COMENTA DOR(es)-3
no Expresso
de 31 de Agosto
(a entrevista de Jerónimo de Sousa
e mais uns trocos)
A entrevista de Jerónimo de Sousa é… de ver e
ler (uma, duas, três vezes?... as que forem precisas!). É um exemplo de seriedade, de humildade revolucionária,
de sentido de Estado.
Contra o habitual (para com ele e outros seus camaradas), a paginação,
as fotos, merecem ser vistas e – a meu ver – merecem o entrevistado.
Uma cara marcada pela idade, pela vida dura e de entrega, um homem
cansado, que por vezes parece no limite das capacidades humanas mas que
continua, firme e lúcido, na luta de sempre. Que se sente magoado… porque é boa
gente e nem a tudo pode ficar indiferente quem boa gente é!
Para os entrevistadores, apetece-me o comentário de que, na sua postura,
talvez apesar do encargo que tinham, para além da leitura que terão da vida e
da sociedade, foram… correctos, profissionais, respeitadores.
Não foram usados truques, manhosices, não mostraram a cretina
auto-suficiência que por aí abunda na comunicação social de dito topo.
Jerónimo, na minha leitura, esteve excelente no relativo a este mandato
da AR, de que nunca será demais lembrar a sua frase histórica (não exagero!)
que interrompeu as felicitações de António Costa a Passos Coelho pela “vitória”
deste nas eleições de 2015 (como se as legislativas
fossem o que não são!), de cuja autoria, aliás, Jerónimo não reclama autoria, na
sua coerente e natural modéstia. Frase que abriu um caminho que, para poder ser
começo do que veio a ser, tinha de confrontar um PR politicamente reaccionário
até dizer basta e medíocre culturalmente até dizer chega!
E, na sua sequência dessa frase e da “angústia” e desespero de Cavaco perante a alternativa, Jerónimo sublinhou a necessidade de um… papel, de um “acordo” que nada teve de
pré-nupcial, mas sim de compromisso que só exigem os que precisam de
provas escritas para acreditar que se cumprirá palavra dada ou intenção
afirmada.
Tudo isto dito de forma que ajuda a reflectir (quem o queira fazer,
esteja onde estiver) e se confirma nas posições sobre o futuro, sobre o que vem
aí.
Em tudo está um fundo e fundamento de
classe, da classe que Jerónimo quer e sabe representar, apenas me parecendo
um pouco peado na afirmação explícita de que há classes de que há luta de classes. Não falta a
permanente preocupação com a correlação de forças, mas este leitor/comenta dor gostaria de
maior clareza (marxista-leninista) na definição da fronteira de clivagem.
Por outro lado, a entrevista, se muito me diz, e com ela reflicto e
aprendo[1],
não atenua (bem pelo contrário) as preocupações pela ausência de alerta para
o que pode estar para vir, para o que me esfalfo, por outras paragens e
comentários, a fazer contas que desejava úteis.
E, se é certíssima a assumpção da centralidade da AR na legislatura que
acaba, esta centralidade pode ficar inquinada com resultados que exijam o
reforço de outras centralidades.
A propósito, nesta edição do Expresso, calhou-me (é o caso… desafiado
pelo título) ler texto de Ricardo Costa de onde retiro parágrafo que será oportuno (ou não) comentar :
“O raciocínio de Boris Johnson é simples
e, na origem, correto: a democracia representativa decidiu dar a palavra à
democracia direta num referendo em 2016; agora tem de consumar a vontade
popular” (Lenine chegou a St.
Pancras, pg. 40 do Expresso).
As mangas para que daria este pano…:
·
“a democracia representativa decidiu…”
o
… mas a democracia
(para ser democracia…) não tem de ser representativa E PARTICIPATIVA?;
· “(dar a
palavra) à democracia direta num referendo…”
o
… mas a
democracia directa é o mesmo que democracia participativa?, e o referendo é única forma (e redutora) da democracia que não é a representativa?
· “agora tem de
consumar a vontade popular.”
o
… e quantas vezes
a democracia representativa, depois de decidir (!) dar a palavra (!) à
democracia participativa, só assume o que esta decide (!) desde que seja o que
ela já antes assumiu… antes de dar a palavra.
O que se chama a isto? Democracia?
SEM ASPAS?
[1]
- e começam, hoje, os debates entre as figuras cimeiras dos partidos e
coligações candidatas, fazendo esquecer que se elegem deputados por 22 círculos
eleitorais, debates em que muito menos se aprende e menos se encontra matéria para
reflectir (sobre o que importa, é urgente!, reflectir e aprender).
1 comentário:
Gostei !É sempre com muita alegria quando tomo conhecimento que ainda existem profissionais que respeitam quem deve ser respeitado,que a honestidade é um valor intrínseco de quem defende um jornalismo sério.Obrigada,camarada,foi um bom trabalho,de revolucionário!Bjo
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