«(...) Pois, neste debate, venho dizer que a economia para a União Europeia, com esse ou outro nome, poderia ser nem liberal, nem keynesiana, nem um casamento apressado este as duas para que Keynes (talvez à sua revelia) estaria sempre disponível com a missão de evitar males maiores ou, dizemos nós…, os adiar para maiores males.
É verdade que, na institucionalização do processo de integração, estamos num momento de interrogações. Redutoras ou não.
O chamado Tratado de Lisboa, sendo um documento sectariamente neo-liberal no que respeita à economia, constitucionalizando a ideologia da economia de livre mercado (que se monopoliza, que concentra e centraliza o capital, que cria libertinos lugares off-shores, quer dizer, fora das costas ou nas costas de qualquer regulação), terá de ser compatibilizado com intervenções de tipo keynesiano.
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Mas estas são as mudanças para que tudo continue na mesma. São as injecções de capital-dinheiro, feitas com dinheiro fictício ou simbólico, cada vez com menor base material e maior desvalorização da economia real, é o avolumar do crédito até à demência no negócio de passar de dinheiro a mais dinheiro sem que algo seja criado na esfera produtiva.
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Tarde ou cedo, e tudo depende do tempo que leve a tomar-se consciência da necessidade vital de verdadeiras mudanças, terá de haver rupturas, tarde ou cedo se sairá do “anel de fogo” liberalismo ou keynesianismo, do primado absoluto da competitividade como valor absoluto, da dita iniciativa privada livre – outro nome para o capitalismo –, tão livre até à libertinagem que exige intervenções contrariando a pureza teórica do liberalismo.
.É verdade que, na institucionalização do processo de integração, estamos num momento de interrogações. Redutoras ou não.
O chamado Tratado de Lisboa, sendo um documento sectariamente neo-liberal no que respeita à economia, constitucionalizando a ideologia da economia de livre mercado (que se monopoliza, que concentra e centraliza o capital, que cria libertinos lugares off-shores, quer dizer, fora das costas ou nas costas de qualquer regulação), terá de ser compatibilizado com intervenções de tipo keynesiano.
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Mas estas são as mudanças para que tudo continue na mesma. São as injecções de capital-dinheiro, feitas com dinheiro fictício ou simbólico, cada vez com menor base material e maior desvalorização da economia real, é o avolumar do crédito até à demência no negócio de passar de dinheiro a mais dinheiro sem que algo seja criado na esfera produtiva.
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Tarde ou cedo, e tudo depende do tempo que leve a tomar-se consciência da necessidade vital de verdadeiras mudanças, terá de haver rupturas, tarde ou cedo se sairá do “anel de fogo” liberalismo ou keynesianismo, do primado absoluto da competitividade como valor absoluto, da dita iniciativa privada livre – outro nome para o capitalismo –, tão livre até à libertinagem que exige intervenções contrariando a pureza teórica do liberalismo.
A vida não se compadece com teoria… se esta não se renova com aquela. Na prática, a teoria é outra, era o título de um livro que há muitos anos li. Mas a prática social não é o pragmatismo, a ausência de teoria, ou a ideologia do fim das ideologias. A prática social, as dinâmicas e caminhos da vida – e da economia, claro – imporão mais que as alternâncias redutoras.
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No processo que nos trouxe até esta União Europeia ilustram-se essas dinâmicas. Foi em resposta (de classe) a problemas objectivos decorrentes do desenvolvimento das forças produtivas que surgiu a integração económica da união aduaneira e da PAC e que, de certo modo, conflituou e veio a absorver o esboço de réplica da cooperação nas indústrias e na criação de zonas de comércio livre, ensaiado na EFTA.
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Até começos da década de 70 do século passado teria sido esse o seu acento tónico, com a passagem de 6 a 9 Estados-membros, e de acordos comerciais e de associação.
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Então, foi o vazio criado pela decisão unilateral da inconvertibilidade do dólar, deixando a economia mundial, cada vez mais internacionalizada, orfã de um sistema monetário e a primeira (se primeira foi…) crise do petróleo, e foi o começo, nos países desenvolvidos, e decorrendo da confirmação das leis tendenciais da economia capitalista, do desemprego, primeiro como “novidade”, sempre como variável estratégica. (Sendo a ordem dos facto(re)s arbitrária porque inter-relacionados nas origens e consequências…)
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Nesse momento (na História), em paralelo com a monetarização e o liberalismo, sempre no quadro da relação de forças na luta de classes, o processo de integração económica arrancou, através de alargamentos sucessivos, com a linha estratégica de um núcleo super-integrado e de uma coroa periférica, tendo essa mesma luta levado à moderação, aquando da criação do mercado interno, através da adopção de um objectivo da coesão económica e social, simultânea com a entrada de Portugal e da Espanha, visando também a Grécia e a Irlanda, entre os 12.
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Com a queda dos países socialistas, episódio dessa luta de classes (o que não quer dizer que não seja enormemente significativo), com a criação da Organização Mundial do Comércio, com a dita globalização, foi um novo arranque para a União Económica e Monetária e para a União Política, a primeira na sequência do mercado interno, a segunda como consagração supra-nacional do processo, com todos os engulhos que se conhecem, alguns que se pode dizer que foram surpreendentes face às facilidades que se esperariam e obrigaram a expedientes evidentemente pouco democráticos, desrespeitando regras que, no início e no decurso do processo, eram (digamos) “de ouro”, como a da necessária ratificação e unanimidade, desprezando ou ignorando identidades e soberanias nacionais. Coisas velhas, obsoletas, dirão…, mas que servem, perversamente, quando se trata de acirrar rivalidades nacionalistas.
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No processo que nos trouxe até esta União Europeia ilustram-se essas dinâmicas. Foi em resposta (de classe) a problemas objectivos decorrentes do desenvolvimento das forças produtivas que surgiu a integração económica da união aduaneira e da PAC e que, de certo modo, conflituou e veio a absorver o esboço de réplica da cooperação nas indústrias e na criação de zonas de comércio livre, ensaiado na EFTA.
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Até começos da década de 70 do século passado teria sido esse o seu acento tónico, com a passagem de 6 a 9 Estados-membros, e de acordos comerciais e de associação.
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Então, foi o vazio criado pela decisão unilateral da inconvertibilidade do dólar, deixando a economia mundial, cada vez mais internacionalizada, orfã de um sistema monetário e a primeira (se primeira foi…) crise do petróleo, e foi o começo, nos países desenvolvidos, e decorrendo da confirmação das leis tendenciais da economia capitalista, do desemprego, primeiro como “novidade”, sempre como variável estratégica. (Sendo a ordem dos facto(re)s arbitrária porque inter-relacionados nas origens e consequências…)
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Nesse momento (na História), em paralelo com a monetarização e o liberalismo, sempre no quadro da relação de forças na luta de classes, o processo de integração económica arrancou, através de alargamentos sucessivos, com a linha estratégica de um núcleo super-integrado e de uma coroa periférica, tendo essa mesma luta levado à moderação, aquando da criação do mercado interno, através da adopção de um objectivo da coesão económica e social, simultânea com a entrada de Portugal e da Espanha, visando também a Grécia e a Irlanda, entre os 12.
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Com a queda dos países socialistas, episódio dessa luta de classes (o que não quer dizer que não seja enormemente significativo), com a criação da Organização Mundial do Comércio, com a dita globalização, foi um novo arranque para a União Económica e Monetária e para a União Política, a primeira na sequência do mercado interno, a segunda como consagração supra-nacional do processo, com todos os engulhos que se conhecem, alguns que se pode dizer que foram surpreendentes face às facilidades que se esperariam e obrigaram a expedientes evidentemente pouco democráticos, desrespeitando regras que, no início e no decurso do processo, eram (digamos) “de ouro”, como a da necessária ratificação e unanimidade, desprezando ou ignorando identidades e soberanias nacionais. Coisas velhas, obsoletas, dirão…, mas que servem, perversamente, quando se trata de acirrar rivalidades nacionalistas.
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Sei que estou a chegar ao termo do tempo concedido. A respeitá-lo me ensinaram 11 anos no Parlamento Europeu (e não só!). Por isso, passo já ao fim da intervenção e à resposta directa à pergunta directa.
Que economia para a UE: liberal ou keynesiana?
Lutamos, aqui e na União Europeia, por outra economia. Porque há outra economia, porque pode vir a haver outra União Europeia, de Estados-membros soberanos partilhando algumas competências no respeito mútuo, fazendo prevalecer a cooperação e a solidariedade, articulando o aproveitamento dos recursos através do trabalho para um melhor viver dos povos.
É possível!»
Que economia para a UE: liberal ou keynesiana?
Lutamos, aqui e na União Europeia, por outra economia. Porque há outra economia, porque pode vir a haver outra União Europeia, de Estados-membros soberanos partilhando algumas competências no respeito mútuo, fazendo prevalecer a cooperação e a solidariedade, articulando o aproveitamento dos recursos através do trabalho para um melhor viver dos povos.
É possível!»
3 comentários:
Acabei de ler o post. Gostei e compreendi tudo. Grande economista
e grande profrssor.
Um beijo.
Claro está que há outra economia. O problema é que eles,os outros, não querem saber...
Gostava de ter 'ouvisto' ao vivo...
Aprender, sempre1
Obrigada, Sérgio e um abraço
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