No blog Som da Tinta tenho vindo a fazer uma "viagem", daquelas que muito gozo dão. Depois de uma releitura em livro descoberto num alfarrabista, comecei a transcrever trechos do ensaio de Aquilino Ribeiro, No cavalo de pau com Sancho Pança, e de alguns vim aqui trazer amostra. Já vou na "etapa" 44 e só ainda cheguei à página 208. E comecei a impacientar-me. E a procurar pôr o cavalicote a galopar. Porquê? Porque sabia que as últimas páginas vinham "mesmo a matar" para uma celeuma que aí se levantou... Por isso, resolvi aqui trazer essas últimas páginas, em antecipação, vindo a retomar o seu lugar no Som da Tinta quando chegar a altura. Serão 5 antecipações, e logo pela primeira se verá a razão desta pressa. Na página 327, dizia-nos Mestre Aquilino:
___________________________________________
Nós, que somos hispanos, no bom significado do termo latino e medieval, mas não espanhóis, como pretende Madariaga, quebrámos os vínculos políticos com Espanha em 1640, e não há que rever, nem por sombras, o gesto decidido dos nossos avós.
Para o castelhano das três dimensões, homem de touros e zarzuela, nunca se desvaneceu o sonho da união ibérica. Livrem-nos os fados de tal conjuntura! Alianças ou conúbios destes seriam como os da panela de ferro e da panela de barro, levadas na corrente de um rio. Nós, dum momento para o outro, poderíamos ficar escaqueirados. Olho no monstro: ainda quando nos aparece como filósofo salvador é sempre Caliban. Sem dúvida que aparentou sempre discursador da beatitude terrena em Deus do Céu.
Com Espanha – dizia Mazarin – são de desejar todas as boas relações de vizinhança. Mas fique-se na cortesia. Se ides mais longe, às duas por três, sem vos consultar, nem dar cavaco, o vosso aliado manda queimar as naus. Não que o faça sempre por trancafio, mas por orgulho, indómito orgulho, e que mais não seja para exercício da vontade, ou pôr à prova o estado da senhoria que lhe é visceral.
___________________________Para o castelhano das três dimensões, homem de touros e zarzuela, nunca se desvaneceu o sonho da união ibérica. Livrem-nos os fados de tal conjuntura! Alianças ou conúbios destes seriam como os da panela de ferro e da panela de barro, levadas na corrente de um rio. Nós, dum momento para o outro, poderíamos ficar escaqueirados. Olho no monstro: ainda quando nos aparece como filósofo salvador é sempre Caliban. Sem dúvida que aparentou sempre discursador da beatitude terrena em Deus do Céu.
Com Espanha – dizia Mazarin – são de desejar todas as boas relações de vizinhança. Mas fique-se na cortesia. Se ides mais longe, às duas por três, sem vos consultar, nem dar cavaco, o vosso aliado manda queimar as naus. Não que o faça sempre por trancafio, mas por orgulho, indómito orgulho, e que mais não seja para exercício da vontade, ou pôr à prova o estado da senhoria que lhe é visceral.
Que tal? É apenas uma amostra. Amostra de um tema que, a propósito de vários momentos do livro de Cervantes, é abordado por Mestre Aquilino. Naturalmente. D. Quixote foi escrito e editado no período em que os Filipes eram reis de Portugal...
Sem comentários:
Enviar um comentário