sexta-feira, novembro 13, 2009

Entre vista - 2

Entre vista
a Todo o Mundo & Ninguém,
realizada em nenhures,
num dia destes, a qualquer hora
(parte 2)

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TM&N – Escandalizado não será o termo, mas lá que é estranho é…
Cá Eu – Será estranho dada a informação que a todo o mundo e a ninguém é instilada de forma sistemática e massacrante. Tem, por acaso, conhecimento dos resultados de uma recentíssima sondagem feita por um instituto de opinião dos Estados Unidos (www.pewglobal.org), vinte anos passados, e de que apenas há ecos em surdina?...
TM&N – Não, não temos… mas, afinal…, quem entrevista quem? Fale-me, por favor das efemérides, dessa tal RDA… foi lá quando ela existia?
Cá Eu – Tem razão… quando começo a conversar destas coisas, disparo…
Fui, sim senhor, fui a essa “tal RDA”, a Berlim, a Desden, antes e depois do 25 de Abril…
TM&N – … visitas oficiais, enquadrado em delegações, recebido para só lhe mostrarem o que era para mostrar…
Cá Eu – Engana-se. À RDA fui mais que uma vez, nunca como militante ou dirigente do PCP, fui (como a outros países “do Leste”, como à Bélgica, a Áustria, à Islândia), mais que uma vez, integrado no movimento pela Paz, pela coexistência pacífica, pela segurança e cooperação europeias, essas coisas terríveis que o chamado “mundo socialista” acolhia e estimulava, juntamente com católicos, de outras confissões religiosas, socialistas… se há que colocar etiquetas às pessoas que, então, defendiam o mesmo, ou seja, a Paz, partindo de posições ideológicas diferentes.
TM&N – E gostou do que via?
Cá Eu – De um modo geral, sim. E olhe que não levava antolhos nem óculos fumados. Sobretudo me agradavam os esforços que via ou pressentia para que o mundo viesse a ser outro, em paz, mais solidário, ao contrário do que encontrava cá pelos nossos lados.
TM&N – Mas… e a liberdade? E as igrejas fechadas? E as proibições? Isso não viu, claro…
Cá Eu – Isso não vi… claro! Por acaso, uma vez, em Budapeste, tivemos uma reunião – e não foi clandestina, foi acompanhado por católicos, também defensores da Paz, do desarmamento, e etc. e tal - com um alto dignitário da Igreja Católica, assim acima de bispo (não sei muito dessas hierarquias...), e o cardeal ou lá o que era mostrou-nos o “livro de assentos” dos actos religiosos, e disse-nos uma coisa que não esquecerei (sabe como a memória é selectiva, e esta escrevia…), “a verdade é que, aqui, a Igreja e o culto não são atacados se não se meterem na vida política, aqui não somos privilegiados ou protegidos… mas os locais de culto são-no, e o Estado cuida deles como património, alguns como monumentos nacionais… disso não nos podemos queixar…”
TM&N – E as pessoas, a gente da rua, os que fugiam para o Ocidente, os que, nesta efeméride, corriam todos os riscos para atravessar o muro à procura da liberdade?
Cá Eu – Que quer que lhe diga? Não tinham desemprego, tinham educação e saúde como direitos, tinham transportes públicos a preço da chuva - o mesmo bilhete a preço irrisório em Moscovo e em Odessa, isto comprovei eu! –, tinham cultura para todos e não nivelada por baixo, preparava-se um futuro diferente em condições muito difíceis, em muitos casos mal, muitas vezes cometendo-se erros ou que, hoje se avaliam – e muitos já então – como erros…

TM&N - ... espere aí, espere aí... tenho de mudar de cassette...

Cá Eu - Fazfavor... isso não é piada, pois não?...

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(segue no próximo e último número... e com outra cassette)

7 comentários:

Anónimo disse...

Acabada a 2ª Guerra, a populaçãp de Berlim viveu e circulou livremente por toda a cidade com várias redes de transporte ao seu dispor quer da parte leste quer oeste. Isto durou cerca de 15 anos, sem que as respectivas famílias e os cidadãos estivessem separados e proíbidos de circular. O muro de Berlim é uma obra indigna independentemente do regime que a edificou. A sua existência a partir de Agosto de 1961 é inqualificável e não tem justificação possível.

Sérgio Ribeiro disse...

anónimo?
que fáceis são as coisas...
Tal como comecei há dias (ou há séculos?) um texto: uns senhores, que mandavam no lado oriental, acordaram mal dispostos e, sendo como eram de má rez, decidiram vamos levantar um muro para lixar isto tudo.

Não falo mais sobre isto! Já disse, não disse? Até porque não quero justificar coisa nenhuma... mas não me venham com histórias da carochinha!

Ricardo disse...

Desculpem lá que eu já não estou a perceber...
Afinal a população circulava livremente... do ocidente para o leste e do leste para o ocidente? Ah!...
E então por que altura é que os EUA, a Inglaterra e a França se recusaram a integrar os «seus» sectores na República Democrática da Alemanha, de forma a que toda a população berlinense podesse circular, viver e trabalhar em conjunto? E já agora foram os terríveis comunas que decidiram criar um «estado fantoche» para pressionar e agredir o outro lado? A unificação dos sectores Americano, Inglês e FRancês deu-se como resposta à fundação da RDA, não foi?
O quê? Então a RFA é que surgiu primeiro? Não quero acreditar...
Mas os americanos, os ingleses e os franceses e a NATO (que foi criada para defender o ocidente do perigo vermelho, não foi? não?) tinham as suas tropas estacionadas na RFA e em BErlim Ocidental para garantir a circulação da população que tinham libertado do terror nazi, não foi? Bom, já não estou a perceber nada...

Anónimo disse...

De facto não percebe nada. A RDA foi fundada em 1949, depois dos "aliados" terem fundado à revelia dos acordos de Yalta a RFA. Todavia o muro só foi construído em 1961

Sérgio Ribeiro disse...

Só uma precisão. A República Federal da Alemanha (RFA) foi criada a 23 de Maio de 1949; a Epública Democrática Alemã em 7 de Outubro de 1949.
Talqual a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN ou NATO) que foi criada a 4 de Abril de 1949 para responder à criação do Pacto de Varsóvia... que foi assinado em 14 de Maio de 1955!
Anacronismos

Ricardo disse...

Anónimo (será o mesmo?)
Obrigado pelo esclarecimento... É que por vezes as histórias contam-se passando por cima de certas páginas... E assim, o lobo mau atacou o capuchinho vermelho e a avó só porque é lobo e, como tal, mau...

É que a criação da RFA, a manutenção da ocupação de Berlim Ocidental, a circulação de uma «nova»/«velha» moeda à revelia do restante território, a circulação de tanques por Berlim Ocidental, bem como, a manutenção de pontos de controlo, não fazem parte da história, tal como o capuchinho vermelho que saiu do trilho e seguiu pela floresta é completamente indiferente para a história...

Assim fico mais esclarecido pela análise pouco dialéctica da história dos vencedores... Dá jeito!

Anónimo disse...

Claro quando os argumentos históricos faltam, recorre-se a fábulas exóticas como a hist. do "capuchinho vermelho". Se calhar são os traumas de infância vividos que agora pesam na consciência política de muita gente saudosista das intervenções militares benignas com milhares de mortos ao serviço de "uma grande causa". Os Israelitas pensam o mesmo.