quarta-feira, junho 19, 2019
A virtual idade das moedas virtuais
(…) Mark Zuckerberg não é um dos mais de 150 nomes na lista de participantes do Fórum do Banco Central Europeu que hoje termina em Sintra. Há governadores de bancos centrais, economistas famosos, jovens promessas da academia e até responsáveis políticos como o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker. Todos juntos para, num ambiente informal, refletirem durante três dias sobre um grande tema que, este ano, são os 20 anos da União Económica e Monetária. Mas nenhum deles é o fundador do Facebook que, coincidência ou não,decidiu transformar-se ontem numa espécie de banqueiro central da era digital com o lançamento da Libra.
Século VII – Bolha das túlipas
Quando e por que
bitcoin colapsará?
quinta-feira, julho 29, 2010
Breves notas sobre impérios, imperialismo e moedas - leituras e apontamentos - 5
Duas e últimas breves notas.
A primeira, transcrevendo uma leitura, das que é bom ter sempre "à mão". De semear...
Dois trechos de O imperialismo, fase superior do capitalismo, de Lenine, 1917:
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À medida que vão aumentando as operações bancárias e se concentram num número reduzido de estabelecimentos, os bancos convertem-se, de modestos intermediários que eram antes, em monopolistas omnipotentes, que dispõem de quase todo o capital-dinheiro do conjunto dos capitalistas e pequenos patrões, bem como da maior parte dos meios de produção e das fontes de matérias-primas de um ou de muitos países. Esta transformação dos numerosos modestos intermediários num punhado de monopolistas constitui um dos processos fundamentais da transformação do capitalismo em imperialismo capitalista, e por isso devemos deter-nos, em primeiro lugar, na concentração bancária.»
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Quanto à socialização da economia capitalista, começam a competir com os bancos as caixas económicas e as estações de correios, que são mais "descentralizadas", isto é, que estendem a sua influência a um número maior de localidades, a um número maior de lugares distantes, a sectores mais vastos da população.(…)»
quarta-feira, julho 28, 2010
Breves notas sobre impérios, imperialismo e moedas - comentários e contra-comentários - 4
1. – um anónimo vem, todo lampeiro, fazer uma gracinha com uma eventual preocupação minha relativamente aos “coitados dos empresários portugueses a braços com volutibildades (deve ser volubilidades…) que os podem transformar em pobres sem abrigo lá por terras de Angola...”. Claro que não respondo à anónima e baixinha insinuação, mas suscitou-me o esclarecimento (ou a insistência) para o facto (!!!) da economia portuguesa, tal como é, constitucionalmente, e no que deveria ser uma democracia avançada, enquanto economia mista – sectores público, cooperativo e privado -, terá necessariamente problemas acrescidos por ter entrado para a zona euro e pelo modo como entrou, nada sendo salvaguardado das nossas especificidades e comprometendo, cambialmente, a nossa frágil competitividade (e não por causa dos ”custos salariais”).
2. - um comentário do "Zé Povinho" coloca a interessante questão do imperialismo ter ou não definições segundo as épocas.
(a isto voltarei – talvez… -
e ainda há outros desafios em stock)
segunda-feira, julho 26, 2010
Breves notas sobre impérios, imperialismo e moedas - mais leituras e apontamentos - 3
«A ideologia imperial e o conceito de império têm, durante o Estado Novo, três fases distintas: a primeira decorre de 1926 a 1945 e corresponde ao período durante o qual a Europa se assume como civilização superior que deve cultivar e dominar os Indígenas das regiões colonizadas; a segunda decorre de 1945 (com o final da Segunda Guerra Mundial) até 1960, data em que a Assembleia Geral das Nações Unidas reconhece o direito dos povos colonizados à independência e faz uma listagem de todos esses povos, nos quais inclui os territórios ultramarinos portugueses; e o terceiro prolongar-se-á até ao fim do regime e corresponde a um período durante o qual se verificam rebeliões armadas em Angola, Moçambique e Guiné. Neste contexto, Portugal procura, através de uma reformulação da ideologia e métodos de governação, manter a unidade da metrópole com os territórios de além-mar.»

- A ideologia imperial e o conceito de império não se apagaram com o derrube do fascismo. Aliás, as superstruturas, como representações da realidade, resistem às realidades procurando retardar as mudanças ou fazer o tempo voltar para trás, assim com procuram antecipá-la, por via da intervenção consciente.
- Acresce que o imperialismo, como estádio do capitalismo, mantém as suas características definidoras, não obstante as modificações inevitáveis (ou inevitadas, ou precipitadas) na realidade, dê-se-lhe ou não outros nomes como o de globalização.
- Merece (e exige) reflexão como os instrumentos da actividade económica se adaptam e desadaptam ao processo de desenvolvimento das forças produtivas. Ao ser criado, e como o foi, o €uro ilustra a inconsistência (ou inexistência) de uma zona monetária, saltando etapas por opção política (de classe!), pondo "o carro à frente dos bois" ou o federalismo monetário a puxar pelo federalismo político.
- As relações económicas externas de Portugal passaram a ser afuniladas, por via de uma opção política (de classe!), para um espaço em que o País se integrava geográfica e economicamente como Estado-membro, em condições técnicas de desfavor evidente para as actividades exportadoras, mormente para outros espaços que não os da UE.
- Quando se abrem perspectivas (necessárias) de outros relacionamentos, está o País manietado por essas condições, ainda que a taxa cambial dólar-€uro, quando em tendência desvalorizadora do €uro, possa atenuar as dificuldades dos agentes económicos portugueses.
- Concretamente - e até por causa de interpretações sempre enviesadas dos escritos - qualquer agente económico português, do sector público ou do privado, tem dificuldades acrescidas no plano cambial por ter de usar moedas que não se adequam à situação e evolução da economia portuguesa (se é que isto ainda existe, como a ironia permite perguntar).
- O que poderia, conjunturalmente (?!), apresentar-se como uma "saída", pode tornar-se numa porta apenas entre-aberta, ou até fechada, depois de um certo tempo de esforços baldados.
(continuará
... se)
Breves notas sobre impérios, imperialismo e moedas - leituras e apontamentos
- «(…) O facto do imperialismo ser parasitário e um capitalismo decrépito manifesta-se, acima de tudo, na sua tendência para a putrefação, que é uma característica de todo monopólio sob o sistema de propriedade privada dos meios de produção. A diferença entre o republicano-democrático e o reacionário-monárquico desaparece no imperialismo burguês precisamente porque ambos se estão decompondo em vida (o que, de forma alguma interrompe o extraordinariamente rápido desenvolvimento do capitalismo em sectores particulares da indústria, em países em separado e em períodos específicos). Em segundo lugar, o apodrecimento do capitalismo manifesta-se pela criação de um enorme estrato daqueles que vivem da renda, capitalistas que vivem de “vales”. Em cada uma das quatro cabeças do imperialismo – Inglaterra, EUA, França e Alemanha – o capital em bancos acumula-se em 100.000 ou 150.000 milhões de francos, do qual cada país deriva uma renda anual de não menos de 5 a 8 mil milhões. Em terceiro lugar, a exportação de capital é parasitismo em alto nível. Quarto, “o capital financeiro luta por dominação, não por liberdade”. A expressão política desta frase é uma característica deste imperialismo. Corrupção, subornos em larga escala e todo o tipo de fraudes. Quinto, a exploração das nações oprimidas – que está inseparavelmente conectada com mais anexações – e, especialmente, a exploração das colónias pelas “Grandes Potências", acelerando a transformação do mundo “civilizado” em um parasita nos corpos de centenas de milhões nas nações não-civilizadas. (…)»
(Imperialismo e a Cisão do Socialismo, V. I. Lenin, Outubro de 1916 - Primeira Edição: Sbornik Sotsial-Demokrata No. 2, December 1916, Fonte: versão (revista) de The Marxists Internet Archive) - «Para o negociante europeu este negócio do
sertão era extremamente fatigante e exigia enorme soma de paciência no estabelecimento de relações com o gentio, muitas vezes exigente e caprichoso (…) o indígena aproveitava-se do facto de se encontrar na sua própria terra para protelar o negócio o mais possível, a fim de levar o mercador à transigência, de acordo com o que mais lhe convinha, pois as despesas de deslocação cresciam com o tempo de permanência no interior. Esse aumento de encargos chegava por vezes a não compensar tão longas e fatigantes viagens, com riscos a cada passo.»
(Moedas de Angola, L. Rebelo de Sousa, editado pelo Banco de Angola, 1967, da introdução do autor)
E um apontamento:
Duas leituras aparentemente díspares mas com conexões intrínsecas porque leituras no tempo histórico.
E em tempo histórico estamos. Que é de imperialismo mas em que muito mudou e está a mudar. Hoje. E se a putrefacção é notória, o cheiro nauseabundo e os perigos enormes, as relações de forças são bem diferentes e poderemos - talvez... - falar de imperialismo pós-colonial ou, com menor imprecisão, de imperialismo sobrevivendo em condições de crescente interdependência assimétrica, de domínio do capital financeiro e do dinheiro fictício, e em transformação das relações internacionais no quadro de um processo progressivo (e complexo, e lento segundo algumas escalas) de autodeterminação de espaços que passaram por colónias.
(irá continuando)
domingo, julho 25, 2010
Breves notas sobre impérios, imperialismo e moedas - 1
Como me é inevitável – e cada vez mais – tenho de recuar uns anos, umas décadas. Ao tempo em que se procurava formar um império, e em que um ministro de Salazar (de várias pastas) tinha papel de relevo. Era ele Armindo Monteiro e trago-o para aqui porque falar hoje de euro e de dólar me parece (me é!) impossível sem que a memória me traga o gravíssimo e insuperado problema das transferências monetárias entre as colónias e a metrópole, que então – anos 30 – Armindo Monteiro procurou resolver.
O império baseava-se na concepção de que "É da essência orgânica da nação portuguesa desempenhar a função histórica de possuir e colonizar domínios ultramarinos e de civilizar as populações indígenas que neles se compreendam", como se inscreveu no Acto Colonial de 1930, depois tornado anexo da Constituição de 1933.
O que nunca foi ultrapassado – como muitas outras coisas, evidentemente, mas esta mais evidente e técnica – foi a questão das transferências monetárias. Armindo Monteiro bem o tentou mas não o conseguiu.
Havia um banco emissor "imperial", o Banco de Portugal, mas também um outro banco emissor para as colónias, o Banco Nacional Ultramarino, e ainda um só para Angola, o Banco de Angola, este como autoridade bancária para aquela colónia (ou província ultramarina), criado em 1926, emitindo uma moeda – o angolar, entre 1928 e 1958, depois substituído pelo escudo angolano, até, após a independência, se criar o kwanza
O facto é que nunca se resolveu o problema cambial, expressão de economias diferentes impossíveis de harmonizar numa zona monetária única ou comum, apesar de uma união nacional (de império) política, que se afirmava e mantinha à custa de todos os sacrifícios dos povos, levando-os mesmo à guerra colonial.
