sábado, outubro 31, 2020

Reflexões lentas - aqui, "ao torno"...

do quase-diário, neste sábado de acalmia (nossa):

«

(...)

Entretanto, o "X" mandou-me cópia do mail que enviou  ao psiquiatra dele, relatando-lhe uma queda abrupta por lhe terem cortado os prémios no salário, pelo 2º mês consecutivo.

 

& ----- & ----- &

 

A fragilidade em que se está a viver é assustadora, e o "X" tem dela consciência, faz dela uma arma e uma justificação… é um caso (diria…) interessante.

 

& ----- & ----- &

 

No entanto, nessa quase-lucidez ou lucidez justificativa (de quê?, para quê?), o que descortino como muito mais grave é o que está na situação objectiva de tantos e tantos jovens, na sua instabilidade, na precariedade dos seus laços, e na incapacidade (ou dificuldade) de irem bem ao fundo das coisas, não encontrarem, no meio da palha das palavras, o grão da relação laboral.

 

& ----- & ----- &

 

Que tempo este que estamos a viver!

 

& ----- & ----- &

 

Escrevia eu, em Março (já, ou só, há 8 meses!):

 

1.     (…)

2.     Num outro plano, no da necessária adaptação das relações de produção à evolução das forças produtivas, o actual momento histórico parece explodir com este rastilho de crise sanitária e, sobretudo, com o seu aproveitamento.

O trabalho em casa, o tele-trabalho e outras modalidades surgem como recurso para compensar a impossibilidade ou perigosidade de grupos e equipas, e afigura-se-me que está a ser tentado fazer, como emergência, o que seria muito difícil de conseguir em situação normalizada e com natural e evidente luta de interesses antagónicos de classe. Nas “soluções” emergentes, devido à emergência!…, o trabalhador fica isolado, o seu camarada do mesmo tipo ou perfil de trabalho surge-lhe – é-lhe apresentado ou sugerido – como seu concorrente, não há contratação colectiva, proíbe-se as greves, horários de trabalho são inexistentes e geridos em função dessa concorrência, também quase impossibilitadora de posições colectivas e solidárias. A precariedade aparecerá como inevitável.

A situação sindical pode vir a ter de confrontar gravíssimos problemas no seu papel de organizações de defesa económica dos trabalhadores e das suas condições de trabalho, nomeadamente na questão dos horários, verdadeiramente básica para a concepção do trabalho como criador e social, e do tempo livre como objectivo e expressão de liberdade.

Nos países ditos desenvolvidos, do capitalismo em fase imperialista, colonialista-nova maneira (expressão que entrou em desuso, mas que não perdeu sentido), as relações laborais poderão vir a sofrer alterações profundas e perniciosas, nessa perspectiva do trabalho como único criador de valor e na luta contra a exploração dos trabalhadores a partir da mercantilização da força de trabalho.

No panorama ou xadrez internacional, na inoperacionalidade ou até servilismo das Nações Unidas, é cada vez maior a importância da China (e do seu modo de ser o mais populoso Estado do mundo, e com um Partido que se afirma comunista no poder), da Rússia (o maior país do mundo, que tem recusado submeter-se à estratégia do capitalismo financeiro transnacional) e dos povos que se libertaram e não aceitam recuar na sua soberania.

(…)

& ----- & ----- &

(...)

»

2 comentários:

Olinda disse...

Verdades!Ainda está por fazer um verdadeiro estudo sobre a estratégia capitalista no aproveitamento do novo vírus,no que toca às relações laborais,e as consequentes transformações sociais.Bjo

Maria João Brito de Sousa disse...

Poderá não haver ainda um estudo profundo, mas é tão óbvio, esse aproveitamento...

Abraço!