E, como está a acontecer como lava de vulcão a que abriram as torneiras, derramam-se as memórias. Algumas partilhadas por muitos, outras só minhas mas vindas com irreprimível vontade de se partilhar.
Antes do "caso de Beja", nas eleições para a Assembleia Nacional de 1961 as listas da oposição democrática ao fascismo incluíam um militar do quadro, um jovem capitão. Foi assim que o ainda mais jovem economista conheceu o Capitão Varela Gomes. Nas sedes da candidatura, ao lado do Teatro Avenida, entre o Campo Santana e o Martim Moniz, a presença viva, corajosa, estimulante de Varela Gomes marcou uma campanha eleitoral. Uma campanha eleitoral em que a auto-determinação dos povos foi tema, e em que a afirmação de não à guerra colonial foi acto de ousadia, mormente por parte de um militar.
Depois, quase logo a seguir, o "golpe de Beja", com a noticia, recebida por quem o acompanhava de muito perto, o modo como estava a correr a operação e, sobretudo, a notícia da gravidade do ferimento de Varela Gomes, primeiro dado como em estado desesperado.
Lembro o choque, as lágrimas de raiva, de impotência.
Uma admiração enorme que nasceu então, nesse ano de 1961, e se renovou perante uma personalidade sem hesitações nem ambiguidades. Digam o que disserem, escrevam o que escreverem de Varela Gomes, nada beliscará a imagem do homem coerente e firme, do "capitão de Abril antes de Abril", do democrata porque lutador do povo e pelo poder ao povo.
5 comentários:
Varela Gomes,identificado pelo sistema como inimigo.A sua intervenção na História de Portugal,será apagada como tantos outros.Quando a História for contada numa perspectiva verdadeiramente democrática,os seus nomes serão respeitados e hão-de ocupar o lugar que merecem.Bjo
A imprensa de "reverência" ignorou a morte de Varela Gomes, pelo menos on-line. É como os CTT, que filatélicamente deram grande destaque ao Centenário das chamadas visões de Fátima mas ignoraram o centenário da Revolução de Outubro, ou as efemérides relativas ao 2º centenário do nascimento de Marx ou o 150º aniversário do Manifesto Comunista.
Chama-se coerência "de classe" ou servilismo. Ou falta de idoneidade informativa.
Tenho de vir ao seu blog, Sérgio, para saber de algumas notícias não veiculadas pelos "jornaleiros" serventuários ... está claro que se comprasse o Avante com mais regularidade tb o saberia, digo eu ...
abraço
E diz muito bem! =:-).
Vamos encontrar-nos breve?!
Abraço
Enviar um comentário