Bom dia! Do Expresso curto:
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Pedro Santos Guerreiro
Diretor
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Anda o país a celebrar
o baixo défice orçamental de 2017 e o ministro das Finanças
a exultar, como fez em entrevista ao Expresso, que ele
“reflete o extraordinário estado da saúde da economia portuguesa”. E depois
isto. “Isto?” Isto da
Cultura. “Ah, aquilo”. Sim, isto próximo que parece aquilo
distante a quem vê a Cultura como chá das cinco da manhã, que é quando
estão a dormir.
“Somos todos Centeno”
é o autocolante de automóvel do ano para os ministros. O pai da frase foi
Adalberto Campos Fernandes, da Saúde, mas tem outros cunhados. Como o
ministro da Cultura, que como todos os antecessores mendiga aumentos anuais
num orçamento sempre miserável. O primeiro-ministro bem disse (e disse bem)
no passado que a Cultura está em toda a governação, está em toda a economia
e política, está na vida do país porque sem ela o país não é bem um país
vivo. Está em todo o lado, sim. Só não está no Orçamento.
“Isto da Cultura” são as críticas em peso do setor artístico ao governo,
depois de terem sido divulgados os
resultados provisórios do Concurso ao Programa de Apoio Sustentado 2018-2021 da
Direção-Geral das Artes, que financia grande
parte da atividade artística em Portugal. Atores, encenadores e
programadores exigem uma reunião com o primeiro-ministro
e o PSD fala em “fracasso da política cultural”.
Não tarda leremos colunistas e ouviremos economistas a falar da casta da
“subsídio-dependência” que “tem de ser posta na ordem”, nessa espécie de
ímpeto disciplinador que nunca justifica o concreto e se embaraça no geral.
Talvez esse seja o maior retrocesso deste processo: em face da retirada de
apoios a companhias que os recebiam há anos, e que sem eles podem fechar, o debate público andou 15 anos para
trás e centrou-se exclusivamente no dinheiro distribuído e
não distribuído. Pensávamos já ter ultrapassado a exiguidade febril do
discurso da “subsídio-dependência”, mas não se ouviu ninguém explicar a
política para a cultura nem explicar para que ela serve e deve servir.
Digam-me um político que saiba explica a cultura ao país, eu não ouvi nenhum.
O ministro da Cultura não disse nada e desta vez disse nada sem falar. O
secretário de Estado Miguel Honrado tentou explicar que dar oportunidades a
novos criadores implica deixar de apoiar outros, não justificando as
escolhas. Algumas estarão certas, outras erradas, mas a quadrícula parece
ser “não sabe/não responde”, pois não conseguimos perceber se faz sentido
ou não deixar de apoiar esta ou aquela companhia, porque a explicação
infalível é de que “não há dinheiro”. Sim, são todos Centeno.
Com uma nova geração muito mais cosmopolita e mais culta (infelizmente, não
mais lida), a cultura entrou nos hábitos de públicos mais vastos e na
política central de várias cidades do país. Isso gerou não apenas mais
projetos, como “cidades-projeto”, como mais “eventos” que concentram
pessoas e paradoxalmente as desviam do que não é ou parece ser pop ou trendy. Ao Estado cabe
preparar terreno para os criadores, claro. O governo não deve sequer
promover cultura, deve ser cultura.
E, sobretudo, não ser a vírgula de um orçamento nem a casa decimal da
atenção. Afinal, isto interessa a quem? “Isto?” Isto da Cultura. “Ah,
aquilo”.
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Ah!...
e aquela coisa do
"carácter endémico do endividamento na saúde"?;
e aqueloutra da
"recuperação do investimento público"
com o peso no PIB em 1,8%
apenas superior aos 1,6% de 2016?
1 comentário:
Só coisas irrelevantes!!
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