sábado, outubro 31, 2020

Reflexões lentas - privados sem disponibilidade para o que é geral, público e de emergência grave

 O Público de ontem trazia um artigo (de Ana Maia) que deveria dar que pensar. O título é Privados sem disponibilidade para "doentes covid" em Lisboa. É, nesse título e no que abaixo dele vem com assinalável objectividade, toda uma questão a que se pretende fugir mas que está presente em todos nós, nas nossas opções cidadãs. 

A nossa Constituição tem por base privilegiar o interesse colectivo (da colectividade!) sobre o interesse do indivíduo (individual). Pelo menos assim a li, e a leio, apesar das suas 7-revisões-7. E, na parte económica (que, por deformação profissional... mas também cidadã, é a que mais me pre-ocupa) está lá explícito que a nossa economia tem áreas ou sectores - o público, o privado, o cooperativ - que deverão coexistir tendo em atenção, obvia e constitucionalmente, o seu sentido de lei-geral a que todas as leis, regras e comportamentos pessoais devem respeito... e obediência se for caso disso.

Como é possível, assim, desrespeitar-se o fundamento da nossa convivência nacional quando a "actividade programada" para servir objectivos privados, legítimos mas necessariamente condicionados pelo interesse colectivo, pode servir para se afirmar indisponibilidade perante situações de reconhecida gravidade na comunidade?; como pode ser dito que não se tem "disponibilidade (para doentes) com covid" porque "fizeram os seus planos e não contaram com isso" (quem é que contou?)? Podem esses "seus planos" privados prevalecer numa situação que se define entre emergência, calamidade, e outros qualificativos que resultam da enorme gravidade da situação?, e simultaneamente - ajustando os "seus planos"... - aproveitar a oportunidade para tirar benefícios de actos necessários e decorrentes da situação geral, colectiva?


1 comentário:

Olinda disse...

Uma indisponibilidade que diz muito sobre o carácter mercenário da saúde privada.Bjo