segunda-feira, maio 22, 2006

Uma estória (com) Luandino em Ourém

Nesta madrugada, entre outras coisas, resolvi passar por um "aparelho de busca" e consultei "Luandino Vieira" para me inteirar do impacto da atribuição do Prémio Camões. Folheei mais de 50 páginas, até que me resolvi a contar esta "estória". Até porque, se há coincidências... uma é a de ter estado, hoje de tarde, à procura de um telefone numa velha agenda e ter encontrado este bilhete de que tão bem me recordava mas não sabia onde parava.














Aqui há uns anos (sei, agora, que foi em 5 de Setembro de 2001), por volta da hora do almoço, cheguei à Som da Tinta e a Rosa, com ar displicente, disse-me que tinha estado lá um senhor a olhar para as estantes, e que me deixara um bilhete. "Está aí". Com parecida displicência peguei no pequeno bilhete e li-o. Logo a displicência se transformou em alvoroço, ainda maior porque à pergunta se "o senhor tinha estado ali há muito tempo" a resposta foi "não... foi há bocadinho e julgo que foi para a Rodoviária"...
Corri à Rodoviária e, ao ver um "senhor" sentado no passeio, de boné, a ler, gritei interrogando, ainda a uns passos dele, "Zé Luandino?!". Ele levantou os olhos dos papeis, levantou-se e foi um grande abraço. Não nos víamos há muito tempo!
Depois, foi a conversa amiga, o "saber coisas".
Vinha a Fátima visitar a mãe que estava num lar, vinha de "expresso" lá do Minho onde se sabia que ele se acolhera e de onde me iam chegando notícias esparsas e indirectas. Passámos pelo Zambujal, sem tempo para almoçar porque os horários ditavam o regresso, levei-o à Rodoviária em Fátima, trocámos telefones, combinámos muitas coisas. Poucas se cumpriram. ´
Entretanto, a mãe morreu, deixou de vir a Fátima, quase nunca atende o telefone porque a "vida social" é coisa de que foge.
O projecto de o trazer à Som da Tinta, para conversar um bocado de forma mais alargada ainda não foi concretizado. Se calhar não vai ser fácil, mas ele tem de ajudar a "audácia"... "muitos anos antes de tudo esquecermos; de todos esquecerem" como escreveu, em dedicatória amiga naquele bilhetinho em tão boa hora encontrado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Por pouco quase não te encontravas com o teu amigo.
Gostei que nos deixasses partilhar, essas duas folhas de amizade que a guardas com saudade.
Será difícil para L.V. resistir ao teu convite. Virá de imediato, caso esteja em Portugal.
Penso também que será natural, não querer vir à sua terra natal.
Que nem sua terra de origem já é! Foi!
Que memórias poderá ter alguém que, com alguns meses de idade vai para outro país?
Qual as raízes que ainda poderá ter? Para além (talvez) da imagem de uma mãe velha e doente internada num Lar! Penso que quererá esquecer!
Pelo que já li és amigo dele, não por se terem conhecido em Ourém!!! Daí nada lhe pode tocar, nesse coração angolano!
Sem amigos de infância, sem memórias, sem as fragrâncias dessa belíssima terra (Ourém), restam-lhe os amigos e muitos são, espalhados pelos cinco continentes.
Ele sabe bem o privilégio que tem, em ter um amigo como tu!
Irá, estou certa que sim, visitar não Ourém, mas o amigo Sérgio.
Não vai resistir ao teu convite!

GR