Ao vir sentar-me à escrita, de certo modo para desabafar sobre os debates que vou ouvindo, trazia comigo a vontade de me “atirar” a essa espécie de peça-chave a que, por comodidade ou preguiça, se deu o nome de moderadores. No caminho, e em “exercícios de aquecimentos” de passar os olhos pelo que o visor me dá, fui moderando os meus ímpetos, quase compreendendo (o que é bem diferente de aceitar!) aqueles e aquelas que estão a desempenhar tais tarefas. Coitados/as, não são mais que “paus mandados”, peças menores, embora bem salientes, de toda uma engrenagem que, sob a capa da informação, tem uma tarefa-chave na formatação de uma opinião pública bem nos antípodas do que seria informar, esclarecer, fazer, enfim, didactismo democrático.
Não que, ao escrever didactismo, esteja a pensar numa informação neutral, asséptica, bacteriologicamente pura. Estou a pensar no que exijo a mim próprio e, veja-se lá…, exijo aos outros: seriedade, respeito… moderação.
Estamos em economia de mercado, eufemismo para dizer que vivemos numa correlação de forças sociais que, noutro léxico, se chama capitalismo e que se define pelo predomínio de uma relação social mercantil (capital é relação social em que o direito à propriedade de uns faz com que a esmagadora maioria tenha de vender horas da sua vida sob a forma de mercadoria força de trabalho). Mas isso não quer dizer que tudo seja mercadoria, que não haja regras para a convivência social, que não haja… moderação imposta por essa convivência. Há, até, expressões lapidares (em inglês, como se fosse língua universal) fair trade a moderar o free trade. De tudo e em tudo, sobretudo no exercício da democracia!
Um pouco apaziguada a zanga que me trazia à escrita, reflicto sobre os debates a que tenho assistido. Não para escolher o candidato que entendo melhor corresponder à função para que há tantos candidatos, pois tenho-o escolhido não sectariamente (isto é, por fazer parte da minha “seita”), mas por o conhecer sabedor e capaz de interpretar, na tarefa a que se candidata, o que entendo dever ela ser.
Assisto aos debates como exercícios de cidadania, para ver como se pretende ajudar os cidadãos distraídos ou desencantados daquilo a que se chama política (e que, para mim, é a política às avessas[1], ou em posição ginástica de pino, a chamada queda facial invertida). E é assustador o que se vê. Culpa dos candidatos? Também de alguns, mormente de um. Culpa dos moderadores? Muita e de quase todos. Culpa de a referida engrenagem querer fazer de tudo mercadoria e contrafacções, contrabando? Sem dúvida!
Na televisão, qualquer o canal, o critério dos debates para, na aparência, esclarecimento de qual a função do lugar a que, na estrutura política que existe, há candidatos e porquê e como o desempenhariam, qualquer o canal é como se fosse um concurso em que há UM prémio para UM vencedor, o que melhor (se) vendeu… e, neste concurso, até já se decidiu qual será.
No entanto, pior que as moderações é a decisão de formar uma espécie de júri que vai dando notas imoderadas sobre as prestações tal como foram “encomendadas” aos moderadores. O que (e quem) é que “isto” lembra?!
Reflexões lentas? Mais divagações para descarregar bílis e denunciar contrafacções no “mercado da política” em alcunhada economia de mercado.
[1] - como o mundo, diria Eduardo Galeano
1 comentário:
Se as espécies "moderadora e comentadoras"não se soubessem denunciados,pior seria o quadro das suas manipulações,daí a importância do que acabei de ler.Podem valer,pelo que valem, na actual correlação de forças,mas creio na sua utilidade.Bjo
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