.

Então não há um senhor que vem dizer, tim-tim por tim-tim, que a ajuda que a magnanima U.E. vai conceder pode ter uma componente empréstimo mas que esta parte - tenham atenção, meus queridinhos - entra para a dívida? Perceberam ou querem que lhes faça um desenho?: há o que é dado - eu diria transferido dos que muito ganharam com a UE para os que muito deixaram de poder - e de mão beijada, meus filhos... mas, se quiserem mais papa, ficam a dever, e devem ver que já devem muito... vejam lá! Acrescentou, com toda a bonómica condescendência, que os juros serão baixos, que as condições serão boazinhas, mas vejam lá!, não abusem...

Ao que chegámos!


 

terça-feira, fevereiro 16, 2021

Pachorra?

Tinha decidido nada tornar público sobre este episódio sórdido Marcelino da Mata, para não gastar cera com tão ruim defunto, mas o excelente texto de Manuel Loff obrigou-me à transcrição. Excelente o texto, só que não concordo (embora compreenda muito bem o desabafo) com o final. Não há pachorra? Temos de ter pachorra, toda a pachorra e mais do que pachorra! 

Uma história oficial da democracia portuguesa?

Manuel Loff

16 de Fevereiro de 2021, Público

Nas páginas deste jornal, João Miguel Tavares (J.M.T.) lamentou que “a maior parte dos portugueses não faça a menor ideia de quem foi Marcelino da Mata” que morreu há dias, aos 80 anos. Afinal, ele era, diz J.M.T., o “militar mais condecorado do Exército português”, por feitos cometidos durante a Guerra Colonial (e só) que Vasco Lourenço, que o conheceu bem, assegura terem sido “crimes de guerra” (PÚBLICO, 19.7.2018). J.M.T. limita-se a dizer que “é muito possível que tais crimes tenham acontecido. Não sei com exatidão quais foram, mas em bom rigor também não tenho forma de saber”. É natural: como nunca foi julgado nenhum dos responsáveis pelos massacres de Batepá (1953), Pidjiguiti (1959), Mueda (1960), Luanda (1961) e Norte de Angola (os contramassacres de 1961), Wiryamu e mais quatro aldeias (1972), só para citar os mais conhecidos, seria surpreendente conhecer em detalhe, pelo contrário, o que fez Marcelino da Mata. O que a J.M.T. interessa dizer é que “o seu perfil é triplamente incómodo para aquilo que se impôs como a narrativa oficial do Estado Novo, da guerra colonial, da descolonização ou das conquistas de Abril” por ter sido “um negro que lutou ao lado dos portugueses na guerra colonial; um herói do Estado Novo; um militar barbaramente espancado por militares de extrema-esquerda ligados ao MRPP, em Lisboa, já em plena democracia. É um triplo desconforto, triplamente silenciado.”

Há de tudo neste arrazoado. Nem vou perder tempo com o último argumento; linhas abaixo, os “militares de extrema-esquerda” passaram a ser a “revolução” como um todo ("uma revolução libertadora tortura[va] tão barbaramente quanto uma ditadura"), que é como quem diz que qualquer espancamento que ocorra hoje em Portugal é responsabilidade da democracia. O que é inaceitável é esta insinuação manipuladora que uma pretensa narrativa oficial da democracia silencia a guerra e o colonialismo! Como se fosse incómodo saber que “um guineense preferi[u] Portugal ao PAIGC”, que colonizados lutaram do lado do colonizador contra quem lutava contra o colonialismo. Onde está a novidade? Não foi o goês Casimiro Monteiro um dos assassinos de Humberto Delgado em 1965? Também ele “preferiu Portugal” à democracia.

Se a preocupação de J.M.T. é o reconhecimento do valor dos combatentes africanos na tropa colonial portuguesa, que lugar acha ele que devem ter na memória da democracia os Flechas organizados pela PIDE, sob a direção do inspetor Óscar Cardoso? Falemos das operações em que se envolveram! Em 1992, quando Cavaco, por proposta do Supremo Tribunal Militar, louvou Cardoso por “por serviços excecionais e relevantes”, Francisco Sousa Tavares descreveu-o como “um insulto feito a Portugal e a cada um de nós. E eu devolvo-o [a] essa trupe de generais e de almirantes” (DN, 14.11.1992). Falemos de história oficial, a escrita por Cavaco! Já lançado, porque não propõe J.M.T. à França, à Holanda, à Bélgica, à Rússia, à Polónia, à Ucrânia, à Croácia, à Lituânia que homenageiem (nestes três últimos casos, é verdade, já o fazem...) os voluntários (salvo os que foram à força) das Waffen-SS e da Wehrmacht que, durante a II Guerra Mundial, lutaram ao lado dos nazis contra os seus próprios compatriotas, muitos deles envolvidos nas operações de extermínio de judeus, ciganos, comunistas, resistentes?

Não faço ideia quanto a J.M.T. lhe toca sinceramente o caso de Marcelino da Mata. Percebe-se é que as vítimas dele nada lhe dizem. Na realidade, há um só objetivo em tudo isto: insinuar que a democracia portuguesa inventou uma história e a tornou oficial. O homem que Marcelo nomeou para o oficialíssimo cargo de presidir às cerimónias do Dia de Portugal (2019), um dos opinadores profissionais que mais espaço tem para se ouvir a si próprio, há muito que faz este número do outsider incómodo, debitando a mesma cartilha bolsonarista da ditadura cultural da esquerda que silencia a verdadeira memória do passado.

Também aqui, novidade zero: é o que desde 1945 fazem as direitas extremas ao falarem de uma história dos vencedores da II Guerra Mundial, como se em Nuremberga os Aliados tivessem inventado os crimes contra a Humanidade praticados pelos nazis, como se Auschwitz fosse uma invenção dos sobreviventes dos campos, como se o fascismo fosse uma invenção dos antifascistas e os anticolonialistas tivessem inventado o colonialismo. Já não há pachorra!


sexta-feira, fevereiro 12, 2021

Eles comem tudo...

  - Edição Nº2463  -  11-2-2021


Dependências que a COVID destacou

O Governo continua a gerir a sua intervenção a partir da submissão às imposições da UE mesmo quando isso confronta os interesses nacionais e a resposta rápida e eficaz que muitos dos problemas decorrentes dos impactos da epidemia reclamariam. Há um espécie de dogma com que se responde a quase tudo sempre que essa submissão é questionada: o que seria de Portugal sem a UE? Seguindo-se o cenário apocalíptico que em regra é invocado.

A fórmula gasta e acéfala é repetida até à exaustão. Sem a UE, um país pequeno como o nosso, o acesso de Portugal às vacinas seria uma miragem; sem a UE não se verificariam condições de financiamento nem o acesso aos «mercados» por parte do Estado português; sem a UE não teríamos a famosa «bazuca europeia» para relançar o investimento e responder à crise!!!

Mas o que se apresenta como salvação do País, na verdade, é o reflexo da sua dramática dependência. Dependentes para decidir sobre a TAP. Dependentes para comprar e produzir vacinas. Dependentes, muito dependentes, para decidir sobre o investimento público necessário ao País.

Veja-se, por exemplo, a execução verificada no Orçamento de 2020 e os cerca de 2,4 mil milhões de euros de margem orçamental que ficaram por utilizar em nome das regras do… Euro. Olhe-se para a forma passiva em como se aceitou o encerramento de unidades produtivas como a refinaria de Matosinhos ou a central de Sines passando a importar o que aí se produz. Veja-se como não cessam as mensagens da UE para a contenção salarial e as ditas reformas estruturais.

Nada que importe à elite económica nacional mais interessada em preservar os seus privilégios ainda que na sombra das grandes transnacionais.

Sem uma ruptura com este caminho, no rescaldo da pandemia, quando os seus maiores impactos – sobretudo sanitários - tiverem sido superados, o risco de se acentuar ainda mais o carácter periférico e subalterno do País é enorme. É também no cavar desse fosso que as grandes potências da UE apostam com o triste aplauso e regozijo de todos os que dizendo-se “europeístas” franqueiam as portas a uma dependência que nos rouba o futuro.

Vasco Cardoso



terça-feira, fevereiro 09, 2021

Lê-se e pasma-se...

 Lê-se no Público de hoje:

A Sputnik foi prejudicada
pela propaganda do
Kremlin, mas os ensaios
clínicos parecem justificar
que venha a entrar na UE

... e pasma-se!

"propaganda do Kremlin" ?! Não houve propaganda (relações públicas, lobbies, sei lá mais...) mas sim da parte da Pfizer e outros comparsas desta desavergonhada (para não dizer criminosa, por deshumana) negociata das vacinas?

..."parecem justificar que..." ?! Que reticências são estas?

... "... que venha a entrar na UE." ?! Isto é: que, com ensaios clínicos e tudo o resto, ainda precisarão de passaporte e visto UE para entrar nos "protegidos" Estados-membros?, ao que chegou a des-soberania nacional!

domingo, fevereiro 07, 2021

COvID19 em CUBA

INFORMAÇÃO 

INICIO NOTICIASSALUD  »I

Cuba reporta 845 nuevos casos de COVID-19, cuatro fallecidos y 896 altas médicas (+ Video)

En este artículo: CoronavirusCOVID-19CubaEstadísticaFrancisco Durán GarcíaMinisterio de Salud Pública (MINSAP)SaludSalud PúblicaSARS-CoV-2Virus

5 febrero 2021 | 145 |   

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Al cierre de este jueves 4 de febrero, Cuba reportó 845 nuevos casos de COVID-19, con lo cual el país acumula un total de 31 190 confirmados desde marzo de 2020; cuatro fallecidos y 896 altas médicas, informó Francisco Durán García, director nacional de Epidemiología del Ministerio de Salud Pública (Minsap).

En el día en que comienzan a aplicarse nuevas medidas en La Habana para controlar la propagación de la enfermedad ‒“y tal vez sea necesario e importante aplicar algunas más que se irán decidiendo”, dijo Durán‒, Cuba amaneció con 14 004 pacientes ingresados: 3 100 sospechosos, 5 360 en vigilancia y 5 544 confirmados (casos activos).

“Las medidas buscan controlar la importante transmisión que existe en varios municipios del país, serán más intensas donde más transmisión hay. Claro, por muchas medidas que se apliquen, si no hay autorresponsabilidad se hace difícil. Acompañar las medidas y prevenir es la vacuna que tenemos en estos momentos”, añadió el director nacional de Epidemiología.

De los 5 544 pacientes confirmados o casos activos, 5 481 muestran una evolución clínica estable, precisó Durán. En terapia intensiva se encuentran 63 pacientes (la más alta hasta la fecha): 29 críticos y 34 graves.

“Es una cifra elevada, en correspondencia con el número elevado de casos. No es que la enfermedad esté siendo más virulenta, al menos no es lo que se ha detectado en Cuba, sino que realmente siempre un incremento de loa casos, que incluye los grupos de riesgo por edad y comorbilidades, conlleva un incremento en la cantidad de pacientes críticos y graves”, explicó el especialista.

Este jueves fueron procesadas 18 017 muestras en los laboratorios de biología molecular del país, de las que 845 resultaron positivas.

Desde marzo de 2020, cuando llegó la pandemia al país, en Cuba se han procesado 1 976 118 muestras, con 31 190 positivas (1.58%).

Del total de casos diagnosticados este jueves, 787 fueron contactos de casos confirmados; 26 tienen fuente de infección en el extranjero y en 32 no se ha precisado la fuente de infección. Además, 416 corresponden al sexo femenino y 429 al masculino.

El 45% (380) de los 845 casos positivos fueron asintomáticos, con lo que se acumulan 17 214 desde marzo pasado, el 55.2% de los confirmados.

Del total de casos del día, 40 están vinculados con viajeros internacionales.

De los 845 pacientes confirmados, 99 están en el grupo de menores de 20 años; 225 en el de 20 a 39 años; 335 en el de 40 a 59 años, y 186 en el de 60 y más.

Con los cuatro fallecidos del jueves, Cuba acumula 229 muertes por COVID-19 desde marzo de 2020, para una tasa de letalidad de 0.73% (tomando en cuenta el número total de casos confirmados, 31 190), menor que la mundial (2.17%) y la de las Américas (2.3%).

Hasta la fecha, además, se acumulan dos personas evacuadas, 51 retornadas a sus países y 25 364 pacientes recuperados (81.3% de los confirmados), con las 896 altas reportadas el jueves.

Segue a

Residencia de los casos confirmados por provincia y municipios

… e depois a lista e situação de:

Pacientes en estado crítico

… entre os quais um:

Ciudadano portugués de 75 años de edad. Antecedentes patológicos personales. Hipertensión arterial, síndrome Dandi-Walker e hiperplasia prostática. Se encuentra en cuidados intensivos, en horas de la noche comenzó con disnea intensa y desaturaciones con necesidad de intubar y ventilar. Ahora afebril, con ventilación mecánica con distrés respiratorio ligero. Hemodinámicamente estable. Buen ritmo diurético. Reportado de crítico estable.

… a lista e situação de:

Pacientes en estado grave

...

--- e a lista de:

Pacientes fallecidos

...

É mesmo uma questão de prioridades (e de coerência com valores afirmados)

  - Edição Nº2462  -  4-2-2021

«A nossa prioridade é a saúde»

A saga dos contratos entre a Comissão Europeia e as seis multinacionais farmacêuticas com as quais contratualizou o fornecimento de vacinas contra o SARS-COV2 continua. Como sempre o grande capital age em função do lucro. O facto de as grandes farmacêuticas estarem a desrespeitar acordos estabelecidos, porque estão a vender vacinas a preços diferenciados, não nos deve surpreender. É a velha máxima: vender a quem dá mais. Num momento em que Portugal deveria usar de todas as suas «armas» diplomáticas que permitissem o acesso rápido e ao menor custo possível às vacinas, incluindo por acordo para produção no nosso País, aquilo que vemos é um país dependente de entendimentos e desentendimentos da Comissão Europeia com gigantes como a Pfizer ou a AstraZeneca. Dir-se-á que Portugal é um país pequeno, sem capacidade financeira para negociar com os gigantes farmacêuticos. E é exactamente por isso que Portugal deveria ter seguido outros caminhos.

Há um país, com uma população similar à nossa, que irá produzir 100 milhões de doses de uma vacina chamada «Soberana», tendo mais três em fases finais de testes. Não é um país rico e é alvo de um bloqueio económico há mais de 60 anos. Esse país, onde desde o início da pandemia morreram 213 pessoas, é Cuba. Irá não só assegurar a inoculação de toda a sua população, como irá assinar acordos, estatais, com países como o Vietname, Irão, Venezuela, Paquistão e Índia. A vacina será gratuita em Cuba, e será fornecida a outros países. Segundo os responsáveis cubanos «a estratégia de Cuba para comercializar a vacina é uma combinação humanitária e de impacto na saúde, aliada à necessidade de o sistema cubano apoiar (financeiramente) a produção de vacinas e medicamentos para o país»«Não somos uma empresa multinacional na qual o retorno [financeiro] é a razão número um. Trabalhamos diferente, a nossa prioridade é a saúde». Está tudo dito!

Ângelo Alves

quinta-feira, fevereiro 04, 2021

O vaci-negócio (e ilustração)

  - Edição Nº2462  -  4-2-2021


O vaci-negócio

A saga das vacinas COVID está a virar uma «bagunça» (Financial Times, 30.1.21). Em final de Janeiro, «apenas 2% da população adulta da UE recebeu as vacinas» (Guardian 28.1.21) e sucedem-se azedas trocas de acusações sobre responsabilidades. Mas extraordinários são mesmo os contratos entre governos das potências capitalistas e a grande indústria farmacêutica.

O New York Times publicou (28.1.21) um artigo com o título: «Governos assinam acordos secretos de vacinas: eis o que escondem», onde diz: «Os governos têm gasto milhares de milhões de dólares para ajudar as empresas farmacêuticas a desenvolver vacinas e estão a gastar milhares de milhões adicionais para comprar as doses. Mas os pormenores desses acordos permanecem em boa medida secretos». As transferências de fundos públicos são colossais: «A empresa de biotecnologia Moderna não apenas baseou a sua vacina em tecnologia desenvolvida por entidades públicas, como recebeu mil milhões de dólares em financiamentos estatais para desenvolver o fármaco. Em Agosto o governo fez uma encomenda inicial de vacinas no montante de 1,5 mil milhões de dólares. A empresa já disse que o projecto foi integralmente pago pelo Governo Federal. […] Mas apesar dos colossais investimentos do contribuinte, tipicamente as empresas farmacêuticas ficam detentoras da totalidade das patentes»! O artigo relata que os esforços de vários países para que essa «propriedade intelectual» seja levantada «permitindo a produção de vacinas por laboratórios genéricos» está «condenada ao fracasso pela oposição dos EUA e Europa [União Europeia], cujas farmacêuticas afirmam que as patentes, e os lucros que geram, são a seiva vital da inovação». Tese interesseira, contraditada pelo que o próprio artigo relata sobre a origem pública da tecnologia subjacente à vacina da Moderna.

O escândalo não acaba aqui: «Um dos elementos fundamentais dos contratos de vacinas – o preço por dose – é frequentemente censurado nas versões públicas dos contratos governamentais. As empresas consideram-no um segredo comercial. […] Ao insistirem que os preços sejam confidenciais, as farmacêuticas levam vantagem sobre os negociadores governamentais, que desconhecem os montantes que estão a ser pagos por outros países». Da mesma forma, «os tempos de entrega são considerados informação proprietária» e «nos Estados Unidos, as farmacêuticas estão protegidas de praticamente qualquer responsabilidade legal no caso das suas vacinas não funcionarem ou provocarem efeitos secundários sérios».

A ‘bagunça’ é também uma negociata que assegura lucros colossais às grandes farmacêuticas, independentemente da eficácia que as vacinas venham a revelar ou dos seus eventuais efeitos secundários. É no que dá a promiscuidade entre governos e grande capital. Veja-se Durão Barroso, que de Primeiro Ministro passou (pela porta da Cimeira das Lajes) para a Presidência do Conselho Europeu, a Goldman Sachs e agora também a Presidência da Aliança Global pelas Vacinas (GAVI) que o Jornal Económico (29.9.20) descreve como «uma parceria público-privada» de âmbito mundial onde também pontifica a Fundação de Bill Gates. Mas nestas «parcerias» o público paga e o privado lucra, seja qual for o resultado do serviço. É sempre assim quando manda o grande capital.

Jorge Cadima

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terça-feira, fevereiro 02, 2021

Presidenciais 2021 - sobre os resultados e o futuro próximo - 3

Ainda apresentaria (as eleições já vão longe) um 3º quadro, sobre os três distritos do Alentejo, pelo que sobre essas votações se disse e procurou alarmar 

Sendo certo que João Ferreira baixou perto de 4 mil votos nos três distritos, quase 20% (com a maior descida percentual em Évora), é errado (e por ser propositado erro, é mentira… e há tantos que nisso são pródigos) que o PCP tenha perdido a hegemonia, ou o primeiro lugar, porque nunca o PCP teve nem uma coisa nem outra.

Apesar das quedas na votação, bem inferiores às de Marisa (73,0%) e de Vitorino (30,7%), João Ferreira ficou em 3º lugar nos três distritos, bem à frente de Ana Gomes, enquanto Sampaio da Nóvoa fora 2º em toda a região, em 2016 – e é facto merecedor de relevo, até para as eventuais considerações sobre transferências de votos.

A manutenção do  3º lugar, a queda de votação de Marisa na soma dos 3 distritos (menos mais de 14 mil votos… mais ou menos) quase 4 vezes superior à de João Ferreira, e a baixa votação de Ana Gomes – com cerca de ¼ da votação de Sampaio da Nóvoa e de Maria de Belém em 2016 –, poderão ajudar a descortinar de onde se transferiram votos para a subida do Chega a 2º no Alentejo, e a comprovar como se manipula a informação, tornando quedas reais em catástrofes irrecuperáveis e amaciando ou desvalorizando verdadeiros trambolhões. 

Em resumo: o terrível PCP não foi esmagado no Alentejo, bem longe disso! Outros parecem tê-lo sido.



segunda-feira, fevereiro 01, 2021

Presidenciais 2021 - sobre os resultados e o futuro próximo - 2

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Num quadro 2, pode ver-se qual seria a comparação das votações de 2016 e 2021, retirada a votação na região da Madeira, situação real mas desequilibradora dado que o nosso candidato de 2016 foi Edgar Silva, natural da e vivendo na Madeira, o que fez com que a nossa votação nessa região tivesse ali aparecido empolada. Sem os números dessa região autónoma, João Ferreira teria subido 18 mil votos relativamente à anterior eleição (mais 11%), pelo que é um aspecto objectivamente muito relevante. Trate-se de um aspecto que se deve ser considerado nas análises, pela sua excepcionalidade (lembraria que, em diferentes eleições e a outra escala, nas “europeias” em que fui candidato – nunca como cabeça de lista – os votos na CDU subiram em Ourém).

...


e continuará...


Presidenciais de 2021 -sobre os resultados e o futuro próximo - 1

 A partilha no meu FB de uma muito esclarecedora entrevista com Jerónimo de Sousa sobre as presidenciais de 2021, levou-me a editar uma reflexão e um quadro, que trago a este blog num caminho inverso do habitual. Assim, partilho do meu FB (corrigindo erros...):


Estou a pensar em como é importante "ouver" a entrevista de Jerónimo de Sousa. Vem totalmente ao encontro de resultados que, desde 3ª feira, estou trabalhar (para informação própria e, se possível, fazer chegar a outros), com uma precisão e convicção que encoraja. Coragem que a alguns poderá ter momentaneamente faltado...



este trabalho a que me meti
não ficou, evidentemente,
por este quadro...
terá até muito mais longe
e aqui virão outros quadros e comentários.