Preparava uns trabalhos, e tropecei nesta edição (de 1946) da obra de Marx, Miséria da Filosofia, de 1847 (antes do Manifesto!), resposta a Filosofia da Miséria, de Proudhon. Fiquei folheando, passando os olhos e os dedos pelas páginas amarelecidas, e não resisti a transcrever estas linhas das páginas 98 a 100 (na sétima e última observação, do ponto 1. O método do capítulo II. A metafísica da economia politica):
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Quanto mais o carácter antagónico se evidencia, mais os economistas, os representantes científicos da produção burguesa, se embrulham na sua própria teoria, e diferentes escolas se formam.
Temos os economistas fatalistas que, na sua teoria, são tão indiferentes ao que chamam os inconvenientes da produção burguesa como os próprios burgueses o são, na prática, aos sofrimentos dos proletários que os ajudam a adquirir riquezas. Nesta escola fatalista, há os clássicos e os românticos.
Os clássicos, como Adam Smith e Ricardo, representam uma burguesia que, lutando ainda contra os restos da sociedade feudal, apenas trabalha para depurar as relações económicas das nódoas feudais, para aumentar as forças produtivas, para dar à indústria e ao comércio um novo alento. O proletariado, participando nessa luta, absorvido nesse trabalho febril, apenas teria sofrimentos passageiros, acidentais, e ele próprio assim os sentiria. Os economistas como Adam Smith e Ricardo, que são os históricos dessa época, não teriam outras missões que não fossem as de demonstrar como a riqueza se adquire nas relações da produção burguesa, de formular essas relações em categorias, em leis, e de provar como essas leis, essas categorias, são, para a produção de ricos, superiores às leis e às categorias económicas da sociedade feudal. A miséria não é, aos seus olhos, mais que a dor que acompanha todo o parto, quer na natureza quer na indústria.
Os românticos pertencem à nossa época, em que a burguesia está em oposição directa com o proletariado, em que a miséria se engendra em tão grande abundância como a riqueza. Os economistas colocam-se, então, em poses fatalistas e, do alto da sua posição, olham com desdém para os homens-locomotivas que fabricam as riquezas. Copiam todos os desenvolvimentos teóricos dos seus predecessores, e a indiferença que nestes era inocência para eles é elegante sobranceria.
Vem, depois, a escola humanitária, que toma a peito o lado mau das actuais relações de produção. A que procura, por uma questão de consciência, atenuar um pouco os reais contrastes; ela deplora sinceramente a situação do proletariado, a concorrência desenfreada dos burgueses entre si; ela aconselha os operários a serem sóbrios, a trabalhar bem e a fazer poucos filhos; ela recomenda aos burgueses que ponham na produção um entusiasmo reflectido. Toda a teoria desta escola repousa nas distinções intermináveis entre a teoria e a prática, entre os princípios e os resultados, entre a ideia e a aplicação, entre o conteúdo e a forma, entre a essência e a realidade, entre o direito e o facto, entre o bom e o mau lado.
A escola filantrópica é a escola humanitária aperfeiçoada. Ela nega a necessidade do antagonista; ela de todos os homens quer fazer burgueses; ela quer realizar a teoria desde que esta se distinga da prática e não contenha antagonismos. O que quer dizer que, na teoria, é assisado fazer abstracção das contradições que se encontram em cada instante na realidade. Esta teoria tornar-se-ia, assim, a realidade idealizada. Os filantropos querem, pois, conservar as categorias que exprimem as relações burguesas, sem terem o antagonismo que as constitui e que lhes é inseparável. Imaginam-se a combater seriamente a prática burguesa, e são mais burgueses que os outros.
Temos os economistas fatalistas que, na sua teoria, são tão indiferentes ao que chamam os inconvenientes da produção burguesa como os próprios burgueses o são, na prática, aos sofrimentos dos proletários que os ajudam a adquirir riquezas. Nesta escola fatalista, há os clássicos e os românticos.
Os clássicos, como Adam Smith e Ricardo, representam uma burguesia que, lutando ainda contra os restos da sociedade feudal, apenas trabalha para depurar as relações económicas das nódoas feudais, para aumentar as forças produtivas, para dar à indústria e ao comércio um novo alento. O proletariado, participando nessa luta, absorvido nesse trabalho febril, apenas teria sofrimentos passageiros, acidentais, e ele próprio assim os sentiria. Os economistas como Adam Smith e Ricardo, que são os históricos dessa época, não teriam outras missões que não fossem as de demonstrar como a riqueza se adquire nas relações da produção burguesa, de formular essas relações em categorias, em leis, e de provar como essas leis, essas categorias, são, para a produção de ricos, superiores às leis e às categorias económicas da sociedade feudal. A miséria não é, aos seus olhos, mais que a dor que acompanha todo o parto, quer na natureza quer na indústria.
Os românticos pertencem à nossa época, em que a burguesia está em oposição directa com o proletariado, em que a miséria se engendra em tão grande abundância como a riqueza. Os economistas colocam-se, então, em poses fatalistas e, do alto da sua posição, olham com desdém para os homens-locomotivas que fabricam as riquezas. Copiam todos os desenvolvimentos teóricos dos seus predecessores, e a indiferença que nestes era inocência para eles é elegante sobranceria.
Vem, depois, a escola humanitária, que toma a peito o lado mau das actuais relações de produção. A que procura, por uma questão de consciência, atenuar um pouco os reais contrastes; ela deplora sinceramente a situação do proletariado, a concorrência desenfreada dos burgueses entre si; ela aconselha os operários a serem sóbrios, a trabalhar bem e a fazer poucos filhos; ela recomenda aos burgueses que ponham na produção um entusiasmo reflectido. Toda a teoria desta escola repousa nas distinções intermináveis entre a teoria e a prática, entre os princípios e os resultados, entre a ideia e a aplicação, entre o conteúdo e a forma, entre a essência e a realidade, entre o direito e o facto, entre o bom e o mau lado.
A escola filantrópica é a escola humanitária aperfeiçoada. Ela nega a necessidade do antagonista; ela de todos os homens quer fazer burgueses; ela quer realizar a teoria desde que esta se distinga da prática e não contenha antagonismos. O que quer dizer que, na teoria, é assisado fazer abstracção das contradições que se encontram em cada instante na realidade. Esta teoria tornar-se-ia, assim, a realidade idealizada. Os filantropos querem, pois, conservar as categorias que exprimem as relações burguesas, sem terem o antagonismo que as constitui e que lhes é inseparável. Imaginam-se a combater seriamente a prática burguesa, e são mais burgueses que os outros.
(...)
3 comentários:
Estou a ficar velho... Já lá vão muitos anos...mas li Proudhon. Lá nos "Galifões" apareciam teóricos anarquistas. De qualquer modo foi esse texto de Marx que acabou com a grande amizade existente entre ambos.Proudhon negava a luta de classes e a ditadura do proletariado...Tudo acaba com a vitória do Marxismo no fim da 1ª Internacional...Mas estou "a ensinar a missa ao padre"....Mas não gostava do Lenine chamar Filisteu ao Proudhon. Mas esses textos,como os que tem vindo a publicar, são a história da luta de classes e é necessário saber como se chegou ao séc.XXI com as coisas como estão... Vá escrevendo que eu vou recordando e sempre a aprender.
Nada mais oportuno um dia após a minha primeira aula de História do Pensamento Económico. Segundo a equipa docente, não pretende seguir uma abordagem sobre a progressão histórica do pensamento ou da teoria económica que pretende-se corrigida dos erros do passado, mas de confronto entre ideias e contextualizações dessas ideias. Fiquei curioso em perceber como é que vai ser. Fiquei ansioso pelo trabalho, que deverá ser um debate entre duas ou três «escolas» sobre um determinado tema. Iremos abordar os clássicos, as críticas ao capitalismo, com destaque para os socialismos (procuram associar os utópicos a Marx), os romanticos, os marginalistas, os heterodoxos, o keynesianismo, os neo-clássicos e os liberais e algumas novas tendências.
Depois falaremos... trocaremos algumas ideias e pensamentos.
Abraço!
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