A informação que nos chega aos sentidos (olhos e ouvidos), por via da chamada comunicação social (e também – e crescentemente – as chamadas redes sociais), forma a nossa consciência ou percepção[1] da realidade.
As notícias (verdadeiras ou falsas), e as suas interpretações, são como grãos ou caroços lançados à terra para que haja sementeira. Mas o solo em que caem não está todo tratado, ou preparado para os receber, do mesmo modo, havendo solo virgem e/ou já adubado.
Nos tempos que correm há uma evidente polarização da informação que nos chega, isto é, os assuntos que são objecto dessa informação reduzem-se a dois ou três, em que insistentemente se insiste…
O surto epidérmico e as eleições
presidenciais nos Estados Unidos ocupam os noticiários e os comentários de
uma maneira geral, completados em quase exclusividade por temas relacionados ou
pontuais, como o OGE, o acordo – ou entendimento ou o que for – entre o PSD e
uma coisa chamada Chega, o XXI Congresso do PCP.
Esta informação menospreza, quando não consegue ignorar, minudências como o que se passou ou passa na Bolívia, ou no Chile, os acordos lá pelo longínquo oriente que (apenas) respeitam a 1/3 da população mundial e inclui o país que, sendo o mais povoado de todos, é o único dos referenciáveis que não viu a sua riqueza (tal como as estatísticas adoptadas a mensuram) diminuir. Continuando a crescer e por forma que conseguiu retirar dezenas e dezenas de milhões de coevos da miséria, da pobreza não só estatística.
O que poderia ser confrontado com o que acontece por paragens mais próximas de nós, em que, quando crescem os conjuntos estatistificados (E.U.A., U.E. e suas parcelas, e arredores), mais crescem os que mais têm e menos crescem os que menos têm,
e quando acontece diminuírem, como está a ser a actual idade, ainda assim, há os que, entre os que mais têm, aproveitam para mais aumentarem o que têm, e, em contrapartida, os que menos têm aumentam em número e vêem diminuir o que é seu.
Mas disso não se fazem contas que sejam informação corrente e alargada, bem pelo contrário.
Por isso se valoriza a partícula reflexiva SE que se deveria juntar, sempre, ao verbo informar, isto é, informar é preciso mas mais necessário é informar-SE. Essa postura coerente com a tomada de consciência (ou percepção…) do tempo que se vive, não exigirá, necessariamente, a procura de outra informação, poderá começar por ligar informações deslocadas no tempo e nos espaços informativos aparentemente sem ligação.
Por exemplo, a notícia de
que
«O preço de internamento de doentes Covid-19 em hospitais privados era de 1962 euros, sendo agora 2495 euros. - um aumento de 533 euros em relação à convenção que existia e que foi agora renovada.
Nos cuidados intensivos, o preço foi desdobrado em duas fases: ventilação
inferior a 96 horas, corresponde a 6036 euros, e ventilação superior a 96
horas, são 8491 euros.»
(Tabelas calculadas, evidentemente, com base não dos custos mas os lucros a apropriar… que não serão pequenos.)
Se num caso se fala em requisição civil – que bem justificada seria se a gravidade da situação o justificasse, o não se fazer no outro caso, comportando transferência de verbas, que – afirme-se – são de todos nós, para os bolsos já a deitarem por fora de privados… nunca satisfeitos.
Sacrifícios de direitos dos trabalhadores quando as circunstâncias o exigem… mas, em contrapartida, negócios chorudos e oportunidades aproveitadas por alguns à custa do que é de todos, só revela a natureza de classe e a exploração a ela associada no mundo em que vivemos e na correlação de forças que predomina.
Natureza de classe que pode tomar outras expressões que a informação revela, ao mesmo tempo que o faz escamoteando-a, escondendo-a, dando notícia e fazendo campanha sobre factos que possam atingir quem e o quê, sendo de outra classe, denuncia e combate, procurando contribuição para a transformação do mundo.
Na comunicação social (e o Presidente da República, seu elemento, alimento e fautor) fazem do congresso de um partido – o PCP – notícia, como o fizeram do 25 de Abril, do 1º de Maio, da Festa do Avante!, aproveitados para tiros no mesmo alvo (que no 25 de Abril e no 1º de Maio nem alvo poderia ser), ecoando, em campanha exorbitante, sobre o tema, assim servindo interesses e forças que se aproveitam de todos os pretextos, como oportunistas que são.
E tal é feito de maneira a
perverter uma característica (qualidade?!) deste partido – o seu sentido de prevalência
do colectivo e a sua disciplina –, como sendo não o garante do cumprimento de
regras que outros menosprezam ou desprezam, mas fazendo a denúncia de excepções
que não existem, procurando conotações com acordos e alianças que não há, dando
relevo à ironia grosseira e infame de que poderia ser excepção a aproveitar
para que viesse a haver Natal este ano.
[1] - vocábulo traduzido em escrita como perceção, o que ilustra um dos absurdos procurados impor pelo AO [acordo (?) ortográfico] , e que Marcelo utiliza com intenção que talvez adiante comente.
5 comentários:
Boa reflexão!Fico à espera da continuação.Bjo
Existe na sociedade portuguesa um enorme preconceito relativamente ao PCP, inquestionável. Não percebo qual é a estratégia de estar a fomentar ainda mais tal preconceito. Um partido político não deve nunca ser confundido com um sindicato, tout court, a sua praxis não se esgota na mui nobre actividade sindical.
O que o meu caro zecadanado não percebeu é que o PCP é um partido DIFERENTE, e é por o ser que é fomentado por toda a forma e feitio (mentirosa, violenta se e quando possível) aquilo a que chama preconceito, e que é a expressão de uma luta de classes contra o inimigo. Não é complexo de perseguição, é experiência de muitos anos - no PCP, um século - e vendo outros como o PCP caírem nas armadilhas de se procurarem mostrar IGUAIS e, assim, muitos desaparecerem. Não faz parte da estratégia criar "situações que fomentem preconceito", mas sim defender os seus direitos E OS DIREITOS DE TODOS. Não tem nada a ver com actividade sindical. É actividade política. O PCP não é a CGTP, nesta estão militantes seus que procuram unidade com outros forças - e têm-na embora não tão larga como desejariam -, que defendam os mesmos direitos no plano sindical. Dirá que "é conversa"... para mim é onde luto para que seja prática.
Saudações
Vivemos tempos difíceis.....
se são!... mas quais o não foram?!
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