"A política alternativa existe
e mais cedo que tarde
acabará por se impor"
Senhor Presidente,
Senhores Deputados,
Ao longo deste debate, o Governo e a maioria que, apesar de exausta, ainda o
carrega penosamente às costas, mais não fizeram do que repetir até à náusea a
enorme mentira em que assenta a sua governação. A mentira de que não há
alternativa.
Os senhores do Governo e da maioria podem continuar a caricaturar as nossas
propostas. Podem continuar a fugir à discussão séria das nossas propostas,
recorrendo a um anticomunismo primário e indigente. Mas a evidência do fracasso
da vossa política já se encarregou de demonstrar a fragilidade dos vossos
argumentos.
Os governos das últimas décadas conduziram o país à situação desastrosa em
que se encontra. Destruíram o aparelho produtivo nacional, promoveram a
desindustrialização, abandonaram a agricultura e abateram a frota pesqueira. Em
nome de um euro-entusiasmo irresponsável lançaram o país nos braços de uma moeda
única baseada em critérios de convergência incumpriveis e tornaram o país refém
dos interesses financeiros que controlam as decisões de uma União Europeia
ultra-liberal.
E mais uma vez em nome de supostas inevitabilidades, traíram os interesses
nacionais nos braços da troika, e aceitaram levar à prática um programa
humilhação nacional e de terrorismo social, assente na recessão forçada, no
aumento do desemprego, na sobre-exploração dos trabalhadores, na venda ao
desbarato do património público, na espoliação fiscal dos trabalhadores, dos
reformados e das micro e pequenas empresas (como acontece com o sector da
restauração e com as farmácias), no empobrecimento, na desproteção social, numa
palavra, num programa de agressão ao povo português.
Tudo isto em nome de supostas inevitabilidades. O PSD e o CDS dizem que a
culpa foi do PS. O PS diz que a culpa é do PSD e do CDS. E todos dizem que a
culpa é da troika, que não compreende que a recuperação do país não pode ser
feita à custa do empobrecimento, da austeridade e da recessão. Mas dizem,
tristes e conformados, que não há alternativa.
O Sr. Ministro da Economia descobriu ontem o que já quase todos tinham
descoberto antes dele. Que a economia não é recuperável apenas na base da
austeridade e que sem crescimento não conseguimos pagar a dívida. Mas não há na
política deste Governo a mínima correspondência com essa descoberta. O que
caracteriza a política deste Governo é a submissão acéfala à troika, é a
recessão, o desemprego e a espoliação dos portugueses. Já quanto ao crescimento
económico, o discurso do Sr. Ministro da Economia, (para usar as palavras do seu
colega das Finanças), não passa de pantominice.
Senhores membros do Governo,
Senhores Deputados subscritores do memorando da troika,
Não nos digam que não há alternativa. Digam antes que a vossa receita falhou
e que os Senhores não têm alternativa. È um facto que com a vossa política, não
há esperança nem alternativa. O programa de saque dos recursos nacionais às mãos
da troika não é cumprível e este caminho não tem outra saída que não seja o
desastre económico e social.
Mas Portugal não tem de ficar prisioneiro das vossas opções. Já houve
momentos na nossa história coletiva em que o povo português respondeu com
coragem à traição das classes dirigentes e contrariou supostas inevitabilidades.
É cada dia mais claro que os portugueses não querem esta política nem este
Governo esfrangalhado. É cada diz mais claro que a única alternativa que se
coloca perante o povo português não é aceitar esta política, mas lutar contra
ela. Este Governo não tem alternativa, mas o povo português, tem-na.
O PCP, com esta Interpelação, pretendeu afirmar com toda a clareza, perante
esta Assembleia e perante o país, que há alternativa e que os portugueses não
estão condenados ao empobrecimento.
A renegociação da dívida externa é hoje um imperativo nacional. Quando são
cada vez mais as vozes que reconhecem que a receita da austeridade conduz ao
fracasso e que o garrote da dívida é um travão decisivo da recuperação da
economia, é uma exigência nacional que um Governo patriótico imponha um processo
de renegociação da dívida externa, que estabeleça prazos, juros e montantes que
sejam viáveis e que sejam compatíveis com objetivos de crescimento económico que
permitam ao nosso país pagar as suas dívidas e garantir uma situação social
digna ao povo português.
A superação da crise profunda que o nosso país atravessa, passa
incontornavelmente pela valorização do trabalho e dos trabalhadores. Passa por
condições salariais dignas, que melhorem o poder de compra da maioria da
população e que permitam consequentemente a recuperação económica das empresas
nacionais, e particularmente das micro, pequenas e médias empresas que
constituem a maior parte do nosso tecido empresarial. Não há alternativa que
passe por uma política de baixos salários e de degradação das condições de vida
dos trabalhadores e dos reformados.
A superação da crise profunda que o país atravessa, passa incontornavelmente
pela criação de condições de viabilidade para as empresas portuguesas, através
da redução dos custos de contexto não salariais, pelo incentivo à produção
nacional, pela garantia de financiamento bancário a um preço justo.
A superação da crise passa pela salvaguarda das funções sociais do Estado e
pela rentabilização do património empresarial público, colocando-o ao serviço
dos interesses nacionais.
A superação da crise passa por uma política fiscal justa e progressiva, que
alivie os encargos sobre os rendimentos do trabalho e que tribute de forma justa
e sem subterfúgios, os rendimentos do capital, a especulação financeira, o
património mobiliário e os bens de luxo. A repartição dos encargos fiscais deve
ser feita de modo a que paguem mais aqueles que mais têm e que mais podem pagar,
em vez de como até aqui, fazer com que paguem mais aqueles menos têm, mas que
não podem fugir.
A superação da crise exige mais e melhor Estado, e não aquilo que nos
pretendem impor, que é menos e pior Estado. Os recursos públicos devem ser
utilizados para garantir a justiça social, para assegurar serviços públicos
acessíveis e de qualidade, que sejam fatores de progresso e de melhoramento das
condições de vida da população em geral e para garantir níveis de investimento
público, economicamente reprodutivo, que potencie o crescimento económico e a
redução das assimetrias de desenvolvimento.
O que o país precisa não é de reduzir a despesa com a saúde, a educação ou a
segurança social dos trabalhadores e das suas famílias. Reduzir a despesa à
custa das funções sociais do Estado é fazer pagar os mesmos de sempre. É outra
face da mesma austeridade. Não é aí que estão as gorduras do Estado.
O que o país precisa é de reduzir a despesa com a parasitagem dos recursos
públicos pelos interesses privados. É de reduzir a engorda dos grupos económicos
à custa do emagrecimento do Estado social. O que o país precisa é de acabar com
as rendas excessivas do sector da energia, com a hemorragia dos recursos
públicos em parcerias público-privadas, com as amnistias fiscais imorais às
fugas de capitais ou com a complacência perante a evasão fiscal dos ricos e
poderosos.
O que o país precisa e os portugueses exigem, é aquilo que este Governo não
quer. Por isso este Governo já pertence ao passado. As palmas que aqui recebe já
são de despedida. É hoje uma evidência que este Governo está escaqueirado e que
os partidos da coligação já nem conseguem apanhar os cacos do chão.
Este Governo pertence ao passado porque os portugueses acreditam que o país
tem de ter futuro e porque em cada dia que passa aumenta a convicção da
necessidade de uma política alternativa, que existe, e que mais cedo que tarde
acabará por se impor.
Disse.
5 comentários:
Se cada eleitor entendesse estas palavras, tudo seria diferente. Entre programas fúteis e muito futebol, não há lugar para intervenções que alteravam a vida de todos nós.
Mas, a Luta Continua.
Boa Semana e Gd BJ,
GR
Em cheio!
Abraço.
Grande intervenção. Depois digam que não há alternativa. Alternativa há, só que não serve para este governo e seus patrões.
Um beijo.
Quem fala assim não é gago... Análise rigorosa, sucinta e concisa.
Como eu tenho orgulho nos nossos deputados.
Bjo
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