A arrumar (?) papéis velhos. Da arca...
Subia, marcando pausadamente cada
passada, a Rua de Sant’ana à Lapa. Vinha do Quelhas para a Rua de Buenos Aires,
e sobrava-me algum tempo. Era o dia 20 de Janeiro de 1978. Acabara de ler as
“grandes" de o diário, dobrara o jornal
e metera-o debaixo do braço. Reflectia sobre o que ia sendo este País que se
transforma, sobre este Povo que tem de continuar a resistir. E que resiste e que luta e que defende o que conquistou.
Subia a rua, e acabara de passar
em frente de um prédio esquisito onde está a ser instalada uma coisa qualquer
das “caixas”. Por causa das obras e do lamaçal que se alastrava, mudei de
passeio completamente entregue ao que se entretecia cá por dentro de mim. Cruzei um vulto, que quase me
tolheu o passo. Era um velhote, daqueles rijos, quadrados, feitos de uma só
peça. Aspecto de velho operário, reformado ou lá perto, mas pronto para os
biscates. Também vinha entregue aos seus pensamentos e reflexões, mas em voz
baixa e gesticulando.
Quando nos cruzámos, estendeu o
braço para o tal prédio, apontou qualquer coisa e lá continuou a caminhada,
dizendo, resmungando. Não foi para mim que disse, mas eu ouvi-o, na passagem
desencontrada: “Está bonito, está! Está
lindo está o 25 de Abril! Foda-se! Filhos da puta!”. Os meus olhos seguiram
o que apontara o braço do homem, que já ia mais abaixo, continuando a arenga.
Numa das extremidades do tal prédio esquisito estava escrito CDS e na outra
ponta o desenho canhestro da mão fechada em punho cerrado com um PS lá dentro.
Foi no dia 20 de Janeiro de 1978,
quando subia a Rua de Sant’ana à Lapa, e se faziam maiorias constitucionais
PS/CDS para pôr o País no rumo certo. Deles.
20.01.1978
1 comentário:
E desde logo,um rumo,que nos tem doîdo muito assistir.E continua,cada vez mais,doloroso.
Bjo
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