domingo, maio 05, 2013

Notas à pressão e reflectida certidão de existência


Certidão de existência
(para informação da jornalista Clara Ferreira Alves)

Os factos – No regresso ferroviário de mais uma actividade de in/formação (auto e altero) em que me comprazo há já muitas décadas – esta, na Universidade Popular do Porto –, continuava a minha indispensável actualização solitária a ler o semanário Expresso, quando tropecei na Revista cuja capa me atirou para prioritária leitura da entrevista com o meu colega João Ferreira do Amaral. Tropeço foi esse que em tropeção se tornou quando, após o introito, a entrevistadora põe o que seria a primeira pergunta, que pergunta não foi mas a afirmação de que “subitamente, passou de ser o idiota da aldeia para ser o homem do momento”. E o tropeção foi tal que, embora não me tenha impedido de ler o resto, terá sido gota que extravasou o copo ou, em expressão erudita, o pequeno salto que mudou a quantidade de silenciosa resignação em qualitativo sobressalto de indignação que me obriga a esta:

CERTIDÃO DE EXISTÊNCIA
Eu, Sérgio Ribeiro, cidadão português com cartão que o comprova, que tomou Partido há 54 anos, vem, por esta via, certificar que existe, e informar ou lembrar
- que, enquanto na tarefa de deputado no Parlamento Europeu, votou contra o Tratado de Maastrich
- que, na sequência da aprovação deste, integrou a comissão monetária encarregada de criar a União Económica e Monetária e respectivos instrumento (moeda única) e instituição (BCE)
- que, nessa situação, publicou muito comentário adrede julgado oportuno, inclusive um livro (em  1994, Décadas de EUropa, de que se anexa fotocópia de capa e dois gráficos)
- que, em 1997, publicou um outro livro, formado por 40 fichas que serviam de fundamentação técnica e argumentos políticos para um Não à Moeda Única (cuja fotocópia de capa se junta)
- que, no dia 2 de Maio de 1998, fez uma declaração de voto, no Parlamento Europeu, sequente à votação da criação do euro nessa instância, que se reproduz em anexo, e com fundamentação que se vê hoje reproduzida como se original (e “descoberta”) fosse… para passar adiante sobre o pretendido insulto de “idiota da aldeia” de que JFAmaral é redimido, mas que a outros se colou como etiqueta ou tatuagem
- que, desde então, tem procurado dar a conhecer as posições tomadas, acompanhar e contribuir para minorar as consequências da decisão contra a qual votou, como parte de um colectivo, em múltiplas acções de informação e esclarecimento, nunca na postura balofa e emplumada de “veem como tínhamos razão”.

Razão de ser (da certidão) - No regresso do Porto, guardava uma citação que lá fizera [de Mestre Armando Castro (1918-1999)] a lembrar a frase que Mark Twain (1835-1910) atribuíra a Benjamin Disraeli (1804-1881) “há três espécies de mentiras – as mentiras simples, as mentiras maliciosas e as estatísticas” e, na viagem, juntei uma quarta espécie: as mentiras do apagamento da verdade.
O cordão sanitário relativamente às posições e argumentos do PCP, e de quem com ele seja conotado, combate-se com a luta, mas pode ter contornos pessoais que levam ao grito individual. Aqui fica este, que não pretende ser tão-só individual mas reagir a esse silêncio e menosprezo anatematizador que a entrevista publicada ilustra, e leva ao paroxismo quando subentende subliminarmente que, a acompanhar JFA, estiveram “economistas americanos importantes”… enquanto cá pela aldeia teria sido o “idiota” isolado e recuperável.
Na entrada da escola minha e do colega João Ferreira do Amaral (por quem tenho muito respeito… e discordâncias), Bento de Jesus Caraça diz-nos que não se deve temer o erro se se está pronto a corrigi-lo.
Parafraseio dizendo que se pode aceitar o silêncio de quem ignora, mas deve repudiar-se a persistência do silêncio intencional de quem está (ou deve estar) informado. 


certitfico-me, 
logo, existo!  

3 comentários:

Justine disse...

Excelente texto. Necessária denúncia!

samuel disse...

A Clara é "fantástica"!!! :-) :-)

Um abraço "idiota".

Olinda disse...

Pois,mas para os/as "jornalistas",ao servico das empresas de comunicacao,as posicoes tomadas pelos comunistas nao sao para ter em conta.Como dizia o Salazarinho:Nao se fala deles,logo nao existem.

Um beijo