REFLEXÕES LENTAS – as presidenciais e a contrafacção da democracia
Comentar as eleições presidenciais, onde quer que seja, é como que um auto/altero-teste ao conceito de democracia.
Vivendo-se no planeta Terra – e não noutro lugar
etéreo –, onde na grande parte do globo já foram ultrapassadas formas de
organização social de tipo piramidal, em que o lugar cimeiro do poder político era
ocupado ou reservado por natureza genético-hereditária e/ou por delegação divina[1],
mas por escolha da comunidade, a eleição de um cidadão para esse lugar é
objecto de escolha do povo em condições de escolher, dando expressão real ao
conceito que encerra a etimologia de democracia. E cada um, ao comentar,
expressa o seu conceito… ou o de quem serve, para o caso de não ter nenhum.
Em resultado do passado de cada comunidade,
da sua história, das tradições que foram criando, também (e muito) do clima e
condições naturais, do modo como se relacionou com comunidades vizinhas ou
longínquas que até ela foram ou onde parte dela se deslocou, verificam-se diferentes formas de cada comunidade se organizar socialmente, com aspectos
comuns e diferenças evidentes.
Os aspectos comuns levam a agrupamentos em que as
importâncias relativas das partes componentes se exprimem em correlações de
força, quer entre-comunidades, quer reflectindo a importância, em cada parcela,
das relações sociais de base que as leva à associação.
Passando à realidade do lugar e tempo que estamos a viver,
os países coexistem em condições nem sempre (ou poucas vezes, ou durante pouco
tempo) pacíficas e o nosso País, com a sua História e tradições, está associado a outros países em que predominam relações sociais a que se etiquetou de países
desenvolvidos em sistema económico (que a se auto-denomina de economia de
mercado e sistema político super-estrutural democrático, assente em liberdades
individuais e direitos humanos definidos à margem e estreitamente condicionados
pelos direitos laborais.
Daqui derivam diferentes modalidades e órgãos, de
uma maneira geral com um corpo parlamentar de carácter representativo, um
membro executivo e uma instituição individual superior de representação e
controle do executivo, havendo toda uma estrutura paralela de natureza jurídica com o sentido de acompanhar, verificar e determinar que toda a actividade da
comunidade se concretize de acordo com as regras superiormente estabelecidas,
no quadro de uma Constituição ou instância que a substitua. A articulação entre
os diferentes órgãos e instâncias do poder não é uniforme podendo, por exemplo,
ser maior ou menor a capacidade de intervenção do Chefe do Estado ou Presidente
da República relativamente ao executivo, vulgo Governo, definindo regimes como
presidencialista ou semi-presidencialista.
No caso de Portugal, predominando a economia de
mercado, a Constituição tem claramente um cariz moderador da preponderância das
relações laborais sobre os direitos humanos em geral, protegendo as parcelas da
população à partida mais desfavorecidas por diversas razões – históricas, de
tradição, nas relações laborais –, e o papel do Presidente da República, sendo
muito importante, não configura um sistema presidencialista, e tem papel decisivo na
formação do executivo mas não no seu funcionamento corrente, devendo defender,
cumprir e fazer cumprir a Constituição como jura ao tomar posse.
É o que está em causa no processo que decorre.
Este não é um pronunciamento abalizado, de
especialista, é, apenas, a interpretação de um cidadão, por vezes perturbado ao
ver, ouvir e ler, candidatos em debate, moderadores (?) e comentadores. E
preocupado com as evidentes contrafacções da democracia de que tanta gente e
gentinha dá provas.
[1] - Embora se mantenham resquícios dessas formas de organização, com carácter simbólico e expressão da singularidade e unidade nacional(ais)
1 comentário:
Óptimo esclarecimento sobre o processo presidencial em curso.Bjo
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