quarta-feira, janeiro 13, 2010

Aquilo a que chamam economia e a outra economia que é a economia

Não tinha intenção de voltar aqui hoje. Mas é lá possível, sendo eu economista, ou julgando-me economista, ficar calado no fim de um dia em que tanto li e ouvi sobre... economia, retoma, queda de salários reais, mais desemprego, Banco de Portugal, Vítor Constâncio, Banco Central Europeu!

É verdade que devo ter passado o "prazo de validade" (são 52 anos... com "carta de economista"), apesar dos esforços para me actualizar, mas acredito que o que se passa é que há uma coisa a que chamam economia e que economia não é. É outra coisa ou é economia-mais-qualquer-coisa. Parto, claro, do princípio que a ciência económica (cito um livrinho da UNESCO, e tudo "gente idónea", isto é, descomprometida com subversões e subserviências ideológicas) é uma ciência social, é "a ciência que estuda o comportamento humano como relação entre certos fins e os meios limitados utilizáveis de modos diversos" (Lionel Robbins, Essays).

Então, sendo assim,

1. reproduzo de um "jornal de referência":

A economia está a crescer, mas os salários reais e o emprego ainda caem
Por Sérgio Aníbal

A retoma já chegou, garante o Banco de Portugal, com um crescimento de 0,7 por cento este ano e de 1,4 por cento no próximo. Mas há más notícias que se mantêm

----Endividamento externo volta a bater recordes
----Banco de Portugal pede austeridade

2. pergunto: que economia é esta?, que outro nome lhe dar (finanças, negócios)?, ou que adjectivo lhe acrescentar (capitalista)?

3. respondo com o que li e disse (em aparte) (sic) na apresentação do tomo V de O Capital:

«(...) como se pode ler em Teorias sobre a mais-valia (ainda não traduzido, por isso livremente citado)
“Não há limite à procura e ao emprego do capital enquanto houver lucro {como via de acumulação de capital, tenha ele a forma que tiver}. Por mais abundante que se torne o capital, não há senão uma razão suficiente para a baixa dos lucros: a alta dos salários.”
......(decerto Vítor Constâncio leu uns parágrafos de Karl Marx… para mau uso, diga-se...)
Mas, mais relevante para a questão da exploração, identitária do modo de produção, é a do desemprego, desta aparente fatalidade que chega galopante quando os lucros (financeiros) baixam e acelera o galope quando se anunciam “retomas económicas” e se concentram capitais.
Trata-se de elemento estratégico do capitalismo, de stock da mercadoria força de trabalho, de exército laboral de reserva. (...)»

4. O responsável-mor pela entidade reguladora é, ainda!, Vítor Constâncio. Não o acuso de nada (nem do facto de receber tantos milhares de euros ao fim do mês), mas pergunto: é prémio ao seu trabalho de fiscalização e controlo dos BPN e BPP a ida/promoção para o Banco Central Europeu (e mais 20% acrescido aos seus elevadísimos réditos, ele o campeão da moderação salarial, da austeridade... para os trabalhadores)?

5. Nem respondo...

6. Pergunto: retoma?, da economia?, de que economia?

7. Respondo, pelo Zé Povinho:


6 comentários:

Maria disse...

Tu, com prazo de validade passado?
O chefe do BP é que devia ter mais consciência. Para não dizer outra coisa.

Fica tudo tão mais claro com o que escreves... Obrigada!

Um abraço

Justine disse...

Claríssimo! E acompanho-te no gesto:))

cristal disse...

Faço meu também o gesto!

Graciete Rietsch disse...

Eu sou mesmo ignorante em Economia, e noutras coisas também, mas entendi muito bem o que escreveste e deste-me argumentos para responder aos que ,com contas de somar e subtrair, concordam com a retoma do Vítor Constâncio.
Um beijo.

samuel disse...

Os homens têm que começar a apresentar "bons resultados"... para justificar o mar de sacrifícios que ainda temos pela frente.

Abraço.

Pedro Penilo disse...

A despropósito, se te apetecer, aqui tens matéria para comentar:

“Numa economia não estatizada, a livre concorrência permite que os produtos cheguem mais baratos ao consumidor. ”

http://arrastao.org/economia/as-virtudes-do-liberalismo-economico/#comments

Um abraço