Tinha agendado fazer um comentário tão "virulento" quanto me permito, quando recebo este artigo do jornal PÚBLICO. (.. de Espanha!, não o de Portugal).
Resolvi traduzi-lo e transcrevê-lo:
Era uma vez, em Março, quando estávamos fechados em casa e assustados como Covid e se faziam discursos grandiloquentes no G20, na OMS e nas Nações Unidas, sobre a “universalização" dos tratamentos contra a pandemia... acreditei que o mundo podia ser melhor, que esta emergência sanitária global imporia sageza na gestão internacional da saúde.
Entretanto, passaram-se coisas como estas:
1 – A União Europeia já reconhece ter ter comprado mais de 1800 milhões de
doses de vacinas de 5 grandes empresas farmacêuticas, quando somos 450 milhões
de europeus. Cabem-nos 4 por cabeça; isto é, longe da gesta estadounidense que
já tem pré-compradas 8 vacinas por cada norte-americano!
Que loucura é esta em que se compram vacinas sem saber se vão ser usadas?
(…)
2 – O conselheiro delegado da Pfizer, Albert Bourla, vendeu metade das suas
acções no dia seguinte a anunciar, por nota de imprensa, que a sua vacina
era, presumivelmente, a escolhida, embolsando mais de 5 milhões de dólares
Mas não está proibido e penalizado que os directivos enriqueçam de maneira
fraudulenta? A sério?
3 – Os directores de Moderna, incluído o espanhol Juan Andrés, fizeram o
mesmo, depois de anúncio semelhante, e encaixaram 75 milhões, mas prometeram que não
voltariam a fazê-lo até que a sua vacina seja comercializada. Moderna lança uma
mensagem: fizemos algo de errado, mas não voltaremos a fazê-lo, não somos como a
concorrência.
Somos tão cretinos para que conceda valor publicitário a um anúncio como este
da Moderna? Que apoio social merece ser espertalhaço e dizer-se morto mas só um
bocadinho
4 – Os donos de Remdesivir, um
medicamento que também parecia solução, assinaram um contrato milionário com a
UE, de 2000 Euros por paciente, uns dias antes da OMS publicar um estudo que diz
que o seu medicamento não cura, nem encurta as hospitalizações. As suas acções
subiram e baixaram e, neste processo, alguém se aproveitou deste contrato, e com
ele, levou uns quantos milhões para casa.
Poder-se-ão devolver os Rendemsivir
que foram pagos a preço de ouro?; Porque nada se publica sobre isto, mesmo em letra pequena?
5 – AstraZeneca, a farmacêutica britânica por detrás da vacina de Oxford, prometeu não lucrar com a Covid “enquanto durar a pandemia”, mas não terá
contra si possíveis questões por responsabilidade civil por efeitos
secundários. Desconhecemos quem filtrou este significativo dado. Este acordo, assinado com a UE seria confidencial, mas autoridades europeias justificaram a
divulgação deste facto por seu preço ser o mais baixo. Com a soma destes
factores, os anti-vacinas já a terão colocado em primeiro lugar na sua lista
negra, ainda que quem possa levantar essas hipotéticas questões sejam os
Estados. Conclusão: a vacina de Oxford, a menos lucrativa, a mais solidária,
foi enlameada antes de começar a partida.
Não é uma pena que o exemplo de AstraZeneca não tenha sido propagado?; Não
deveriam os Estados, com o seu financiamento, apoiar mais, ou apenas, iniciativas
como esta?
6 – A União Europeia, com a Fundação Bill Gates e outros, assinou um acordo
para fazer empréstimos aos países mais pobres, que não possam pagar pelas
vacinas o que as farmacêuticas peçam. Os especialistas dizem que se Covax,
assim se chama o programa, conseguir cumprir com os seus objectivos logrará
levar algumas vacinas aos países mais pobres mas não aos médios.
Onde paga impostos na Europa a Microsoft? Como é possível que, uma vez
mais, se procurem e se assinem mecanismos para dar esmolas, em vez de se fazer
justiça?
e 7 – A 17 de Dezembro a Organização Mundial do Comércio decidirá se se
levantam patentes das vacina de Covid, enquanto dura a pandemia, para facilitar
o acesso universal a estes transcendentes medicamentos. Neste momento, India e
África do Sul pedem-no e Médicos do Mundo e centenas de associações pela
igualdade de direitos sanitários reclamam-no. Espanha posicionou-se com o resto
da UE, com Estados Unidos, Japão e outros países ricos estão contra. Todos
estes gastaram fortunas pré-comprando vacinas neste salve-se quem puder.
Pode argumentar-se, sem pudor, que o direito a especular prevaleça sobre o
direito mais humano de todos: o direito a continuar vivo? Como se justifica a
concorrência empresarial e a guerra comercial que existe, numa emergência
sanitária mundial? Se não somos capazes de colaborar para isto, como seremos
capazes de colaborar em qualquer outra coisa? Como é possível que, no século XXI,
as farmacêuticas procurem, sem limites, o seu lucro, com patentes por 20 anos,
quando muita da sua investigação é financiada com dinheiro público ou com pré-contratos
com os Estados? Para quando uns lucros de não mais de, digamos, 10%? Não é o
mais triste desta pandemia que ela não esteja servindo para avançar na guerra
mais larga, em que se luta por mais saúde, por menos insultante desigualdade,
ainda que seja à custa de menos negócio?
PS: Nem sequer um Governo que se dia de coligação de esquerdas vai ter a valentia de defender publicamente, em organismos internacionais, o que todos sabem que seria justo e necessário?
3 comentários:
Muita intriga,muito caos e ganância.É o capitalismo duro e espúrio .Bjo
Muito medo para quase todos, muito lucro para meia dúzia...
E o silêncio a que votam vacinas em muito melhor estado de desenvolvimento e com melhores resultados completamente silenciadas e possivelmente muito mais baratas? Os governos desta europa mais uma vez demonstram que servem o alto capital contra o interesse dos povos. E a maioria não acorda.
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