Não o Sonho
Talvez sejas a breve
recordação de um sonho
de que alguém (talvez tu) acordou
(não o sonho, mas a recordação dele),
um sonho parado de que restam
nas imagens desfeitas, pressentimentos.
Também eu não me lembro,
também eu estou preso nos meus sentidos
sem poder sair. Se pudesses ouvir,
aqui dentro, o barulho que fazem os meus sentidos,
animais acossados e perdidos
tacteando! Os meus sentidos expulsaram-me de mim,
desamarraram-me de mim e agora
só me lembro pelo lado de fora.
Manuel António Pina, in "Atropelamento e Fuga"
3 comentários:
Triste acontecimento a morte de Manuel António Pina, que eu lamento sinceramente até porque o conhecia pessoalmente.
Os poemas que deixas são lindos. Mas ontem, na Assembleia da Paz, ouvi um, dito pela Maria do Céu Guerra, que me deixou terrivelmante comovida. "CIGANOS".
Um beijo.
Não o deixemos morrer.
Um abraço,
mário
Manuel A. Pina nao morreu,foi serenamente juntar-se aos nossos mortos.
Bjo
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