1º excerto da minha intervenção na Conferência Europa dos valores, no 3º debate (que economia para a UE: liberal ou keynesiana?), na Universidade Lusófona, Porto:
«Agradeço, em nome do Partido Comunista Português, o convite para este debate sobre que economia para a União Europeia, tema que nos parece do maior interesse, oportunidade, pertinência.
No entanto, o título não se fica por aí, coloca dois pontos, um em cima do outro (podiam ser três, uns ao ladinho dos outros) e uma escolha a anteceder um outro ponto, o ponto de interrogação.
Que economia para a U.E: liberal ou keynesiana?
O título tem todo o ar de ser uma provocação a este convidado para o debate, em nome do Partido Comunista Português e membro do seu Comité Central (diz-se no programa). Mas… sei que não é.
Como além dessa qualidade (se qualidade é), sou economista e estive 11 anos em deputado no Parlamento Europeu, a minha intervenção vai ter de ser a resposta à provocação que sei não ter a intenção de o ser.
Aliás, pegando-lhe de outra maneira, objectivamente nem o será. Ou melhor: parece mais uma confissão ou auto-denúncia.
Será que a economia para a União Europeia só pode ser liberal ou keynesiana?
Então… se a economia não for liberal nem keynesiana não haverá economia para a União Europeia?, ou, mais radicalmente, deixa de haver União Europeia?
Se assim fosse, seria a confirmação (e não dada por nós, PCP!...) da posição que temos tomado, desde sempre, desde Roma (e antes…), a de que este processo de integração económica, em Roma formalmente iniciado, é uma resposta de classe a problemas reais, objectivos. Que é um processo dominado por e/ou ao serviço de uma classe!
Por mim, recuso a dicotomia neo-classissismo/keynesianismo que esgotaria a ciência económica e a economia política, ainda que com cambiantes e sub-correntes, como liberalismo, Friedman, monetarismo, escola austríaca (Hayek), Hicks, Samuelson, nova síntese neo-clássica com keynesianismo e etc..
Trata-se de redutora posição sobre a economia, é ideológica, e a ideologia toma expressão, na União Europeia, deixando de fora o rabinho do livre mercado, apenas se concedendo a possibilidade, mitigada e só quando e enquanto há explosões de crise, de regulação e intervenção estatais, então ressuscitando Keynes e procurando sínteses, ou casamentos, ou uniões civis entre liberalismo e keynesianismo.
O que quero deixar bem claro é que, para nós, a economia, quer para a União Europeia, quer para Portugal, quer para o mundo, não se reduz à alternativa (ou alternância) de ser liberal ou keynesiana.
É certo que, ao longo de todo o percurso do processo de integração, historicamente curto apesar de ter meio século, de ter passado de 6 a 27 Estados-membros, de ter coexistido com transformações de grande significado no contexto inter-nacional, diria na luta de classes, tem predominado a “economia de mercado”, que coloquei entre aspas e assim é chamada para não se lhe chamar capitalista.
Mas nós chamamos, porque, na nossa concepção, há mais economia, outra que capitalista não é, que capitalista terá de deixar de ser por não ser esta, a economia capitalista, o fim da história.
Não o capital como factor de produção mas, sublinho, como relação social.
Muitos acusarão esta posição de ultrapassadas, ma a crítica à economia política capitalista é, a nosso ver, a única que dá chaves para a compreensão da economia que vivemos. E alguns o dizem, ou pensarão, ainda que não sejam marxistas ou não militem como comunistas.
E se, nos períodos de explosão da crise, para além de se ressuscitar Keynes, com várias reincarnações, renasce o interesse pela leitura de Marx, que não morreu, e quem o ler – e digerir, o que nem sempre é fácil – não pode aceitar a vossa pergunta redutora, embora se entenda que, com esta União Europeia, a pergunta seja adequada.
Mas então, haverá quem pergunte, que faz lá, na União Europeia, quem recusa que a economia seja, só, liberal ou keynesiana?
Luta! Luta por aquilo que defende, com as armas que tem. As armas da discussão, do debate, da tomada de consciência.
Pois, neste debate, venho dizer que a economia para a União Europeia, com esse ou outro nome, poderia ser nem liberal nem keynesiana, nem um casamento apressado para que Keynes (talvez à sua revelia) estaria sempre disponível com a missão de evitar males maiores ou, dizemos nós…, os adiar para maiores males. (...)»
No entanto, o título não se fica por aí, coloca dois pontos, um em cima do outro (podiam ser três, uns ao ladinho dos outros) e uma escolha a anteceder um outro ponto, o ponto de interrogação.
Que economia para a U.E: liberal ou keynesiana?
O título tem todo o ar de ser uma provocação a este convidado para o debate, em nome do Partido Comunista Português e membro do seu Comité Central (diz-se no programa). Mas… sei que não é.
Como além dessa qualidade (se qualidade é), sou economista e estive 11 anos em deputado no Parlamento Europeu, a minha intervenção vai ter de ser a resposta à provocação que sei não ter a intenção de o ser.
Aliás, pegando-lhe de outra maneira, objectivamente nem o será. Ou melhor: parece mais uma confissão ou auto-denúncia.
Será que a economia para a União Europeia só pode ser liberal ou keynesiana?
Então… se a economia não for liberal nem keynesiana não haverá economia para a União Europeia?, ou, mais radicalmente, deixa de haver União Europeia?
Se assim fosse, seria a confirmação (e não dada por nós, PCP!...) da posição que temos tomado, desde sempre, desde Roma (e antes…), a de que este processo de integração económica, em Roma formalmente iniciado, é uma resposta de classe a problemas reais, objectivos. Que é um processo dominado por e/ou ao serviço de uma classe!
Por mim, recuso a dicotomia neo-classissismo/keynesianismo que esgotaria a ciência económica e a economia política, ainda que com cambiantes e sub-correntes, como liberalismo, Friedman, monetarismo, escola austríaca (Hayek), Hicks, Samuelson, nova síntese neo-clássica com keynesianismo e etc..
Trata-se de redutora posição sobre a economia, é ideológica, e a ideologia toma expressão, na União Europeia, deixando de fora o rabinho do livre mercado, apenas se concedendo a possibilidade, mitigada e só quando e enquanto há explosões de crise, de regulação e intervenção estatais, então ressuscitando Keynes e procurando sínteses, ou casamentos, ou uniões civis entre liberalismo e keynesianismo.
O que quero deixar bem claro é que, para nós, a economia, quer para a União Europeia, quer para Portugal, quer para o mundo, não se reduz à alternativa (ou alternância) de ser liberal ou keynesiana.
É certo que, ao longo de todo o percurso do processo de integração, historicamente curto apesar de ter meio século, de ter passado de 6 a 27 Estados-membros, de ter coexistido com transformações de grande significado no contexto inter-nacional, diria na luta de classes, tem predominado a “economia de mercado”, que coloquei entre aspas e assim é chamada para não se lhe chamar capitalista.
Mas nós chamamos, porque, na nossa concepção, há mais economia, outra que capitalista não é, que capitalista terá de deixar de ser por não ser esta, a economia capitalista, o fim da história.
Não o capital como factor de produção mas, sublinho, como relação social.
Muitos acusarão esta posição de ultrapassadas, ma a crítica à economia política capitalista é, a nosso ver, a única que dá chaves para a compreensão da economia que vivemos. E alguns o dizem, ou pensarão, ainda que não sejam marxistas ou não militem como comunistas.
E se, nos períodos de explosão da crise, para além de se ressuscitar Keynes, com várias reincarnações, renasce o interesse pela leitura de Marx, que não morreu, e quem o ler – e digerir, o que nem sempre é fácil – não pode aceitar a vossa pergunta redutora, embora se entenda que, com esta União Europeia, a pergunta seja adequada.
Mas então, haverá quem pergunte, que faz lá, na União Europeia, quem recusa que a economia seja, só, liberal ou keynesiana?
Luta! Luta por aquilo que defende, com as armas que tem. As armas da discussão, do debate, da tomada de consciência.
Pois, neste debate, venho dizer que a economia para a União Europeia, com esse ou outro nome, poderia ser nem liberal nem keynesiana, nem um casamento apressado para que Keynes (talvez à sua revelia) estaria sempre disponível com a missão de evitar males maiores ou, dizemos nós…, os adiar para maiores males. (...)»
5 comentários:
Viva Sérgio!
Belo começo de intervenção. És capaz de enviar-me o resto? Nem fazes ideia a ajuda que me estás a dar neste momento com estas tuas, sempre, opurtunas reflexões sobre o pensamento económico, ou melhor, sobre a economia política.
Muito honrado pelo pedido! vai já...
Um abraço
Eu espero... mas quero que publiques o resto. Extremamente elucidativo, como sempre.
Parabens camarada por esta introdução como será a intervenção?
Gostava de a ler e ser capaz de a assimilar bem. Um beijo.
Excelente o início da tua intervenção. Vou esperar pelo próximo capítulo.
Abraço
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