terça-feira, julho 31, 2007

Depende do estado de espírito...

Quando, esta manhã, resolvi terminar com esta série final (não definitiva...) de No cavalo de pau... tinha duas ilustrações "em carteira". Dependia dos textos de acompanhamento dos parágrafos finais de Mestre Aquilino que saíssem. Sairam aqueles... E, por isso, saiu aquela/esta fotografia, da edição da Bertrand, que não refere a autoria das gravuras.
A que estava em alternativa, seria a que vai abaixo, de Dom Quixote contado às crianças (por Rosa Navarro Duran com ilustrações de Francesc Rovira, tradução de António Rebordão Navarro, edição da Campo das Letras). Mas o estado de espírito era outro... embora, por vezes muito com esta mais me identifique (e a que gosto de chamar "as tresleituras"... de que sou sujeito e atreito).



No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 5

Aquilino, ao assumir a tarefa de fazer dessa obra monumental que é D. Quixote uma versão - portuguesa - que a não desmerecesse, não se ficou por aí. Juntou-lhe um ensaio em que os povos e as nações se encontram nas diferenças que o tempo foi construindo e cimentando. Se "Cervantes leu o horoscópio da sua pátria numa hora de iluminado. E posto a pintar um louco sublime com tintas facetas, saiu-lhe, sim, a Espanha grandiosa e trágica", como termina "No cavalo de pau com Sancho Pança", Aquilino também teve a sua hora de iluminado (muitas teve...) e pintou o povo português, talvez "hispano europeizado", sempre europeu porque aqui nasceu, nunca espanholado por integração espúria. Apesar do garrote da economia e das finanças.
_____________________________
A nós, os portugueses, Keiserling não achou melhor que classificar-nos de espanhóis degenerados. Não é bem assim. Somos hispanos europeizados, ou evolutivos. Em verdade, a nossa terra apresenta grande unidade étnica. Se essa unidade se expressa, acima de tudo, por univalência psíquica, direi que o minhoto se parece tanto com o alentejano como o algarvio se diferencia do galego.
O bocado de massa que não levedou ao fermento castelhano, na grande masseira que é a Península, adquiriu personalidade distinta de estrato antropológico.
_______________________________





São os últimos parágrafos de No cavalo de pau... Acabo esta viagem. A ela voltarei porque apenas antecipei o seu final. Ao prazer que a viagem me foi dando (e a que regressarei quando a retomar), veio juntar-se alguma pena, algum amargor. São assim as viagens... Nunca sempre por caminhos em que só se olha em frente ou só para o que é belo e gozo nos dá.

segunda-feira, julho 30, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 4

Assim se chega, passo a passo, ao penúltimo passo. Nesta antecipação a que nos trouxe uma recente provocação que mais oportunas tornaram estas páginas do ensaio de Aquilino sobre D. Quixote . Talvez amanhá se publique a última (nota e página) para, depois, no blog Som-da-Tinta se retomar a tranquila que até aqui, depois nos trará de novo. E não será viajar estar sempre à procura dos lugares em que já estivemos ou quisemos ter estado?
________________________________________
Adeus, de Espanha nem bom vento nem bom casamento. O vento são as ideias particularistas, de alor filipino, as opiniões próprias o modo de ver o mundo. Não nos convém. Somos um povo pacato, incaracterístico, inimigo do absoluto, ao contrário do espanhol. Tudo entre nós é comedido, se quiserem, água de rosas e papas de linhaça. A Espanha é o D. Quixote, um homem eminentemente perigoso, como dizia o Canhoto estalajadeiro. Nada de tirar palhinha nem fraguar com ele. Exclamava Unamuno, num hotel vesgo de Hendaia: Temos de matar D. Quixote para que viva Alonso Quixano, o Bom. Então a Espanha entrará a valer no concerto das nações.
Cada espanhol traz dentro de si, pequeno ou grande, um Engenhoso Fidalgo, mais disfarçado, menos disfarçado. Toda a história de Espanha é a aventura do cavaleiro manchego. Está compendiada nas suas três surtidas. Escreve Manuel Pinheiro Chagas, com lúcida compreensão: “E a Espanha sente bem ali no D. Quixote a sua própria imagem. Ri-se dos seus entusiasmos mas sabe que pouco basta para lhos despertar de novo”.



_________________________________
Não (nos) parecerão muito agradáveis as ideias que, No cavalo de pau com Sancho Pança, Mestre Aquilino deixa dos portugueses. "Águas de rosas e papas de linhaça"... que é lá isso? empertigar-se-á o orgulho luso. Releve-se que é, apenas, para fazer o contraste com o absoluto dos nuestros hermanos, com o sempre eminente perigo que são, com a panela de ferro de que nos deveríamos precaver em vez de contra ela arremetermos, "panela de barro" que seremos. Como inimigos? Não. Como irmãos e vizinhos.

sábado, julho 28, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 3

Lisboa ao tempo da escrita de D.Quixote
- cidade e quase-capital da Ibéria
Mais um pequeno percurso, até à página 331, e quem sentiu em cada passo dado a vontade de parar, aqui não pode deixar de o fazer. Em duas pinceladas alguns traços (coloridos) sobre o povo português e a questão essencial da língua. Sem faltar o toque, leve e essencial, sobre o lusitano-galaico.
______________________________________
Não existia povo, no sentido de corpo social com sentimento de que vivia por virtude própria e segundo leis adequadas, mas uma rebanhada de famintos, espoliada primeiro pelos reis nacionais, sobretudo por D. Sebastião que precisou de dinheiro a todo o custo com que equipar o exército de África, e o cardeal-rei, que lançou derramas sobre derramas para resgatar fidalgos do cativeiro, nanja os mecânicos, que esses ou se naturalizaram moiros ou apodreceram cristãmente na escravidão, finalmente por Filipes e quadrilha, não menos rapaces que os governantes das dinastias legítimas.
Operou-se de novo a bipartição e julgamos que para todo o sempre. A datar daquele ano, as duas nações cada vez se apartaram mais em carácter, tendências e gostos. Na língua acima de tudo. (…)
A melhor forma de cimentar a etnicidade de um povo consiste na posse e uso de um idioma próprio. Ora dia a dia, com a evolução que se foi efectuando inelutável e profunda, mais o português se tornou português, tão longe do espanhol, repetimos, como do francês ou italiano. Longe vai a conjunção em que o castelhano se podia prevalecer do nosso idioma, como de um dialecto, o dialecto lusitano-galaico. Escapámos ao amplexo da boa-contrictor e só é pena que, derruído o solar da mãe celta, os dois filhos mais ocidentais, Portugal e Galiza, se olhem por cima de muros.
__________________________________
Por isso, se à Galiza fores em funções ou passeio (e vale bem a pena), português podes (ou deves?!) falar. Estarás em Espanha mas és português, e entender-te-ão esses espanhóis que, como galegos que são, até te agradecerão. E não farás a figura ridícula, em que os portugueses são contumazes, de arremedar outras línguas falando um português adulterado.

sexta-feira, julho 27, 2007

No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 2

Dei, em cima do cavalicoque, um pequeno salto. Passei à página 329. Pensando como se ajusta bem a história da panela de ferro e da panela de barro. Tendo os dois países negociado a um mesmo tempo a adesão às Comunidades Europeias, as negociações foram muito diferentes, e dessa altura, meados da década de 80, não me canso de lembrar a advertência de que a negociação nossa não salvaguardava os nossos interesses (especificidades lhes chamávamos), e que corríamos o risco não de nos "europeizarmos" (como se dizia) mas de nos "iberizarmos"... e como panela de barro. Até porque, da parte da Espanha, não foi assim, nunca foi assim. E continua a não ser. Não receiam ser "maus alunos".
___________________________________________
Cá e lá repetem-se horas por horas, cuidados por cuidados, ânsias por ânsias, como a água que corre nos dois territórios. Quando o Engenhoso Fidalgo se joga contra os rebanhos de carneiros que na sua fantasia alucinada toma pela hoste do soberbo Alifanfarrão, Sancho arranca do fundo do peito: Mal haya yo! O Zé Povinho usa de igual expressão nos desesperos e arrelias: - Malo haja!
Em que divergem? Pois, e profundamente, no psíquico. Parecendo-se de modo flagrante, todavia não são os mesmos. Isso que é imponderável, imensurado, inapreensível ao espéculo, germinou, cresceu, dispartiu-se de todo e formou tipos diferentes. Como? Vá lá saber-se como elaboram os cadinhos subterrâneos em matéria de antropologia! A pequena molécula bioquímica cá e lá, bafejada por ventos morais, desenvolveu-se noutra direcção. O português em suma não é o espanhol.
Portugal estaria para Cervantes no conceito de província que andara escapa à soberania do seu rei e voltava ao redil.
________________________________
Depois, Aquilino discorre de maneira admirável sobre o Tajo (gutural e incisivo, bruto) e o Tejo (doce e morna palavra, povoado por Cervantes com ninfas e dríades... e não tem tudo de ninfa Dulcineia?). Mas não se pode transcrever tudo! Por hoje, ficam estas duas antecipações.

No cavalo de pau com Sancho Pança - antecipação 1

No blog Som da Tinta tenho vindo a fazer uma "viagem", daquelas que muito gozo dão. Depois de uma releitura em livro descoberto num alfarrabista, comecei a transcrever trechos do ensaio de Aquilino Ribeiro, No cavalo de pau com Sancho Pança, e de alguns vim aqui trazer amostra. Já vou na "etapa" 44 e só ainda cheguei à página 208. E comecei a impacientar-me. E a procurar pôr o cavalicote a galopar. Porquê? Porque sabia que as últimas páginas vinham "mesmo a matar" para uma celeuma que aí se levantou... Por isso, resolvi aqui trazer essas últimas páginas, em antecipação, vindo a retomar o seu lugar no Som da Tinta quando chegar a altura. Serão 5 antecipações, e logo pela primeira se verá a razão desta pressa. Na página 327, dizia-nos Mestre Aquilino:
___________________________________________
Nós, que somos hispanos, no bom significado do termo latino e medieval, mas não espanhóis, como pretende Madariaga, quebrámos os vínculos políticos com Espanha em 1640, e não há que rever, nem por sombras, o gesto decidido dos nossos avós.
Para o castelhano das três dimensões, homem de touros e zarzuela, nunca se desvaneceu o sonho da união ibérica. Livrem-nos os fados de tal conjuntura! Alianças ou conúbios destes seriam como os da panela de ferro e da panela de barro, levadas na corrente de um rio. Nós, dum momento para o outro, poderíamos ficar escaqueirados. Olho no monstro: ainda quando nos aparece como filósofo salvador é sempre Caliban. Sem dúvida que aparentou sempre discursador da beatitude terrena em Deus do Céu.
Com Espanha – dizia Mazarin – são de desejar todas as boas relações de vizinhança. Mas fique-se na cortesia. Se ides mais longe, às duas por três, sem vos consultar, nem dar cavaco, o vosso aliado manda queimar as naus. Não que o faça sempre por trancafio, mas por orgulho, indómito orgulho, e que mais não seja para exercício da vontade, ou pôr à prova o estado da senhoria que lhe é visceral.
___________________________
Que tal? É apenas uma amostra. Amostra de um tema que, a propósito de vários momentos do livro de Cervantes, é abordado por Mestre Aquilino. Naturalmente. D. Quixote foi escrito e editado no período em que os Filipes eram reis de Portugal...

Assim sendo...

“Foi assim”, diz elaZita.
Ah! Foi? E terá sido assim que foi, para esta que ela é hoje, tão outra relativamente ao que ela era quando teria sido assim?
Por isso, assim conta que foi assim. Como se tivesse sido.
E há uma corteZita boba a acenar com a cabeça, a fazer vénias e salamaleques, a aproveitar-se do que ela escreve para dizerem: vêem como foi? Foi assim!
Mas… para quê gastar tanta cera com tão ruim defunta?
Talvez lá tenha de ser, como reacção necessária a toda a cera que é gasta para alumiar a defunta e tornar útil uma múmia.
Talvez.
Será que ao coro dos coiros há mesmo que responder com a verdade das coisas? E, por outro lado, a indignação perante certos comportamentos também não resiste a vir manifestar-se com veemência.
Cá por mim, para este consumo interno, e depois de tanto ter lido e ouvido, apenas deixo uma constatação e uma lembrança muito pessoal.
Foi assim comprovado que D. Zita, ao tempo em que assim teria sido alta dirigente do PCP, conspirava em reuniões e jantares em sua casa, às quartas-feiras com o Sr. Vital Moreira, que era já putativo secretário-geral, escolhido à revelia das regras estatutárias e democráticas de que o PCP se orgulha, noutros dias “em plena dissidência, jantava tudo lá em casa”, segundo disse na RTP1, que não lhe poupa antena.
E para que conspiravam?
Pois “para evitar o declínio sem remédio do PCP”, dizi(t)a ela; pois para “a superação da crise que, sem aquela (renovação do Partido), o conduzirá, a breve prazo, a um irreparável definhamento”, escreveu o vital Moreira.
Assim se explicará a enorme contrariedade que sofrem e denotam os então conspiradores por não verem comprovados, como tanto desejariam, o “declínio sem remédio”, o “irreparável definhamento” do PCP.
E assim se compreende que tanto se continuem a esforçar para que eles – "o declínio" e "o definhamento” – aconteçam.
Ainda acrescento, por mero desfastio, uma lembrança muito pessoal: como militante de base, participei, há uns 25/30 anos, numa iniciativa do PCP, em que a dirigente Zita Seabra coordenava uma secção, e coube-me a tarefa de ir para a mesa e de a secretariar.
Foi a única vez que nos cruzámos em tarefas partidárias, e foi uma experiência penosa.
Sempre convivi mal com o autoritarismo, a falta de respeito pelos outros, a prepotência, e mais ainda quando a postura “muito dura mas relações humanas”, “a frieza de um revolucionário” (“qualidades” para si invocadas por Zita Seabra em Foi assim!) são uma espécie de máscara que esconde a fragilidade de convicções, a falta de caboucos ideológicos, a ausência de um “gostar dos outros” que, estas sim, são – a meu ver, claro – as qualidades de quem quer ser revolucionário. Toda uma vida. Com os erros e as fraquezas que inevitavelmente a preencherão.

terça-feira, julho 24, 2007

Extracto (adaptado) de uma espécie de diário

(...)

Da Constituição de 1976, uma das coisas que retive, eu que era – e sou – leigo e fui atento admirador de quem teve a tarefa de a redigir e aprovar, foi que, dada a existência de vínculos entre empregadores e trabalhadores, e havendo o pressuposto – dado o sistema em que se vivia … e vive – de, nesse vínculo, a parte mais frágil ser a que está na posição de “empregado”, se constitucionalizou que a essência das normas deveria proteger essa mais desfavorecida parte da relação contratual.

&-----&-----&

Era, digamos, a “filosofia”.

&-----&-----&

Entretanto, a vida correu, a recuperação de privilégios foi uma cavalgada, pouco a pouco, legislação do trabalho a legislação do trabalho, se veio desvalorizando e precarizando o vínculo, sempre em prejuízo dos trabalhadores, na fronteira ou nos limites consentidos por essa “filosofia constitucional”.

&-----&-----&

Agora, os “patrões” das confederações patronais jogaram uma carta, uma carta forte, aproveitando o ambiente reformista (?) do poder político, deste governo: subverta-se, de vez, a Constituição e a sua “filosofia”.

&-----&-----&

Sob a capa falaciosa de uma igualdade contratual (ou de que as partes do vínculo têm a mesma força), exige-se que se protejam os empregadores, que se permita que se tratem os trabalhadores – a sua força de trabalho – como uma mera mercadoria.

&-----&-----&

Pior: que se faculte o despedimento da “mercadoria” pela justíssima causa de ter opiniões, opções político-partidárias, de tomar posições cívicas, de fazer greve, de se manifestar, de se sindicalizar (em certos sindicatos, claro…).

&-----&-----&

Onde é que já se viu uma mercadoria pensar! "Reprima-se a mercadoria que pense!"

&-----&-----&

"Mude-se a Constituição. Se for preciso…"

&-----&-----&

Há constitucionalistas prontos para essa tarefa. Ou frete.

&-----&-----&

E o sr. ministro do trabalho está a ver em que param as modas.

&-----&-----&

Atento, venerador e obrigado.

&-----&-----&

Tudo a bem da Nação!

No cavalo de pau com Sancho Pança - 43 (versão para anónimo do séc. xxi)

Por outras paragens continuo esta viagem. Por ela me perdendo e achando. Agora ando por onde Mestre Aquilino, no seu ensaio, nos vem contar das "controvérsias a quatro" que antecederam e acompanharam as aventuras do engenhoso fidalgo quando Alonso Quixano era ou a ele voltava para recuperar de tanta tareia que D. Quixote levava. Conversas com o bacharel (Sansão Carrasco), o barbeiro (Mestre Nicolau) e o cura (Pero Pérez). Controvérsias que assim contadas - sobretudo as que entretinham o cura e o bacharel, que o sempre futuro D. Quixote, "menos lido em teologia do que em novelística", coçava o toutiço que tantas voltas dava, e o barbeiro quase só ouvia - estariam bem em qualquer lugar (do livro) e em qualquer tempo (da história). Como neste estão.
________________________________________
A Alonso Quixano preocupava-o sobretudo o problema do mal (...) Simão Carrasco, um dia, à puridade, com brusquidão formulou o terrível raciocínio: bem e mal em si não existem. Bem e mal são os termos em que se processa a luta pela vida. (...) Ter mesa farta, fêmea ou fêmeas para o gozo, a habitação que convém, vestir-se condicentemente com as estações, ser respeitado e temido, eis grosso modo os requisitos que na vida da espécie e, gradativamente, na do indivíduo, determinam os actos do bem e do mal. Ora no dia em que o homem encontre a satisfação das necessidades fundamentais, sem recorrer à violência, ao suborno, ao esbulho mercê de qualquer espécie de predomínio, está esconjurada a peste do mal humano. O homem não será anjo, mas poderá chamar irmão ao seu semelhante.
- E o meu senhor que faz dos templos? - observou sem acrimónia, mas com ar dissaborido, o licenciado Pero Pérez, que ainda ouvira o resto da proposição.
- Resta sempre na vida muito de impenetrável que fornecerá ao homem um pretexto plausível para continuar a tremer maleitas metafísicas - respondeu Sansão Carrasco, com humor.
Para Alonso Quixano, admitindo que o homem, segundo a lição do Resgate, tivesse recuperado o gozo do livre arbítrio, desligado por conseguinte da condenação primeira, certas pessoas eram mais responsáveis do que nunca pelo mal que continuava a lavrar à superfície da terra. Sobretudo os poderosos, os fortes, esses que faziam a lei e articulavam a justiça, e os seus executores, que de coração venal ou leviano cometiam os maiores atropelos contra a humanidade.
Por isso mesmo Alonso Quixano, o Bom, se sentia impelido para a missão augusta que os livros de Cavalaria inculcavam.
_____________________________
Mas que estou eu a fazer? Não posso tanto transcrever. E estas são "viagens" para abrir apetites para leitura. Por isso me forcei a parar. E fui à vida. A outras vidas. Tão torto está o mundo, e eu deleitado à desmedida com a escrita sobre quem ensandeceu por tanto o ter querido endireitar. Na versão aquilina. Irresistível.

sábado, julho 21, 2007

Há coisas que muito esquecem a quem não aprendeu

O sr. José Pinto de Sousa, vulgo “primeiro ministro” e conhecido (embora não lá muito reconhecido) como “o engenheiro Sócrates, veio, com a sua arrogância peculiar, afirmar que não recebe lições sobre liberdade dos comunistas portugueses.
Já cá se sabia que “o engenheiro Sócrates” é avesso a receber lições, sobretudo dos comunistas portugueses. Aliás, ele faz parte daquela elite que não tem nada a aprender. Que, se calhar, nunca teve…
Mas é mesmo pena!
Esses tais comunistas portugueses têm muito a ensinar aos engenheiros Sócrates deste País sobre o que é a liberdade, como se luta por ela, o que se sofre ao perdê-la por por ela se lutar.

No cavalo de pau com Sancho Pança - 39

Aqui vou. Cavalicando. Contente por estar indo. Procurando o passo certo. Tanto caminho já feito e tanto caminho ainda falta. Vou na página 184 e não quero (porque não posso) transcrever todas as mais de 330 deste livro de maravilha(s).
_________________________________________

D. Quixote, não obstante as jaças de que está mareado, jaças observáveis num belo mármore se o examinarmos à lupa, é um livro eterno. Eterno como o herói, embora forjado com metal único, metal que só se encontra no subsolo psíquico de Espanha. E, por muito que o submetamos à pedra de toque gramatical, léxica, literária, fica pairando imune à análise mais severa e meticulosa. É que cavaleiro, não obstante os vínculos locais, está completo dentro de qualquer homem. Bastas vezes, sopitado como Durandarte sob os filtros de Merlim. Não raro, imóvel no fundo da jaula convencional, contemptor das leis morais e cívicas, e inveterado endireita do mundo torto.
_________________________________________

Por aqui paro. Não por longo ter sido o percurso, mas porque a frase "inveterado endireita do mundo" me obriga a parar. E a apear e a ficar uns momentos a reflectir sobre o mundo torto e a vontade (inveterada) de o endireitar.

(de O Som da Tinta)

Profecias e aleivosias

Como seria inevitável, até porque Saramago o quis provocar, as "profecias" do não-profeta sobre a integração de Portugal numa futura Ibéria, deram especulação e escândalo.
Por mim, tenho pena.
E pronto.
Ponto final seria.
Como nunca gostei de responder a provocações, também a esta (que, evidentemente, me não era dirigida) não reagiria.
Mas se se quisesse discutir o tema num plano sério de dinâmica macro-estrutural, do que representou como iberização o modo como foi negociada a adesão de Portugal às CE, de como assim se desserviu o povo português, estaria disposto, e até gostaria, porque é uma das minhas predilectas (pobres) reflexões.
Agora assim!...
O chorrilho de disparates e de abusos interpretativos que provocou a provocação, só por si tê-la-iam bem dispensado.
A título de exemplo, o Jornal de Leiria, na sua 3ª página, do Fórum (e editorial), escolheu para “Facto da semana” "Saramago defende que Portugal passe a ser província espanhola", o que é uma interpretação abusiva do que Saramago disse, e em resposta a uma pergunta.
E, entre os convidados a comentar a “ideia defendida por Saramago”, um senhor muito conhecido, muito mediático – Loureiro dos Santos, general – saiu-se com esta “(…) Em relação a essa posição de Saramago, ele fá-lo por razões de interesse próprio, o que aliás vem ao encontro da teoria leninista-marxista que ele professa. (…)”.
Se acho não merecerem discussão as "profecias de Saramago" (que se afirma "não-profeta"), incomodam-me as manifestações de ignorância arrogante como as do sr. Loureiro dos Santos, general.
E tudo isto, esta falta de seriedade, me faz pena.

quarta-feira, julho 18, 2007

Postalinhos de ontem...

...hoje (ontem...) foi um dia em que senti necessidade de escrever.
&-----&-----&
Mas não tive oportunidade.
&-----&-----&
Só agora, depois da reunião de direcção do JO, é que consegui alguma disponibilidade, mas queria ver se não entrava pela madrugada dentro.
&-----&-----&
Ando com um peso efemérico…
&-----&-----&
Durante o fim de tarde que estive na Som da Tinta, anotei o que chamei “temas”, e o primeiro de todos era sobre "aquilo que fui... quando me não reconheço no que era."
&-----&-----&
É que estive “entretido” – antes de (e sem conseguir) passar à escrita – a tropeçar em fotos do "tempo efemérico" (há um ano, precisamente…)
&-----&-----&
Não é fácil!...
&-----&-----&
A isto voltarei.
&-----&-----&
Porque a efeméride se prolonga…
&-----&-----&
Entretanto, mais temas tinha nas “notas”, a começar pela “grande vitória socialista” nas eleições em Lisboa.
&-----&-----&
É que o ambiente forjado de “grande vitória” agride a inteligência… de quem se quer minimamente informado.
&-----&-----&
A lista do PS teve menos de 30% (com mais de 62% de abstenção), de certo modo se repetindo a “cena” das presidenciais, com uma Helena Roseta a fazer o papel de Manuel Alegre.
&-----&-----&
(Ou terá sido o contrário?!)
&-----&-----&
Esta “gestão Sócrates” polariza em si (bemol?) e divide os exércitos próprios, promovendo o aparecimento de “independentes”.
&-----&-----&
E, por isso, para quem se propunha a maioria absoluta, que só com 9 vereadores, ter conseguido 6 é uma "g‘anda vitória", não há dúvida!
&-----&-----&
Além de que não ter conseguido que a sua “independente”, tivesse mais do 10,2% e 2 vereadores, o que não dá para conseguir maioria (6+2<9!)
&-----&-----&
No entanto, a "g’anda vitória" foi a enorme derrota do PSD, com o seu candidato oficial a não conseguir melhor que ser 3º, depois do seu candidato "dissidente" (o que é pior – para o respectivo partido – que candidato “independente”) tendo, os dois, 3+3 vereadores…
&-----&-----&
… e, também, a ainda maior derrota do PP ao quadrado, isto é, Partido Popular/Paulo Portas, com uma votação minúscula e 0-vereadores-0.
&-----&-----&
Pergunta-se ele, o PP2, como é que, em Portugal, se pode ser oposição, e vdiz que ai reflectir sobre isso!
&-----&-----&
Que estranha reflexão.
&-----&-----&
De qualquer modo, nós não o podemos ajudar, nós, os únicos que, como partido, soubemos responder quando, em Portugal, ser oposição era outra coisa… era ser resistência ao fascismo!
&-----&-----&
Daqui o que fica, tirado o folclore BE e do seu “Zé” que apregoava que fazia falta, e mais outros que tais?
&-----&-----&
Um resultado muito significativo da CDU, acima de 9,5% (que pena não se ter chegado aos dois dígitos!) e mantendo dois vereadores!
&-----&-----&
O que foi conseguido após uma campanha em que, talvez como em nenhuma outra, por razões circunstanciais a juntar às razões essenciais de sempre e cada vez mais presentes, se silenciou a campanha do único partido que está "fora do jogo", que “é esquerda”.
&-----&-----&
Num sentido claro para esta coisa de “ser de esquerda”, e que tem a ver com a raiz da expressão que a faz assimilar a ser de “outra classe” que não da que está no poder…
&-----&-----&
Desta, “da classe que está no poder”, são todos os outros, estejam em partidos, repartidos, independentes e dissidentes.
&----&----&
Havia mais "notas" e "temas", e mais escrevi, mas, para aqui e para agora, ficam estas.

sexta-feira, julho 13, 2007

A frase do dia

(já na madrugada...):

são tão piores uns como os outros!

segunda-feira, julho 09, 2007

Boas leituras!...

O psicanalista, professor, Osvaldo Campos de seu nome, tomou para si os males dos pacientes (e dos impacientes) e, por eles, os males do mundo.
Sentiu que agir era preciso. E veio logo a pergunta como agir?
A acção é a primeira regra. Depois, há a do tempo e a do modo, e surge logo a regra do perigo. Entretanto, insinuou-se a regra do dolo formando as cinco regras. Mas foi-se impondo uma última regra, que “eles” queriam definitiva, a regra do silêncio. Da sombra. Por isso, combateremos a sombra.
No entanto, o leitor lembra que há mais regras. Porque é preciso ir mais fundo na acção para que, no tempo e no modo, se vença o dolo quando se afronta o perigo e se querem quebrar o(s) silêncio(s).
Duas outras regras são indispensáveis: a da história, isto é, a da luta de classes (desde que e enquanto); e a do colectivo, a de tomar partido, a que Maria London grita para fazer coro com os passos batendo no chão do cemitério: “Deixem-me abraçá-los, milhões!”.
Assim é preciso. Para que não fique tudo como o agir "duma bondade defeituosa, uma bondade de parvo, uma justiça de doido”. De um homem só, psicanalista, professor. Só. Apenas com a companhia da ficção literária combatendo a sombra.

Quanto pesa uma alma?

Procurando outras perguntas, Combateremos a Sombra.


quarta-feira, julho 04, 2007

Postalinhos

“Dantes, o roteiro da arte moderna terminava em Madrid.
Agora começa em Lisboa”,
Sócrates dixit, eufórico, desbragado,
na entrega da colecção Berardo.

&-----&-----&

(quem e o quê se entregou a quem?!)

&amp;-----&-----&

Há gente assim!

&-----&-----&

Antigamente, gente desta pensava que depois de mim, o caos.

&amp;-----&-----&

Agora, gente desta também pensa que antes de mim, o deserto.

&-----&-----&

Construamos a frase:
EU sou o TUDO,
depois do NADA, do DESERTO,
e antes do CAOS, do NADA!

&amp;-----&-----&

Tanta ignorância e soberba incomoda,
mas não só.

&-----&-----&

Faz mossa.

&amp;-----&-----&

Porque há poderosos (e seus interesses… de classe)
que dela se aproveitam,
tornando os seus portadores e usufrutuários
em seus serventuários.

domingo, julho 01, 2007

Algumas "máximas" minimamente contraditadas - 3

(continuação)

Diz-se cada coisa… São o “máximo”! Vêm do “pinsamento” de Sócrates (e de quem o segue... ou de quem ele segue). Passam por verdades absolutas de tanto se repetirem. Mas têm de ser contraditadas por vezes à maneira de perguntas. O que se faz minimamente (em itálico, quando o que apetecia era soltar o vernáculo…).
.
O mérito, claro: o mérito! O mérito, e só o mérito. Que é lá isso da antiguidade ser um posto?! Já nem na tropa… (Mas quem avalia o outro, quem decide do mérito dos trabalhadores?) Ora quem haveria de ser? Os chefes. (Insisto: mas teria de haver critérios de avaliação do mérito alheio e aquilo que parece mais importante é fixar quotas. Só 5% podem ter desempenho excelente…) Claro! Se não fosse assim acontecia o que é costume: todos, ou quase todos, os trabalhadores a terem notação de excelente. (… dada por quem?) Ora… pelos chefes! (Quer dizer: os chefes, desde que tenham quotas são criteriosos na avaliação dos subordinados, sem quotas são maus avaliadores; ou seja, só são bons avaliadores se forem maus… para os trabalhadores!).

(continua)

Algumas "máximas" minimamente contraditadas - 2

(continuação)

Ouvem-se…) coisas que são o “máximo”. São ditadas pelo “pinsamento” de Sócrates (e “pinsadores" da mesma “escola”) reflectindo a epiderme da realidade. Há quem as aceite como se fossem a realidade profunda. Mas não o são! O que, minimamente que seja (o que se faz em itálico, embora apetecesse fazê-lo em vernáculo…) , tem de ser dito.

Aquilo que campeia, hoje, é a “calanzisse” dos trabalhadores, que só pensam em enganar os empregadores, acabado que foi, evidentemente, o tempo histórico da exploração do homem pelo homem (mas estes são pressupostos que a realidade desmente em toda a evidência!). Os empregadores não exploram os trabalhadores, estes é que estão sempre a tentar enganar os empregadores (sejam os privados, seja o Estado) [Do que não há dúvida é que, para se continuar a explorar, e para mais e melhor se explorar, há que convencer os cidadãos (a começar pelos trabalhadores por conta de outrem ou do Estado) que os trabalhadores só com bastão e cenoura é que funcionam, em particular os "funcionários públicos", como "eles" dizem. O bastão do desemprego e da precariedade, a cenoura das progressões por mérito!].

(continua)

Algumas "máximas" minimamente contraditadas - 1

Dizem-se (e ouvem-se…) coisas que são o “máximo”. Sobretudo a partir do “pinsamento socrático” (e de discípulos da “escola”). E passam por verdades absolutas de tão repetidas são. Mas há que as contraditar. Minimamente que seja (o que se faz em itálico, quando o que apetecia era fazê-lo em vernáculo…).

Reformar é preciso (mas não os trabalhadores, aqueles que à reforma tenham ganho o direito…). Uma reforma decisiva é a que substitui promoção por progressão nos trabalhadores da função pública. A primeira é consequência do tempo na carreira, a segunda é fruto do mérito. Progresso, sim!, promoção, não! (… mas não se deveriam complementar em vez de uma substituir a outra? Pelo tempo na carreira, e como um direito, ser-se-ia promovido; por mérito, progredir-se-ia!).

(continua)