domingo, novembro 22, 2020

inFormar-SE (n)

A informação que nos chega aos sentidos (olhos e ouvidos), por via da chamada comunicação social (e também – e crescentemente – as chamadas redes sociais), forma a nossa consciência ou percepção[1] da realidade.

As notícias (verdadeiras ou falsas), e as suas interpretações, são como grãos ou caroços lançados à terra para que haja sementeira. Mas o solo em que caem não está todo tratado, ou preparado para os receber, do mesmo modo, havendo solo virgem e/ou já adubado.

Nos tempos que correm há uma evidente polarização da informação que nos chega, isto é, os assuntos que são objecto dessa informação reduzem-se a dois ou três, em que insistentemente se insiste…

O surto epidérmico e as eleições presidenciais nos Estados Unidos ocupam os noticiários e os comentários de uma maneira geral, completados em quase exclusividade por temas relacionados ou pontuais, como o OGE, o acordo – ou entendimento ou o que for – entre o PSD e uma coisa chamada Chega, o XXI Congresso do PCP.  

 Para quem esteja ainda virgem de informação (por idade, por estado de pureza improvável, por desembarque recente de um outro planeta), ou já tenha sido objecto das primícias de uma formatação, via catequese nas suas diferentes modalidades e crenças (nestas se incluindo as familiares ou hereditárias), esta informação que nos – e refiro-me a nós, habitantes, em Novembro de 2020 do continente Europeu (central e ocidental), particularmente no canto inferior esquerdo – invade é muito selectiva. 

Esta informação menospreza, quando não consegue ignorar, minudências como o que se passou ou passa na Bolívia, ou no Chile, os acordos lá pelo longínquo oriente que (apenas) respeitam a 1/3 da população mundial e inclui o país  que, sendo o mais povoado de todos, é o único dos referenciáveis que não viu a sua riqueza (tal como as estatísticas adoptadas a mensuram) diminuir. Continuando a crescer e por forma que conseguiu retirar dezenas e dezenas de milhões de coevos da miséria, da pobreza não só estatística.

O que poderia ser confrontado com o que acontece por paragens mais próximas de nós, em que, quando crescem os conjuntos estatistificados (E.U.A., U.E. e suas parcelas, e arredores), mais crescem os que mais têm e menos crescem os que menos têm, 

e quando acontece diminuírem, como está a ser a actual idade, ainda assim, há os que, entre os que mais têm, aproveitam para mais aumentarem o que têm, e, em contrapartida, os que menos têm aumentam em número e vêem diminuir o que é seu.

Mas disso não se fazem contas que sejam informação corrente e alargada, bem pelo contrário.

Por isso se valoriza a partícula reflexiva SE que se deveria juntar, sempre, ao verbo informar, isto é, informar é preciso mas mais necessário é informar-SE. Essa postura coerente com a tomada de consciência (ou percepção…) do tempo que se vive, não exigirá, necessariamente, a procura de outra informação, poderá começar por ligar informações deslocadas no tempo e nos espaços informativos aparentemente sem ligação.

Por exemplo, a notícia de que


pode ser lida como algo que se assemelha a um condicionamento da liberdade individual (como o fez o deputado da IL, protestando), a uma requisição civil justificada pela gravidade da situação, 
e pergunta-se porque se toma tal medida e não se faz o mesmo, ou antes, ou também, relativamente aos serviços privados ou privatizados que “concorrem” com o SNS, e que – pelo contrário – estão a auferir vantagens enormes no combate a esta situação





e pode (e deve!) ainda ser lida em conexão com outras, como a de que

«O preço de internamento de doentes Covid-19 em hospitais privados era de 1962 euros, sendo agora 2495 euros. - um aumento de 533 euros em relação à convenção que existia e que foi agora renovada.

 Nos cuidados intensivos, o preço foi desdobrado em duas fases: ventilação inferior a 96 horas, corresponde a 6036 euros, e ventilação superior a 96 horas, são 8491 euros.»

(Tabelas calculadas, evidentemente, com base não dos custos mas os lucros a apropriar… que não serão pequenos.)

Se num caso se fala em requisição civil – que bem justificada seria se a gravidade da situação o justificasse, o não se fazer no outro caso, comportando transferência de verbas, que – afirme-se – são de todos nós, para os bolsos já a deitarem por fora de privados…  nunca satisfeitos.

Sacrifícios de direitos dos trabalhadores quando as circunstâncias o exigem… mas, em contrapartida, negócios chorudos e oportunidades aproveitadas por alguns à custa do que é de todos, só revela a natureza de classe e a exploração a ela associada no mundo em que vivemos e na correlação de forças que predomina.

Natureza de classe que pode tomar outras expressões que a informação revela, ao mesmo tempo que o faz escamoteando-a, escondendo-a, dando notícia e fazendo campanha sobre factos que possam atingir quem e o quê, sendo de outra classe, denuncia e combate, procurando contribuição para a transformação do mundo.

Na comunicação social (e o Presidente da República, seu elemento, alimento e fautor) fazem do congresso de um partido – o PCP – notícia, como o fizeram do 25 de Abril, do 1º de Maio, da Festa do Avante!, aproveitados para tiros no mesmo alvo (que no 25 de Abril e no 1º de Maio nem alvo poderia ser), ecoando, em campanha exorbitante, sobre o tema, assim servindo interesses e forças que se aproveitam de todos os pretextos, como oportunistas que são.

E tal é feito de maneira a perverter uma característica (qualidade?!) deste partido – o seu sentido de prevalência do colectivo e a sua disciplina –, como sendo não o garante do cumprimento de regras que outros menosprezam ou desprezam, mas fazendo a denúncia de excepções que não existem, procurando conotações com acordos e alianças que não há, dando relevo à ironia grosseira e infame de que poderia ser excepção a aproveitar para que viesse a haver Natal este ano.  

continua, claro...

[1] - vocábulo traduzido em escrita como perceção, o que ilustra um dos absurdos procurados impor pelo AO [acordo (?) ortográfico] , e que Marcelo utiliza com intenção que talvez adiante comente.

5 comentários:

Olinda disse...

Boa reflexão!Fico à espera da continuação.Bjo

zecadanado disse...

Existe na sociedade portuguesa um enorme preconceito relativamente ao PCP, inquestionável. Não percebo qual é a estratégia de estar a fomentar ainda mais tal preconceito. Um partido político não deve nunca ser confundido com um sindicato, tout court, a sua praxis não se esgota na mui nobre actividade sindical.

Sérgio Ribeiro disse...

O que o meu caro zecadanado não percebeu é que o PCP é um partido DIFERENTE, e é por o ser que é fomentado por toda a forma e feitio (mentirosa, violenta se e quando possível) aquilo a que chama preconceito, e que é a expressão de uma luta de classes contra o inimigo. Não é complexo de perseguição, é experiência de muitos anos - no PCP, um século - e vendo outros como o PCP caírem nas armadilhas de se procurarem mostrar IGUAIS e, assim, muitos desaparecerem. Não faz parte da estratégia criar "situações que fomentem preconceito", mas sim defender os seus direitos E OS DIREITOS DE TODOS. Não tem nada a ver com actividade sindical. É actividade política. O PCP não é a CGTP, nesta estão militantes seus que procuram unidade com outros forças - e têm-na embora não tão larga como desejariam -, que defendam os mesmos direitos no plano sindical. Dirá que "é conversa"... para mim é onde luto para que seja prática.
Saudações

Maria disse...

Vivemos tempos difíceis.....

Sérgio Ribeiro disse...

se são!... mas quais o não foram?!