Não resisto a reproduzir (incitandoàmultiplicação) esta excelente "bacorada" do Pata Negra:
A História não se repete
Estou farto de ler mensagens com palavras políticas de Eça, de Junqueiro, de Antero, de antanho. Todas elas têm implícita a mensagem que a crise que vivemos, já os nossos antepassados a viveram, que somos assim, que não há nada a fazer, que a história se repete, que é natural que as palavras de hoje sejam iguais às de antigamente.
Não gosto destas referências históricas no ponto em que elas podem levar ao conformismo, ao "sempre foi assim", às inevitabilidades, ao acreditar nos ventos dos Lusíadas, a não acreditar que existem alternativas.
Contudo, quando as conheço, nem eu que sou tão renitente a elas, resisto ao seu valor histórico. Que elas não nos sirvam apenas para ler mas que determinem a nossa vontade em participar na mudança de rumo da História.
O artigo publicado em “A Lanterna”, em 17 de Dezembro de 1870 – há 142 anos – é um exemplo:
Tudo mudou e o que não mudou, há que mudá-lo!...
Aqui fica:
“O governo português anda mendigando em Londres (Berlim?) um novo empréstimo. Os nossos charlatães financeiros não sabem senão estes dois métodos de governo: empréstimos e impostos.
Por um lado, o governo mandou para as cortes (parlamento?) uma carregação de propostas tendentes todas a aumentar de tributos; por outro lado, o governo vai negociar um empréstimo no estrangeiro (é onde fica a troika?).
É dinheiro emprestado e dinheiro espoliado. Pede-se primeiro aos agiotas para pagar às camarilhas; depois tira-se ao povo para pagar aos agiotas!
E ao passo que se trata de um empréstimo em Londres, negoceia-se outro empréstimo com os bancos nacionais. Este tem carácter de dívida flutuante interna e é para pagamento da dívida consolidada externa!
Este empréstimo que nos está às costas para pagamento no fim de três meses, sai na razão de 13/2%! E no fim não é dinheiro aplicado a nenhum melhoramento público; é só dinheiro para pagar juros da dívida! É a dívida a endividar-nos cada vez mais! É a dívida a crescer para pagar as sinecuras do estado! É a dívida a multiplicar-se para não faltarem à corte banquetes, festas, caçadas, folias!
Esta situação é terrível e tanto mais que ela exige para se não agravar, de sacrifícios com que o país não pode e que de mais não deve fazer, quando eles são penas destinados às extravagâncias da corte e ao devorismo do poder, no qual se inscreve agora o novo subsídio aos pais da pátria!"
bacorada do Pata Negra
1 comentário:
A História evolui em espiral e, embora os factos se repitam qualitativamente,há sempre passos em frente resultantes da luta do Povo. Este é o momento do grande passo em frente. Vamos continuar a luta.
Um beijo.
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