quarta-feira, maio 31, 2006
São tantas as frentes e é tanta a indignidade...
E este título do Ruben Fonseca (que escritor admirável!) não me sai da cabeça:
Com uma profunda indignação
Atravessou o fascismo e a guerra colonial sendo o único partido que resistiu, com sacrifícios e dificuldades que sempre o fortaleceram, a todo o tempo de opressão e a toda a opressão. Sempre com a foice e o martelo.
A muitos não comunistas se deve, também, a conquista da liberdade e da democracia para Portugal, mas, como partido, só a um deve o povo português a luta de 48 anos antes de 25 de Abril 1974 Pela liberdade. Pela democracia. Escrevam-se as histórias que se queiram ou se encomendem, ignorar isto é falsear criminosamente a História.
Estiveram a foice e o martelo escondidos em muitos corações mas sempre bem visíveis nas páginas do Avante!, jornal clandestino e heróico porque só heróis o podiam fazer como foi feito durante 43 anos.
Depois de 1974, esse símbolo deixou de ser clandestino porque ganhou o direito a ser o que sempre foi: o sinal emblemático de um partido político português.
A publicidade a um medicamento (?) usando o símbolo deste partido é uma ignomínia. E está no âmbito de uma luta ideológica em que não se recua perante o infame.
domingo, maio 28, 2006
Com um pedido de desculpas...
Porque hoje estou triste/mas triste de não ter jeito - 2
Depois de tanto do que era memória viva já ter sido destruido, agora foi aquele depósito, que por outras terras se preservam como património, como signo sinal de um tempo.
E a seguir?
Serão as ruínas cada vez mais ruínas da igraja de S. Sebastião...
por omissão apesar de tantas lembranças?, ou será, talvez, sabe-se lá, a capela da Conceição?
E para quando a implosão dos Castelos, com honras de presidente a dar ao embolo?
Ao menos, façam réplicas em cera para o museu de Fátima, numa secção a abrir chamada exemplares de arte não-sacra ou amostras do profano destruído.
sexta-feira, maio 26, 2006
Porque hoje estou triste/mas triste de não ter jeito
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
(Manuel Bandeira)
E porque tu me lembraste o Manuel Bandeira e porque contigo, só contigo, me iria embora, me iria embora para Pasárgada
quinta-feira, maio 25, 2006
Sobre a tal "auto-estima"... ANTOLOGIA
«O governo de Sócrates, tal como os seus congéneres por esse mundo fora, não só estimula como cavalga a onda do vírus "desportivo", fazendo de conta que é sinónimo de confiança, sinal de retoma, demonstração de sucesso. Com os espíritos entretidos com o futebol (e com as touradas e os fados e os casinos e as galas e os festivais... que infestam o dia a dia televisivos a lembrar cada vez mais as programações do fascismo), é de esperar que não sobre muito tempo para o "resto".
(...)»
(Anabela Fino, em A talhe de foice - o virus, Avante de hoje)
quarta-feira, maio 24, 2006
Como eu o compreendo...
Como eu o compreendo! Eu não o faria, acho que ele não o devia fazer, mas... como eu o compreendo!
Um abraço de compreensão solidária que talvez não chegue ao destino.
terça-feira, maio 23, 2006
No alvo com comentário
A (des)contracção. Consta que o senhor dr. Marques Mendes teve uma ideia, “um programa especial de rescisões amigáveis na função pública”, e ousou a sua apresentação pública. Para financiar as indemnizações decorrentes de tais rescisões o fulano aventou a hipótese de recorrer a fundos comunitários. Argumenta ele que tais indemnizações são mais um investimento do que uma despesa e que, portanto... Deve deixar-se fluir a estupidez sem freio. Nicky Florentino.
Comentário:
Nicky em todo o o seu esplendor, na proporção inversa da altura do dr. Marques Mendes, e na proporção directa da estupidez sem freio.
Mas nada é inocente, por pequenino e estupido que seja... ou que pareça até porque, como dizia o outro de péssima memória, em política, o que parece é.
segunda-feira, maio 22, 2006
Uma estória (com) Luandino em Ourém
sábado, maio 20, 2006
O Prémio Camões 2006 para José Luandino Vieira
sexta-feira, maio 19, 2006
Em 19 de Agosto de 2005, publicámos este post: Sobre Luandino Vieira - Alguma irritação e uma moderada indignação
Por razões várias e algumas pessoais, acompanho a vida (e a obra) de Luandino Vieira há muitas décadas. Mais de 40!
Estávamos presos, ele no Tarrafal e eu no Aljube em trânsito para Caxias, quando soube (ou confirmei) que ele existia, como escritor e como preso político tal como eu o era. Com o pormenor, não sei bem ao certo quando conhecido por mim, de que Luandino Vieira – José Vieira Mateus da Graça – era natural da “minha terra” que, afinal, não é aquela onde eu nasci – Vila Nova de Ourém – mas aquela onde ele nascera. Nascidos os dois no mesmo ano de 1935, ele em 5 de Maio e eu em 21 de Dezembro.
Ido com meses para Angola, luandino se tornou enquanto crescia, e cedo aderiu à luta pela independência do País que passou a considerar seu. A sua obra publicada começou em 1957, na revista Cultura, e teve textos editados pela Casa dos Estudantes do Império que me levaram a conhecê-lo (ou pré-conhecer) e Luuanda foi escrito na prisão, entre Luanda e o Tarrafal.
Foi livro que muito me impressionou por ter começado a fazer o que nenhum outro escritor em língua portuguesa fez como ele, embora muitos tenham tentado e alguns com muito bons resultados, do ponto de vista literário: usar uma espécie de bilinguismo, fazendo coexistir o português-língua oficial com as línguas digamos naturais. Eram contos e novelas em que esse bilinguismo reflectia, na literatura, nas histórias muito bem contadas, muito densas de humanidade, muito cheias de gente de Luanda, as contradições e tensões de uma ocupação colonial “à portuguesa” que, por ser “à portuguesa”, não era menos colonial.
Em 1964, Luuanda recebeu um prémio literário em Angola, e em 1965, o Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores.
O que deu origem a um dos maiores escândalos políticos da década de 60, por todas as reacções que provocou e pelas repercussões que teve. O governo fechou, brutalmente, a Sociedade Portuguesa de Escritores, perseguiu membros do júri e escritores que reagiram e afirmaram solidariedade, conseguiu alguns raros e pusilânimes apoios que chegaram à baixeza de diminuírem a qualidade literária da obra premiada. Foi um caso!
E se assim foi em meados da década de 60, já com o autor em liberdade – bem condicionada pois tinha residência fixa em Lisboa com a única possibilidade de se deslocar a Vila Nova de Ourém, devidamente autorizado!, para visitar os seus pais – uma edição de 1972, pelas Edições 70, onde Luandino trabalhava, foi apreendida motivando um recurso jurídico, com o suporte da avaliação de qualidade literária assinada por Jorge de Sena e Ferreira de Castro.
Por tudo isto, a alguma irritação minha e a minha calma indignação quando na badana da última edição de obra de Luandino Vieira, Macandumba, da Editorial Caminho, Lisboa, por cortesia da Editorial Nzila, Luanda, (e atmbém na nota sobre o autor na net) vi esquecida a referência à terra onde nasceu Luandino Vieira e de que nunca cortou totalmente as ligações, e li que “…foi libertado em 1972, em regime de liberdade vigiada em Lisboa. Iniciou então a publicação da sua obra…” sem qualquer referência a Luuanda e a tudo o que este livro representou – e representa! – na vida literária, política, social portuguesa e angolana.
Fica, também, como protesto a tornar público.
Hoje, 19 de Maio de 2006, retomamo-lo com a grande alegria pela atribuição do Prémio Camões a Luandino Vieira!
quinta-feira, maio 18, 2006
Histórias em cem palavras e 1lustração - 35
Ah!, e verdadeira (+ ou -)!
O “Palito” é assim. Simpático, bem disposto. E em duas palavras que diz, saem três palavrões. Dos graúdos…
Não será por isso, mas é homem que dá trabalho aos advogados.
Naquele dia, ao entrar no escritório, a secretária do "senhor doutor", antes dos bons dias, desafiou-o:
“Ó senhor “Palito”, antes que abra a boca… se o senhor sair daqui sem dizer uma asneira, pago-lhe um almoço, aceita a aposta?”.
O “Palito” adiou o caloroso “bom dia”, sorriu e, com ar de homem calmo e controlado, abriu a boca:
“Humm, ‘tá bem… já se fodeu… vai pagar-me um almoço!”
Histórias em cem palavras e 1lustração - 34
Ele não tem uma base cultural livresca.
No liceu, incomodou-o o exibicionismo de colegas seus que citavam autores e obras que teriam pelas estantes lá de casa, e ele desconhecia.
Hoje, sente dificuldades nos apoios clássicos e nas “competições” eruditas e com citações, em que clássicos e semi-clássicos são trazidos à liça.
Arranjou os “seus clássicos” (para além dos da economia e da política…), aqueles que se lhe agarraram, bem lá por dentro de si. E se estão agarrados, os atrevidos…
Foi selecção não sistemática, e a alguns tem-nos por verdadeiros amigos. Aos autores das obras, não aos homens.
quarta-feira, maio 17, 2006
Histórias em cem palavras e 1lustração - 33
Esta é a primeira. A segunda virá acima... daqui a bocadinho.
Não que o pai fosse avesso a leituras. Tinha “outra” cultura. Lia pouco.
A mãe aprendera pequenoburguesmente a fazer renda, a tocar piano (que não tocava…), a falar francês (que não falava…). Lia menos.
E ele era filho único…
Começou a ajudar o pai no trabalho dos papéis, a respirar o chumbo das tipografias. O que lhe criou um certo gosto pelo lado gráfico das coisas. Que mantém. Pelos cheiros, pelas formas, pelas “arrumações”.
Não nasceu no meio de livros, mas foi-os escolhendo para companhia. Com eles cresceu.
segunda-feira, maio 15, 2006
Ourém (cidade e concelho) existirá?
domingo, maio 14, 2006
Histórias em cem palavras e 1lustração - 32
Mas que tinham engraçado um com o outro foi notório. À primeira vista, no primeiro encontro.
Ele telefonou-lhe. Para um segundo encontro. Que marcaram numa livraria. Não se sabe qual deles propôs o lugar...
Trocaram livros como primeira prenda. Riram muito por ter sido o mesmo livro.
Estão reformados, já festejaram bodas de prata e gerem os prejuízos de uma livraria de pequena cidade, com muito esforço, alguma imaginação… e uns cheques que deviam ter outros destinos.
Histórias em cem palavras e 1lustração - 31
Trincaram entre banalidades de segundos sentidos, entre-brindaram-se com uns sumositos de sedução.
Ele achou-a gira. Ela achou-o giro.
Como tinha de ser, trocaram telefones.
No dia seguinte, ele telefonou.
Ela marcou o esperado encontro para a livraria do Centro Comercial. Bom sinal, pensou ele.
Quando ela chegou, ele ofereceu-lhe o livro-surpresa em embalagem com lacinho.
Ela riu-se, parvamente, e disse: “p’ra mim?, nem gosto nada de ler… sou mais de festas”.
Foi o único encontro deles. Ou o único desencontro.
Aquilo não podia dar nada!
sábado, maio 13, 2006
Papeis & Contas, Lª.
Eu aproveito! Gosto de me deitar no meio da papelada espalhada pelo chão:
O gajo finge-se irritado mas, no fundo, eu rio nos meus bigodes... e ele nas suas barbas.
Até porque gosto de ver estas contas da Som da Tinta. Não vá isto pôr em causa a minha requintada paparoca e outras mordomias a que estou habituado...
sexta-feira, maio 12, 2006
Histórias em cem palavras e 1lustração - 30
Após consultas e estudo dos auxiliares de diagnóstico então possíveis, o médico perguntou aos pais se tinham posses para uma temporada na Suíça.
Perante a resposta, acompanhada da envergonhada afirmação da vontade de fazerem todos os sacrifícios, recomendou os ares da serra de Sintra.
Foram viver para o Algueirão! Com a “receita” de uma hora de repouso a seguir ao almoço. De repouso absoluto!
Ele, disciplinadamente, cumpria todas as recomendações.
Todas… menos uma.
Na penumbra do quarto, de olhos fechados, ficava à espera que o julgassem a dormir. Então, lia. Lia muito. Às escondidas.
quinta-feira, maio 11, 2006
Histórias em cem palavras e 1lustração - 29
E recomeço com a que escrevi a partir do que senti na edição do primeiro livro de que fui autor (embora fosse uma colectânea). Há 40 anos!
capa de Tomaz Xavier de Figueiredo,
em que tive o pudor de meter o meu nome...
O PRIMEIRO LIVRO
Quando levantou o telefone, mal ouviu o ansiado já chegou saltou porta fora, gritando à atónita secretária não demoro nada.
O carro arrancou numa chiadeira e não teve acidentes no curto trajecto porque deus põe a mãozinha não apenas por debaixo do menino e do borracho.
Na Rua do Mundo, deixou o carro onde calhou e subiu a quatro-e-quatro os degraus do nº67.
Ao manusear o livro, ao cheirar a tinta ainda fresca, ao ler o seu nome pela primeira vez numa capa, sentiu grande emoção.
Maior, só quando, meses depois, ajudou a nascer o primeiro filho.
segunda-feira, maio 08, 2006
Uma tarde "Som da Tinta"
domingo, maio 07, 2006
Dia da mãe
Obrigado, Pedro, pelo teu poema e pela gravura que escolheste. Com o teu consentimento (tácito) e um grande abraço:
quinta-feira, maio 04, 2006
Olá!
Sinto-me bem com os gajos cá em casa...
Saudades e saudações felinas
Gata em janela de Angra do Heroismo
...mas tinhamos de trazer uma "graça" para o Mounti.
"Capela" de S. Sebastião...
É a "capela" de S. Sebastião... na ilha Terceira. Bem mais antiga que a "nossa" mas...
Histórias em cem palavras e 1lustração - 28
Voltei.
E está certo: 25-de-Abril sempre!
Mas… para fechar o círculo que aberto sempre esteve e ficará, umas últimas cem palavras sobre o 25 de Abril que foram escritas há uns anos, em reacção a um amigo que dizia, com algum peso de autoridade, que se não tivesse havido 25-de-Abril tudo estaria como está. O que achei (e cada vez mais acho) um erro crasso, até porque a História não é como o salame…
MEMÓRIA E PROJECTO
25-de-Abril… quando foi?
Em 1974…
Ih! Há tanto tempo…
Enganas-te, foi ontem.
‘Inda não tinha nascido!
Pois eu nasci segunda vez nesse dia, já tinha quarentas...
‘Tás velho, c’roa…
Quando lembro o 25-de-Abril não estou. Para mim, foi ontem.
E valeu a pena?
Valeu!!!
Como seria Portugal sem esse 25-de-Abril?
Dizem que igual ao que é.
E valeu a pena?!
Sim!, pela memória que é minha, pelo projecto que tens de reconstruir para ser teu e futuro.
‘Tá bem. Depois contas o resto…
Claro. Conto-te a memória, para o projecto e futuro és tu que vais contar.