sexta-feira, maio 26, 2006

Porque hoje estou triste/mas triste de não ter jeito


Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


(Manuel Bandeira)

E porque tu me lembraste o Manuel Bandeira e porque contigo, só contigo, me iria embora, me iria embora para Pasárgada

2 comentários:

Anónimo disse...

Poderei perguntar em dias de desânimo “Onde está Abril?”
Mas nunca perguntarei porque SEI, “Onde está o amor!”
Está numa terra quente!
Numa casa com um jardim colorido,
Com um gato vaidoso, assumido!
E um casal lindo, inteligente e muito solidário!

Obrigado, Maria José e Sérgio,
Hoje, senti novamente Abril!

Gostei muito do poema, sobre a utopia!

GR

Anónimo disse...

Eu também quero ir... Não posso pensar em estar num lugar onde não vos possa encontrar...