de :
Governo britânico mente
–
ainda nem identificou o químico utilizado
28 DE MARÇO DE 2018
A primeira-ministra britânica, Theresa
May, anunciou que a Rússia é responsável pelo envenenamento do seu espião,
Sergei Skripal. O Supremo Tribunal de Justiça desmentiu-a.
O
documento cita as conclusões dos testes realizados pelo laboratório de Porton
Down: «Amostras de sangue de Sergei Skripal e de Yulia Skripal foram analisados
e as conclusões indicaram a exposição a um agente nervoso ou a um composto
relacionado. As amostras acusaram a presença de um agente nervoso da classe
Novichok ou relacionado.»
Estas duas
frases, que constam de uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça
britânico da passada quinta-feira, desmentem as acusações peremptórias da
primeira-ministra, Theresa May, e do seu ministro dos Negócios Estrangeiros,
Boris Johnson, que afirmam que o envenenamento do espião duplo e da filha foi
executado por agentes russos.
Skripal e
a filha foram encontrados inconscientes no passado dia 4 em Salisbury, no sul
de Inglaterra, onde o espião vive desde que foi envolvido numa troca de
prisioneiros ligados a actividades de espionagem entre a Rússia e os
Estados Unidos da América (EUA). Sergei Skripal foi, durante anos, um agente
duplo britânico nos serviços secretos da Federação Russa, até ser descoberto em
2004 e condenado a 15 anos de cadeia por alta traição em 2006. Em 2010 foi
perdoado pelo presidente Dimitri Medvedev e mudou-se para a cidade inglesa.
Agente «russo» foi sintetizado no Irão em 2016
A classe de agentes nervosos «Novichock» terá sido desenvolvida
num laboratório do Uzbequistão, algures entre as décadas de 1970 e de 1990.
Cientistas iranianos, sob supervisão da Organização para a Proibição de Armas
Químicas (OPAQ), sintetizaram cinco compostos que, alegadamente, integram a
classe «Novichock» e que, de acordo com informação avançada por José Goulão
ontem, na TVI24, também
estão na posse dos EUA e do Reino Unido – precisamente no laboratório de Porton
Down, que fica a cerca de dez quilómetros da cidade de Salisbury.
Os agentes «Novichock», em relação aos quais existe mais
especulação do que informação concreta, pelo menos desclassificada, são
organofosfatos, tal como os agentes da classe do Sarin (desenvolvido pela
Alemanha) ou da classe do VX (desenvolvido pelo Reino Unido). Num artigo, o OffGuardianlembra que
a formulação utilizada pelo Supremo pode indicar a presença de um qualquer
organofosfato.
Recorde-se
que a Rússia, ao contrário dos EUA, desmantelou todo o seu arsenal químico
declarado em Setembro passado, de acordo com a OPAQ. Supostos ataques com armas
químicas têm sido utilizados como argumento para a agressão à Síria por parte
dos EUA e dos seus aliados, nenhum dos quais confirmados por investigações
independentes. Também a Síria destruiu o seu arsenal químico sob supervisão da
OPAQ.
Escalada diplomática
Até à noite passada, 26 países tinham expulso ou anunciado a
intenção de expulsar diplomatas russos, para além do Reino Unido, de
acordo com a CNN. O
Governo português não o fez, chamando o seu embaixador em Moscovo para
consultas, apesar de ter apoiado a decisão de expulsar parte da representação
russa junto da NATO.
Apesar de
a cautela do Executivo nacional contrastar com a posição da maioria dos
estados-membros da União Europeia que anunciaram a expulsão de diplomatas
russos (18, para além do Reino Unido), Portugal não ficou isolado no quadro
europeu e, muito menos, no plano mundial.
Já o PSD,
pela voz do seu líder parlamentar Fernando Negrão, esta manhã, exigiu
do Governo a expulsão de diplomatas russos em Portugal. Para Negrão,
«devemos alinhar com a maioria daqueles com quem temos estado sempre». Em 2003,
também com alegações britânicas de que Saddam Husein dispunha
de armas químicas (que se vieram a provar inexistentes), o
governo do PSD e do CDS-PP alinhou com os EUA e o Reino Unido na
agressão ao Iraque, acolhendo mesmo a cimeira da guerra na base das Lajes,
nos Açores.
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