sexta-feira, junho 01, 2007

Expliquem-me lá...

Como é que uma greve geral "tão insignificante" provocou tanta (disfarçada mas mas por isso menos evidente!) perturbação?
Porque é que uma greve geral, que até se insiste que geral não foi ..., obrigou a tantas medidas de pressão e coacção anteriores, a tanta baixa manobra intimidatória, a tudo o que não impediu a importância, e a reprecussão, que veio a ter?
Quais os motivos, incompreensiveis para quem foi dito ter sido a greve geral medida ao milésimo (13,77%!), que levaram tantos ministros e secretários de Estado a tanto virem dizer sobre o que nada diziam ter sido?
Porquê todo este enorme (mas contido ou envergonhado) esforço para se desvalorizar o que, no dizer de quem desvaloriza, não valeu nada, teria sido irrisório?
Se esta comunicação social, e alguns jornalistas em particular, com o seu comportamento inqualificável (de his master's voice), não deveriam saber a vergonha que os verdadeiros profissionais da comunicação social terão sentido face ao seu comportamento?
Que razões, ou ausência de conhecimento, ou informação viciada, ou receios, levaram tantos trabalhadores a não fazer greve geral estando de acordo com as suas razões e desejando e precisando que "isto", esta política, mude de rumo?
Lembro o Zeca e a formiga no carreiro, a tal que ia em sentido contrário mas que avisava mudem de rumo, mudem de rumo... já lá vem outro carreiro.

2 comentários:

GR disse...

Este desgoverno teve medo do dia 30!
Dia de Luta, dia da Grande Greve Geral!
Não me lembra de uma acção tão conturbada como esta Greve Geral.
Porém, a agitação não estave nos Grevista mas, no patronato, no governo!
Num dos piquetes de greve em que participei (a empresa fica numa zona erma), frente ao portão principal, há um pinhal. Os nossos carros ficaram estacionados na "quase" dentro do pinhal, quando a polícia chegou, de imediato começou a passar multas, perguntei qual a razão te tal atitude, prontamente um dos polícias respondeu: “está fora da faixa de rodagem!”, rimos tanto do ridículo que ele guardou o “livrinho”. Havia um ambiente pesado, devido à atitude patronal.
Uma coisa conseguimos com esta Greve, pôr os patrões e administradores a levantaram-se às 4 horas, para irem para a porta das empresas.
Sei também que os nomes dos grevistas da Câmara seguiu para o Departamento dos Recursos Humanos!
Não iremos baixar os braços com as atitudes fascistas deste governo, iremos combate-lo, reforçando a luta, porque,
A LUTA CONTINUA!

GR

Esquerda Comunista disse...

Apesar da precaridade que já afectará quase 1 milhão de trabalhadores (UM TERÇO dos assalariados), apesar do “sindicalismo” amarelo da UGT, apesar das ameaças, da opressão nas empresas, dos “serviços mínimos” que o governo impõe, a Greve Geral foi mesmo para a frente, paralisando inúmeras empresas e serviços do Estado!

Ao contrário da propaganda do governo e dos patrões, a Greve Geral mostrou o descontentamento profundo que grassa entre a classe trabalhadora portuguesa, mas não a unificou numa jornada de luta que mostrasse a todos, sobretudo a si própria, toda a sua força potencial. Apesar do seu carácter nacional, apesar de ter envolvido um milhão e quatrocentos mil trabalhadores, apenas tivemos meia-vitória: não foi possível paralisar o país.

A precaridade e o medo são obstáculos sérios… Mas temos de procurar outras razões que expliquem esta nossa meia-vitória, ou arriscamo-nos a nunca vir a ganhar o jogo, pois a precaridade, o medo, as pressões e os “serviços mínimos” estarão novamente presentes quando nova Greve Geral for convocada…

E novas jornadas de luta teremos pela frente, pois as movimentações que temos visto nos últimos meses são apenas o princípio da reentrada em cena da classe trabalhadora. Porquê? Porque nas acutais condições, o capitalismo não lhe deixará outra hipótese.

Todavia, porque tivemos, agora, uma meia-vitória? Não haverá descontentamento suficiente na sociedade portuguesa? Claro que sim, mas esse descontentamento deveria ter sido mobilizado em torno dum programa reivindicativo concreto e não foi isso que sucedeu.

Apelou-se à participação dos trabalhadores com um vago apelo à “mudança de rumo” nas políticas do governo. Logo aí, apesar do desgoverno a que temos estado sujeitos, a Greve Geral apresentava-se como uma greve contra o governo socialista. – e foi assim que muitos trabalhadores socialistas a encararam e dela se descartaram por não vislumbrarem alternativas ao actual estado de coisas…

Com efeito, exigir uma “mudança de rumo” ao nível da governação, deveria pressupor uma alternativa concreta, mas… onde está ela? Na verdade, nenhuma alternativa concreta, palpável, de esquerda existe ao actual governo.

O Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda, desavindos, sem serem capazes, sequer, de convergir na luta contra as políticas pró-capitalistas deste governo PS não podem ser considerados como uma “alternativa” ao actual governo.

Não apenas pela menor expressão eleitoral que têm – e deveriam os seus dirigentes reflectir sobre isto, sobre o extraordinário facto de que numa situação de grave crise económica e social, não serem capazes de serem um sério pólo de atracção ao descontentamento que existe -, mas sobretudo porque não têm uma real alternativa programática ao actual estado de coisas: uma alternativa socialista.

Não é preciso ser um guru na economia para compreender que, se aumentarmos os salários, a inflação subirá com eles; se reduzirmos a jornada laboral, os capitalistas não vão investir; se aumentarmos as verbas para as funções sociais do Estado, teremos de cobrar realmente os impostos aos capitalistas…. Mas assim, os capitais fugiriam do país! Se acabarmos com a flexibilidade e a precarização, as empresas vão para a Polónia, se… Mas é necessário continuar?

Qualquer trabalhador percebe os limites que o capitalismo impõe e, por isso mesmo, a maioria acaba por votar no partido socialista: onde se encontram os reformistas mais "consequentes" e que, ao contrários dos "reformistas de esquerda" (mais sonhadores, digamos) assumem plenamente a tarefa de bem gerir o sistema capitalista.
Todavia, porque vivemos numa época de reformistas sem reformas, de reformistas que lançam contra-reformas para poderem manter à tona o sistema capitalista mergulhado num impasse, precisamente por isso, é que se torna imperioso justapor uma alternativa socialista que garanta a subida dos salários e pensões, o aumento dos gastos sociais do Estado, a redução da jornada laboral, o fim da precaridade, o pleno emprego, etc. com aquelas medidas que podem – e só elas podem – garantir a concretização dessas reformas que as massas anseiam: a nacionalização da banca, do sistema financeiro, das grandes empresas e indústrias sob controle dos trabalhadores. Só assim se poderá gerir democraticamente a economia pelos e para os trabalhadores. Só assim se construirá um programa de transição para o socialismo.

Muitos dirão que “as massas não estão preparadas para esse tipo de ideias”. Todavia… Se os activistas mais conscientes não fizerem uma propaganda activa das ideias mais avançadas, como é que estas se formarão no cérebro dos trabalhadores? Espontaneamente? Bom… não somos anarquistas, pois não?

Depois – e sobretudo - as nacionalizações não são “ideias bonitas” que possam ser agendadas para as calendas gregas. Pelo contrário, são propostas que emergem da própria luta!

Quando uma multinacional ameaça em deslocalizar uma empresa, não fará sentido exigir a sua nacionalização sob controlo operário? Se quisermos resolver o problema da Habitação, não deveremos municipalizar o solo urbano e expropriar as empresas de construção civil para construir casas baratas e não edificar grandes lucros para os “pato-bravos”? Fará sentido deixar à “iniciativa privada” a agiotagem bancária quando as instituições de crédito deveriam servir o desenvolvimento económico e social do país? Seria assim tão difícil aos trabalhadores compreenderem que a propriedade privada no sector gasolineiro e petrolífero apenas engorda as contas bancários dos seus proprietários à custa dos preços altos da gasolina? Etc., etc., etc.

A maior das utopias não é reclamar a mudança radical, mas continuar a pensar que no seio do capitalismo, sem acabar com a propriedade privada dos grandes meios de produção e o mal chamado sistema de “livre concorrência” (como se os monopólios tudo não decidissem…), possam ser realizadas mudanças que satisfaçam efectivamente as necessidades das massas.

Significa isso que não se deve lutar por reformas? Claro que não! Devemos lutar por todas as conquistas possíveis para a classe trabalhadora, por todas as pequenas vitórias dentro do capitalismo, mas devemos também sempre, sem ocultar os nossos propósitos e fins – como insistiam Marx e Engels no Manifesto – explicar aos trabalhadores e à juventude que nenhuma conquista será irreversível e segura sem a aplicação de outras medidas que garantam a transição para o socialismo.
Construir esse programa, defender as ideias, os métodos e as tradições marxistas nas nossas organizações de classe, eis a tarefa que urge realizar.