Ontem, de manhã, confirmado ao longo do dia:
Um rio com a alcunha de basófias
De vez em quando,
zangava-se.
E de aí lhe vem a alcunha.
Sim, porque não é agradável
ser-se conhecido – ou ignorado, o que não é o mesmo mas será igual… – por chochinho, como se fosse apalermado, como se
fosse daqueles para quem está sempre tudo bem.
De vez em quando,
irritava-se. Tinha pequenos arrufos, A modos de quem diz olhem que estou vivo, e faço parte da vossa vida.
E as gentes à volta
olhavam-no, sorriam, faziam-lhe uma festa, ou integravam-no numa das suas
festas, passavam-lhe a mão pelo pêlo, isto é, pelas suas águas. Estava ali, e
por ali passava fazendo poucas ou nenhumas ondas. Por isso o punham à margem.
Ou seja, entre as margens.
Nada de violências. Nada que
fizesse lembrar Brecht e a sua esclarecedora (como tantas, como todas…) versão sobre
quem é que é violento: as margens que oprimem os rios, ou os rios, contidos
entre margens, que contra elas se revoltam.
Desta vez, porém, o
chochinho, o panhonhas, que fazia sorrir com as suas basófias, fartou-se.
Cansou-se. Por ares e ventos e chuvas, uma dita Elsa e mais um outro qualquer
vieram dar-lhe uma força que não tinha, ou que julgavam que não tinha, ou que diziam
ser tudo apenas basófias.
Mas não eram. Na história do
rio. Há onde se assinalem ciclos de alguma gravidade. De 50 em 50 anos, ou de
20 em 20. E a última fora no começo deste século. E, desta vez, foi mesmo muito
grave.
Acicatado pelos temas que
andam na moda, como se moda fossem, e não reais problemas que o capitalismo
cria e agrava com a sua obsessão do lucro, que polui e procura lucro no que
possa vir em socorro do poluído, que destrói com as armas que fabricou para ter
lucros depois de mercandejadas para destruírem e depois vem fazer da
reconstrução do destruído, desde que dê lucro, novas fontes de lucro, parece
que o tal basófias transbordou e
derrubou o pouco ou mal construído para que ele corresse nunca oprimido a
caminho da foz, que é em Figueira da dita, depois de passar por Coimbra.
Logo vieram os que têm de
vir, os que acham que é oportuno vir, os que vêm sempre. Logo disseram os que têm
que dizer, os que acham que é de aproveitar o que aconteceu para dizerem, os
que têm sempre que dizer.
Eu, também. Pois então…
E, depois – às vezes, até
antes –, há toda a parafernália de leituras e de interpretações dos que fazem
comunicação e comunicações sobre os que vieram e os que não vieram e deveriam
ter vindo, sobre o que foi dito e suas intenções e o que não foi dito e deveria
ter sido.
O basófias inchou. Ainda mais!
3 comentários:
Já te disse hoje e repito: excelente texto!
O "surdo murmúrio do rio,a deslizar..."como Miguel Torga cantou o Mondego,cansou-se de ser pausado.É assim,também,com os povos que parecem quietos:Só precisam de uma "Elsa",para os despertar.Bjo
Enviar um comentário