“democracia” à moda do
capital
(modelo e exemplo)
O esvaziamento conceptual das palavras, ou a desvirtualização
do que é apregoado como valores, faz parte essencial da agressão ideológica que
é enroupada de desideológica contra o que (e quem) tem uma ideologia. E a assume.
Cada vez que é utilizado o vocábulo democracia haveria que procurar o
sentido com que a palavra é atirada para comunicação, para a informação aos
cidadãos do que se está a passar no mundo que vivemos.
Embora, por vezes, se lhe acrescente a localização
do conceito (democracias ocidentais),
esse acrescento é distracção, quando não é intenção perversa própria do pensamento
único, como se democracia fosse propriedade de uma parte do universo e de mais
nenhuma.
Absolutiza-se e privatiza-se o conceito, como,
aliás, tudo é pretendido absolutivizar e privatizar, o que corresponde a uma
desvirtualização do conceito, a um esvaziamento do(s) valor(es) que encerra.
… porque há mais do que uma democracia?
Não!, porque sendo una, a democracia pode tomar
várias formas. Sendo una, enquanto prática da convivência dos seres humanos,
em partilha solidária igualitária que respeite as desigualdades individuais naturais;
podendo tomar várias formas e não apenas uma, segundo os lugares em que se pratica
e as suas formas e histórias das comunidades locais.
O mais grave atentado ao conceito e valor da
democracia é o de a espartilhar num modelo único: a democracia é
isto!… e o que assim não seja
não é democrático.
No seu tempo histórico, a predominância do capital
(enquanto relação social) sempre procurou impor a “sua democracia” e, nesse intuito,
chega a ser caricata a obsessão de impor um
modelo: a democracia ocidental! tornando
a palavra, o conceito, o valor humano, numa definição que os dicionários
apontam como “regime político”: a
democracia é o regime político que… e sai modelo!
E o modelo é a valorização de determinadas
estruturas padronizadas, sobrevalorizando esmagadoramente a representatividade traduzida eleitoralmente,
relativamente à vertente essencial da participação
(informada) de quem é afirmado deter o real poder, assim tornado inconsequente.
O modelo exporta-se, Estado a Estado, com ligeiras e
apenas formais diferenças, procurando impor-se em toda a parte e em todas as
condições… senão não há democracia!
No modelo à
moda do capital, a estrutura da sociedade é dualista. Coerente com uma ideologia
binária, deverá haver situação e oposição, os prós e
os contras, o sim e o não, e o resto é (ou tem de ser obrigado a ser) paisagem, acessório.
Vejamos expressões de um espectro político desejado,
e adeqado à “democracia”:
· Democratas e republicanos
· Sociais-democratas e cristãos-democratas
· Democratas-cristãos e
sociais-democratas
· Conservadores e trabalhistas
(e liberais)
· PSOE e PP
· PS e PSD-PPD
· “esquerda” e “direita”.
Depois… tudo se confunde. As políticas são as mesmas,
de tão parecidas que, por vezes, é quase surpreendente que as maiores diferenças
pareçam existir no interior de um dos lados dos binários.
Por exemplo: as posições de Biden (1ª figura do “modelo
de democracia” estadounidense) e de Pelosi (3ª figura do “modelo de democracia”
estadounidense) relativamente a uma ida a Taiwan, de que pode resultar (veja-se
lá!) uma situação verdadeiramente assustadora para a Humanidade… foram diferentes,
embora do mesmo partido, considerado como o mais progressista (ou o menos
reaccionário) dos E.U.A..
A decisão que prevaleceu, adoptou, com toda a
clareza, a forma de uma provocação, como foi sobejamente advertido pela China, teria
sido democrática? Foi da “democracia ocidental”, cujo poder não está no povo
dos Estados Unidos mas em interesses ligados a um regime político totalmente condicionado
pelos interesses dominantes, pelo complexo industrial-militar.
Do que pode estar dependente o futuro da Humanidade!
De evidentes e indesmentidas provocações de uma “democracia” à moda do capital!
3 comentários:
Os governantes das democracias mudam só na aparência porque são sempre os mesmos com ligeiras alterações e o povo vive sempre encostado à miséria num cantinho qualquer do quintal.
Excelente imagem-complemento ao que quis "traduzir"!. Obrigado
Bom texto,com o qual,estou completamente de acordo.Podemos chamar democracia à democracia padrão defendida pelos ditadores dessa mesma democracia?Bjo
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