sexta-feira, novembro 14, 2008

Materialismo histórico - 35 (lucro)

Lucro é forma modificada da mais-valia. Na linguagem corrente, o lucro constitui o resultado tangível, material, de uma actividade económica qualquer. No capitalismo industrial, trata-se do acréscimo do capital investido durante um ciclo de reprodução desse capital. É a diferença entre D e D' após a passagem pela troca D-M e o processo produtivo de que resulta realizando-se M' como valor monetário através da troca por D'. Ou, em prática especulativa (o que não se deve confundir com distribuição), é a transformação de D a D' sem passar por (…P…), isto é, criação de riqueza.
O lucro depende da mais-valia. Primeiro, porque ele é, em si-mesmo, mais-valia, ou seja, a força de trabalho utilizada e não paga; depois, porque constitui um modo da existência concreta da mais-valia, e realiza-se, como capital-dinheiro, em várias formas: o lucro comercial, as rendas, os juros. Na prática especulativa, só se transfere mais-valia antes criada e apropriada.
Enquanto a mais-valia existe apenas na dimensão do capital variável, o lucro refere-se à totalidade do capital, pelo que é a mais-valia reportada ao conjunto do capital. Noutros termos (ou nos mesmos…), no processo produtivo, o capital total investido é a soma do capital constante (K), que são os edifícios, as máquinas os instrumentos, as matérias primas – os meios de produção, objectos e instrumentos de trabalho – mais o capital variável (V), a parte destinada à utilização da força de trabalho, e a mais-valia é parte de V e o lucro é parte de K + V.
Sendo epifenómeno da mais-valia, o lucro é elemento fundamental da mistificação do funcionamento do capitalismo:

  • porque, para o proprietário dos meios de produção, convertidos em capital-dinheiro que é investido para reprodução e acumulação, o lucro é criado pelo seu capital, e considera-o como fruto da sua actividade;
  • porque, para os economistas não-marxistas (mais contabilistas que economistas…), o lucro é o que resulta como benefício (ou prejuízo), como resíduo – o que se recebe menos o que se gasta –, compensa o risco assumido e está condicionado pela “conjuntura”.

Em ambos os casos o que se escamoteia é a exploração do homem pelo homem, uns possuidores dos meios de produção, outros apenas da sua força de trabalho.

Esta nota, necessariamente sumária (como todas, apenas pistas), é indispensável para se chegar à lei da baixa tendencial da taxa de lucro, o pé da mesa que falta.

11 comentários:

Anónimo disse...

Excelente!!

Sempre achei que lucro e mais-valia eram dois nomes para a mesma coisa. Afinal, não é bem assim! Fui enganado pelas aparências.

Justine disse...

Isto hoje exige duas leituras pelo menos...e trabalho de casa!Mas lá chegarei:))

Beijo, de cá!

samuel disse...

Alta explicação!
Claro que tem que se escamotear a exploração! Daí o aparecimento desta execrável "crisma" dos trabalhadores, pela igreja neoliberal, os quais passaram a chamar-se "colaboradores"...

Anónimo disse...

Os produtores de trabalho,começaram por ser obrigatóriamente e miserávelmente chamados de escravos, depois só trabalhadores, mais tarde colaboradores, e actualmente voltaram a ser escravos, mas, de luxo!
Porquê?
Então, já têm casa, carro,crédito, subcidio de almoço,resumindo têm tudo menos um salário justo!
Ó Stôr veja lá como é que me avalia!
Abraço

Maria disse...

Bem explicadinho. Mas vou voltar amanhã (daqui a bocado), para te reler. Porque tenho que ir ali rever umas notas de um curso que fiz há muito tempo...

Beijos

Anónimo disse...

Eles arranjam as mais variadas formas de fugir à realidade da exploração. Então essa do colaborador só serve para enganar quem não sabe um mínimo de português. Colaborador é aquele que trabalha com e não aquele que trabalha para ou é explorado po... Quano a maioria dos trabalhadores souberem a força que têm....

GR disse...

Uma matéria muito complexa, explicada de forma perceptível, só um professor como o Sérgio é capaz.
Lá estou eu a imprimir para nos tempos livres ler, estudar, acompanhada pelos teus livros “Pequeno Curso de Economia” da Colecção “Fora de Colecção”
Eu vou lá, só que muito devagar!

Bjs,

GR

Anónimo disse...

Nem o lucro é o que aqui tenta mostrar nem capital é o que tentou erradamente definir.
Com premissas erradas chega sempre a conclusões erradas.

Anónimo disse...

O anónimo disse, está dito!
Está tudo errado, as premissas e, logo, as conclusões. Vejam se descobrem o anónimo para ele dizer o que é certo.
O dicionário diz: Utilidade, vantagem, interesse; ganho. Proveito.
Serve?

Sérgio Ribeiro disse...

Obrigado pela sugestão de ir ao dicionário.
E lá está, entre outras coisas, que capital significa valor, cabedal, dinheiro.
A meu ver falta relação social, mas isto sou eu que tenho leituras perversas além das leituras dicionárias.
Abraços

Maria disse...

Voltei para te ler.
Uma e outra vez.
Obrigada!