Política no
comando!
(notas sobre
a conjuntura)
Por Sergio Barroso *
São
evidentes as implicações da resposta norte-americana à grande crise e seu
declínio da condição de potência hegemônica. Seu objetivo é repassar a conta à
periferia do capitalismo para que nações e trabalhadores a paguem.
Abalada pela
crise capitalista global, a economia mundial continua a se degradar, em direção
contrária à ideia de “recuperação” difundida pelo establishment americano e
repetida por seus papagaios mundo afora.
Mas são
evidentes as implicações da resposta norte-americana à grande crise e seu
declínio da condição de potência hegemônica. Repassá-la à periferia do
capitalismo para que nações e trabalhadores paguem a conta é seu objetivo.
Em matéria
geoeconômica, os EUA
continuam a se beneficiar do dólar, cuja valorização ou não depende da política
monetária e cambial, onde sua própria taxa de juros também pode determinar o
comando deste país sobre a política cambial nos países que não possuem moeda
conversível – caso do Brasil e da imensa maioria dos países do globo. Ou seja:
a chamada hierarquia (das moedas) do sistema monetário internacional restringe
(ao máximo, mas não impede) a capacidade de outros países praticarem uma
política econômica independente!
China luta
contra deflação [1]
Ademais, um
novo fenômeno sublinha a continuidade da gravidade da crise, além das próprias
estimativas (sombrias) do FMI e da OCDE (Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico), feitas em novembro, para 2015, que, como sabemos,
sempre estão a serviço dos banqueiros e ricaços. Trata-se da marcha de uma
deflação nas principais economias do planeta.
O
prestigiado reitor da Escola Nacional de Desenvolvimento e diretor do Centro
para a Reforma Econômica da China (Universidade de Pequim), Yai Yang, já
assinalara que o mundo inteiro se encontra assolado por forças deflacionárias (“A
China consegue evitar a deflação?”, Valor Econômico, 27/01/2015). Na
análise percuciente (e pioneira) de Yang, se a China entrar no turbilhão, não
haveria como, “desta vez”, seus parceiros comerciais socorrê-la. O problema
crucial para o governo da China, portanto, é se ela poderá safar-se da deflação
“por conta própria”, diz ele.
Yang
argumenta ainda que, apesar da atual desaceleração da economia chinesa ter sido
induzida por políticas econômicas nacionais, nos dois últimos anos, o governo
chinês “promoveu um aperto da política monetária e da política fiscal na
esperança de neutralizar os efeitos adversos do grande pacote de estímulos
econômicos lançado como resposta à crise financeira mundial de 2008”.
Ora, no
último dia 28 de fevereiro, o BC chinês anunciou novo corte, de 0,25% na taxa
de juros, exatamente para evitar desaceleração maior de sua economia (e a
deflação), ainda que ano passado a poderosa economia chinesa registrasse
crescimento de 7,4% e projetasse cerca de 7% do PIB (Produto Interno Bruto)
para este ano.
Deflação nos
EUA?
Isso mesmo!
Na mesma direção vão os EUA: a inflação norte-americana soma mais de trinta
meses abaixo de 2%, o objetivo do Federal Reserve (Fed, Banco Central dos EUA).
Até agora, não existem indícios de um aumento do nível dos preços. Ao
contrário, a deflação (queda de preços) se transformou em uma ameaça real na
economia, que ainda é considerada a de maior tamanho: os preços do consumo
ficaram em apenas 0,4% em dezembro de 2014, sua maior queda desde o final de
2008. Em termos anuais, a inflação diminuiu 0,8% ao se colocar em 1,3% em
novembro passado. [2]
Para
Rodríguez, a chamada “recuperação norte-americana” está mais no aumento dos
principais índices da bolsa de valores de Nova York e menos na melhoria
substantiva das condições de vida da população, que vive sob intensa
precarização do trabalho, do desemprego, e da queda dos salários. “Inclusive,
na esfera financeira – afirma ele -, surgiram novas barreiras para a
acumulação de capital. Se é certo que o índice Standard & Poors (que cotiza
as ações das 500 maiores empresas dos EUA) continua registrando aumentos, a
acumulação de lucros por ação e dividendos é cada vez menor”.
Novo governo
Dilma: “concessão” não é ”capitulação”
Nesse
quadro, rejeitamos a ideia difundida em setores de esquerda, de que existe um
Brasil “pós-neoliberal”, tanto quanto a que acha que "Dilma capitulou ao
mercado financeiro", assim como a que já anuncia uma "viragem
neoliberal" do governo Dilma. A nosso juízo, tais pontos de vista carregam
forte dosagem de economicismo, incompreensão e precipitação frente aos
resultados do quadro real de forças, tais como um Congresso mais conservador,
um crescimento econômico médio pífio, forte polarização eleitoral presidencial,
atual divisão e desorientação claras no comando do PT (importa recordar que a
presidenta Dilma enfrentou eleições presidenciais num cenário em que dois
ex-presidentes de seu partido foram presos, injustamente!). Ao lado do processo
crescente de desindustrialização do país, agora mesmo, vivenciamos deterioração
das transações correntes no balanço de pagamentos (contas externas), aliada a
um cenário internacional que deve ainda considerar (para além da crise e novas
"bolhas financeiras" para todo o lado) crescimento contínuo do
desemprego em escala mundial (OIT); a estimativa de crescimento econômico
negativo na Rússia, este ano; a marcha de desestabilização na Venezuela etc.
Pertinente
relembrar nossa experiência recente: bem ao invés do "espetáculo de
crescimento" prometido pelo ex-presidente Lula no início de seu governo, a
recessão foi clara no primeiro trimestre de 2003 (-1,1%) e no segundo (-0,23%),
apesar do resultado anual do PIB ter sido 1,1%. Conforme ainda o IBGE-Seade, o
desemprego naquele ano atingiu por volta de 20% da PEA (População
Economicamente Ativa) na Grande São Paulo. Ora, a “humanidade” sabe que a média
do crescimento dos governos de Lula ultrapassou os 4%!
Por suposto,
sempre estivemos lutando contra os retrocessos, o que também fizemos (uma
espécie de consentimento impositivo), desde a “Carta aos Brasileiros" até
a sua crítica aberta. A análise dita "Dilma capitulou", não passa de
completa ingenuidade em matéria de luta de classes: das concessões que ela
estabelece, seus recuos temporários, das necessárias e variadas alianças, ou
até mesmo de derrotas - para nós sempre também temporárias.
Certas
interpretações se aninham na ideia do "fim da história", ou a decreta
quando mal começaram as batalhas. Assim, mesmo hoje tendo que enfrentar um
cenário externo real bem diferente do de Lula, então de evolução favorável ao
crescimento econômico, parece óbvio repetir que a história está em aberto, como
sempre esteve, por isso também a conduta tática correta (ou a mais ajustada
possível), é no sentido de principalizar a defesa do governo Dilma e exercer
daí (e a partir daí) o comando da crítica a retrocessos, e da luta de massas e
dos trabalhadores – esse o fator decisivo.
Reforçar o
ato de 13 de março: abaixo o golpismo!
Portanto, a
questão nodal no Brasil hoje é: política no comando para preservar as
principais conquistas do ciclo político iniciado por Lula e Dilma. Repetindo,
lutando contra os retrocessos. Fora disso, uma derrota severa pode advir. Mas
parecem inevitáveis certas concessões neste quadro dado. E como se sabe
"concessão" e "capitulação" são categorias muito diferentes
- particularmente na terminologia da guerra.
A campanha
claramente golpista da direita neoliberal brasileira e seus aliados forâneos é
a mais pura manifestação da compreensão deles sobre o que é luta de classes.
Visam com clareza objetivos internacionais, serviçal do imperialismo
(integração latino-americana; BRICS etc.); e notadamente nacional: interrupção
do ciclo que conquistamos, inobstante a pressão furiosa do capital financeiro
internacional e do jogo bruto do imperialismo.
Notas
[1] A
definição tradicional da depressão econômica mundial envolve fundamentalmente:
a) uma queda severa do crescimento do produto; b) elevado desemprego; c)
movimentos deflacionários (queda acentuada nos preços). Cada depressão
“submerge” numa outra e singular situação – não se repete, mas as determinações
e características centrais são recorrentes. Ou seja: as crises sistêmicas do
capitalismo e os fenômenos sociais (e também as evoluções políticas) que as
acompanham.
[2] Ver o
importante artigo “O fantasma da deflação norte-americana” (Carta Maior,
10/02/2015), do economista mexicano Ariel Noyola Rodríguez.
1 comentário:
Muito interessante!O actual sistema e as suas contradicoes.Sô hâ um caminho,o capitalismo ê ireformâvel-citando Marx-o do socialismo:
Bjo
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