quinta-feira, agosto 04, 2022

Reflexões lentas - democracia à moda do capital

 

“democracia” à moda do capital

(modelo e exemplo)

 

O esvaziamento conceptual das palavras, ou a desvirtualização do que é apregoado como valores, faz parte essencial da agressão ideológica que é enroupada de desideológica contra o que (e quem) tem uma ideologia. E  a assume.

Cada vez que é utilizado o vocábulo democracia haveria que procurar o sentido com que a palavra é atirada para comunicação, para a informação aos cidadãos do que se está a passar no mundo que vivemos.

Embora, por vezes, se lhe acrescente a localização do conceito (democracias ocidentais), esse acrescento é distracção, quando não é intenção perversa própria do pensamento único, como se democracia fosse propriedade de uma parte do universo e de mais nenhuma.

Absolutiza-se e privatiza-se o conceito, como, aliás, tudo é pretendido absolutivizar e privatizar, o que corresponde a uma desvirtualização do conceito, a um esvaziamento do(s) valor(es) que encerra.

… porque há mais do que uma democracia?

Não!, porque sendo una, a democracia pode tomar várias formas. Sendo una, enquanto prática da convivência dos seres humanos, em partilha solidária igualitária que respeite as desigualdades individuais naturais; podendo tomar várias formas e não apenas uma, segundo os lugares em que se pratica e as suas formas e histórias das comunidades locais.

O mais grave atentado ao conceito e valor da democracia é o de a espartilhar num modelo único: a democracia é isto!…  e o que assim não seja não é democrático.

 

No seu tempo histórico, a predominância do capital (enquanto relação social) sempre procurou impor a “sua democracia” e, nesse intuito, chega a ser caricata a obsessão de impor um modelo: a democracia ocidental! tornando a palavra, o conceito, o valor humano, numa definição que os dicionários apontam como “regime político”: a democracia é o regime político que… e sai modelo!

E o modelo é a valorização de determinadas estruturas padronizadas, sobrevalorizando esmagadoramente a representatividade traduzida eleitoralmente, relativamente à vertente essencial da participação (informada) de quem é afirmado deter o real poder, assim tornado inconsequente.

O modelo exporta-se, Estado a Estado, com ligeiras e apenas formais diferenças, procurando impor-se em toda a parte e em todas as condições… senão não há democracia!

 

 

No modelo à moda do capital, a estrutura da sociedade é dualista. Coerente com uma ideologia binária, deverá haver situação e oposição, os prós e os contras, o sim e o não, e o resto é (ou tem de ser obrigado a ser) paisagem, acessório.

Vejamos expressões de um espectro político desejado, e adeqado à “democracia”:

·       Democratas e republicanos

·       Sociais-democratas e cristãos-democratas

·       Democratas-cristãos e sociais-democratas

·       Conservadores e trabalhistas (e liberais)

·       PSOE e PP

·       PS e PSD-PPD

·       “esquerda” e “direita”.

 

Depois… tudo se confunde. As políticas são as mesmas, de tão parecidas que, por vezes, é quase surpreendente que as maiores diferenças pareçam existir no interior de um dos lados dos binários.

Por exemplo: as posições de Biden (1ª figura do “modelo de democracia” estadounidense) e de Pelosi (3ª figura do “modelo de democracia” estadounidense) relativamente a uma ida a Taiwan, de que pode resultar (veja-se lá!) uma situação verdadeiramente assustadora para a Humanidade… foram diferentes, embora do mesmo partido, considerado como o mais progressista (ou o menos reaccionário) dos E.U.A..

A decisão que prevaleceu, adoptou, com toda a clareza, a forma de uma provocação, como foi sobejamente advertido pela China, teria sido democrática? Foi da “democracia ocidental”, cujo poder não está no povo dos Estados Unidos mas em interesses ligados a um regime político totalmente condicionado pelos interesses dominantes, pelo complexo industrial-militar.

 

Do que pode estar dependente o futuro da Humanidade! De evidentes e indesmentidas provocações de uma “democracia” à moda do capital!

3 comentários:

Monteiro disse...

Os governantes das democracias mudam só na aparência porque são sempre os mesmos com ligeiras alterações e o povo vive sempre encostado à miséria num cantinho qualquer do quintal.

Sérgio Ribeiro disse...

Excelente imagem-complemento ao que quis "traduzir"!. Obrigado

Olinda disse...

Bom texto,com o qual,estou completamente de acordo.Podemos chamar democracia à democracia padrão defendida pelos ditadores dessa mesma democracia?Bjo