Lucro é forma modificada da mais-valia. Na linguagem corrente, o lucro constitui o resultado tangível, material, de uma actividade económica qualquer. No capitalismo industrial, trata-se do acréscimo do capital investido durante um ciclo de reprodução desse capital. É a diferença entre D e D' após a passagem pela troca D-M e o processo produtivo de que resulta realizando-se M' como valor monetário através da troca por D'. Ou, em prática especulativa (o que não se deve confundir com distribuição), é a transformação de D a D' sem passar por (…P…), isto é, criação de riqueza.
O lucro depende da mais-valia. Primeiro, porque ele é, em si-mesmo, mais-valia, ou seja, a força de trabalho utilizada e não paga; depois, porque constitui um modo da existência concreta da mais-valia, e realiza-se, como capital-dinheiro, em várias formas: o lucro comercial, as rendas, os juros. Na prática especulativa, só se transfere mais-valia antes criada e apropriada.
Enquanto a mais-valia existe apenas na dimensão do capital variável, o lucro refere-se à totalidade do capital, pelo que é a mais-valia reportada ao conjunto do capital. Noutros termos (ou nos mesmos…), no processo produtivo, o capital total investido é a soma do capital constante (K), que são os edifícios, as máquinas os instrumentos, as matérias primas – os meios de produção, objectos e instrumentos de trabalho – mais o capital variável (V), a parte destinada à utilização da força de trabalho, e a mais-valia é parte de V e o lucro é parte de K + V.
Sendo epifenómeno da mais-valia, o lucro é elemento fundamental da mistificação do funcionamento do capitalismo:
- porque, para o proprietário dos meios de produção, convertidos em capital-dinheiro que é investido para reprodução e acumulação, o lucro é criado pelo seu capital, e considera-o como fruto da sua actividade;
- porque, para os economistas não-marxistas (mais contabilistas que economistas…), o lucro é o que resulta como benefício (ou prejuízo), como resíduo – o que se recebe menos o que se gasta –, compensa o risco assumido e está condicionado pela “conjuntura”.
Em ambos os casos o que se escamoteia é a exploração do homem pelo homem, uns possuidores dos meios de produção, outros apenas da sua força de trabalho.
Esta nota, necessariamente sumária (como todas, apenas pistas), é indispensável para se chegar à lei da baixa tendencial da taxa de lucro, o pé da mesa que falta.
11 comentários:
Excelente!!
Sempre achei que lucro e mais-valia eram dois nomes para a mesma coisa. Afinal, não é bem assim! Fui enganado pelas aparências.
Isto hoje exige duas leituras pelo menos...e trabalho de casa!Mas lá chegarei:))
Beijo, de cá!
Alta explicação!
Claro que tem que se escamotear a exploração! Daí o aparecimento desta execrável "crisma" dos trabalhadores, pela igreja neoliberal, os quais passaram a chamar-se "colaboradores"...
Os produtores de trabalho,começaram por ser obrigatóriamente e miserávelmente chamados de escravos, depois só trabalhadores, mais tarde colaboradores, e actualmente voltaram a ser escravos, mas, de luxo!
Porquê?
Então, já têm casa, carro,crédito, subcidio de almoço,resumindo têm tudo menos um salário justo!
Ó Stôr veja lá como é que me avalia!
Abraço
Bem explicadinho. Mas vou voltar amanhã (daqui a bocado), para te reler. Porque tenho que ir ali rever umas notas de um curso que fiz há muito tempo...
Beijos
Eles arranjam as mais variadas formas de fugir à realidade da exploração. Então essa do colaborador só serve para enganar quem não sabe um mínimo de português. Colaborador é aquele que trabalha com e não aquele que trabalha para ou é explorado po... Quano a maioria dos trabalhadores souberem a força que têm....
Uma matéria muito complexa, explicada de forma perceptível, só um professor como o Sérgio é capaz.
Lá estou eu a imprimir para nos tempos livres ler, estudar, acompanhada pelos teus livros “Pequeno Curso de Economia” da Colecção “Fora de Colecção”
Eu vou lá, só que muito devagar!
Bjs,
GR
Nem o lucro é o que aqui tenta mostrar nem capital é o que tentou erradamente definir.
Com premissas erradas chega sempre a conclusões erradas.
O anónimo disse, está dito!
Está tudo errado, as premissas e, logo, as conclusões. Vejam se descobrem o anónimo para ele dizer o que é certo.
O dicionário diz: Utilidade, vantagem, interesse; ganho. Proveito.
Serve?
Obrigado pela sugestão de ir ao dicionário.
E lá está, entre outras coisas, que capital significa valor, cabedal, dinheiro.
A meu ver falta relação social, mas isto sou eu que tenho leituras perversas além das leituras dicionárias.
Abraços
Voltei para te ler.
Uma e outra vez.
Obrigada!
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