- Edição
Nº2073 - 22-8-2013
_______________________________________________
_______________________________________________
O melhor de todos
Há já algum tempo que é geralmente referido como o melhor ministro do
governo Passos Coelho. Sem que seja dito com suficiente clareza as razões
presumivelmente fundadas dessa boa reputação, acrescente-se. Para quem queira
investigar os motivos do galardão (e também, de caminho, do grau de grande
oficial da Ordem do Infante D. Henrique com que já foi agraciado) há, porém,
algumas pistas. Uma delas é a sua passagem por altos cargos do grupo BCP
Milenium, grupo que por sinal tem tido uma existência atribulada ao nível da
gestão e não só, como se vai sabendo. A mais notória tem a ver com a sua
passagem pela Direcção Geral dos Impostos que comandou durante cerca de três
anos, findos os quais apresentou resultados considerados muito positivos quanto
à arrecadação de impostos e contribuições. Atribuiu-se-lhe o mérito desse
êxito, naturalmente, mas um pormenor permite algumas dúvidas quanto a essa
atribuição: é que Paulo Macedo, Director Geral dos Impostos, uma vez obtida a
vitória, mandou rezar missa de acção de graças pelo resultado conseguido, como
aliás a TV então noticiou em reportagem breve, o que permite conjecturar que o
verdadeiro mérito do sucesso alcançado se situou a um nível substancialmente
mais alto que o do senhor director. De qualquer modo, é certo que esse momento
da sua carreira lhe granjeou prestígio e sem ele talvez Paulo Macedo não
tivesse transitado para as actuais funções de ministro da Saúde, isto é, para
um Ministério em que seria porventura mais urgente tratar de cortar nas despesas
que no número de óbitos. De então para cá, os utentes do Serviço Nacional de
Saúde gemem não só por efeito das doenças que os afligem mas também do aumento
dos custos que têm de suportar, os hospitais queixam-se de carências de alguns
meios designadamente quanto a medicamentos para tratamento de doenças muito
graves, o encerramento da Maternidade Alfredo Costa surgiu como escândalo de
impacto nacional, mas Paulo Macedo continua a ser apontado pela comunicação
social (com o habitual destaque para a televisão) como sendo o melhor ministro
da equipa um pouco mutante do dr. Passos Coelho. O que parece justificar nova
missa de acção de graças.
A dúvida que fica
Ora, aconteceu que o dr. Paulo Macedo surgiu um dia
destes, ainda que indirectamente, na conversa havida no programa «Discurso
Directo» da TVI24. Como decerto todos sabem, o «Discurso Directo» é um programa
dito interactivo: os telespectadores telefonam para lá, expõem as suas queixas,
razões ou sem-razões, são atendidos aliás muito bem pela jornalista Paula
Magalhães e em princípio esclarecidos por um convidado diferente em cada
emissão. Naquele dia, o convidado era o dr. José Manuel Silva, bastonário da
Ordem dos Médicos, e não decerto por coincidência veio à conversa o caso da
concentração de urgências nocturnas num só hospital, em Lisboa, a partir do
próximo mês de Setembro. Para poupar, como facilmente se adivinha, embora no
caso a poupança possa corresponder a mais horas de espera em sofrimento e
angústia. Foi então conhecido que o senhor ministro Macedo justificou a redução
do serviço nocturno de urgências hospitalares com o facto de a medida já ter
sido adoptada no Porto supõe-se que sem reclamações, digo eu, nem dos doentes
recuperados nem dos eventualmente falecidos. Tudo bem, dir-se-ia. Só que ao dr.
José Manuel Silva deu para prestar uma informação decisiva como aliás lhe
cumpria: que o universo estimado de doentes na área do Porto, quarenta mil, é
de metade do universo estimado dos doentes que na área de Lisboa necessitam
eventualmente de serviços nocturnos de urgência hospitalar, oitenta mil. Assim
se tornou evidente que o dr. Paulo Macedo, não apenas ministro mas também o
melhor de todos os ministros actuais (e porventura dos pretéritos, quem sabe?)
manipulara os dados sem visíveis escrúpulos para implementar uma alteração mais
que discutível, aparentemente inescrupulosa, talvez cruel. Pelo que fica a
dúvida: se, como tem sido repetido, é condenável que um ministro vulgar minta a
deputados em sessão de inquérito parlamentar, o que deve dizer-se quando o
melhor dos ministros mente ao país inteiro?
Correia da
Fonseca
(de antologia!)
(de antologia!)
2 comentários:
E mesmo sendo verdade , será uma justificação para manter apenas aberta uma urgência noturna em Lisboa?
Os mortos realmente não reclamam!!!
Um beijo.
Paulo Macedo irá destruir o SNS. Deem-lhe tempo e verão. Acordai portugueses.
Enviar um comentário