Estava em Paris.
Numa esplanada instalada num passeio, como se aquele passeio existisse para ali se colocar aquela esplanada parisiense.
Jantava, ou comia qualquer coisa porque as notícias me tinham tirado a vontade de tudo... talvez apenas de comer.
Apetecia-me chorar. De raiva. De impotência. Era, naquele dia, em Santiago do Chile, o que já tinha sido em tanto sítio. De outras maneiras.
O que viria a ser, depois de então em tantos outros. De outras maneiras
O virá a ser, ainda, em mais lugares. De outras maneiras.
Sempre, o imperialismo.
Ao lado, uns jovens, com ar de bem engravatados tecnocratas, jantavam alegremente. Por coincidência, falavam castelhano. Mas éramos, ou estávamos, em mundos diferentes. E nada me dizia que, sendo diferentes os mundos em que, naquele momento, estávamos, houvesse diferenças profundas que nos separassem.
Só senti que esses dois mundos, ali contíguos, ali não antagónicos, se tocavam, que algo os unia, quando os vi trincar uns vermelhíssimos e suculentos morangos com os seus dentes muito brancos...
Um arrepio percorreu-me o corpo todo. Ainda hoje o lembro.
10 comentários:
1973, também lá estava, dentes cerrados recebemos na alma o coice dos bárbaros que impóem à bala a "democracia" que só os velhacos aceitam. Não muito tempo antes na Maison de la Jeunesse de Villejuif assisti a um espectáculo de poesia e música sobre os poemas de Neruda e porque quando cheguei já o espectáculo havia começado sentei-ne na primeira cadeira vaga que encontrei e só ao intervalo me apercebi que estava ao lado de Pablo Neruda que mais de dor que de doença não resistiu ao golpe. A história já colocou Allende e Neruda como símbolos do que de mais digno e belo tem um ser humano e a PinocheCia como a máscara de terror de tudo o que é vil e obsceno.
Tens razão! (e que sorte a tua com a companhia que tiveste...)
Mas o problema são os pinochets que há quem faça de conta que não serão os pinochets a que a História dará a verdadeira face, esses pinochets travestidos de bushs e outros que tais, alguns com nomes na nossa língua.
Aqueles que, ao serviço do poder financeiro, fazem os serviços que podem ser pequenos ou a dimensão que servir.
11 de Setembro 73!
Um dos dias mais negros do séc. XX.
A 11 de Setembro, ainda se chora os filhos, pais, amigos desaparecidos, torturados, assassinados.
Data tristemente esquecida, para os órgãos de comunicação social.
Os americanos gostam de matar a 11 de Setembro!
GR
Tenho passado por aqui mas saio em silêncio...hoje, pelo Chile, deixo a palavra...estou contigo na raiva e na dor! Não ouvi uma única palavra nas televisões! Só Madie e as torres gémeas! Também esqueceram os 3000 soldados americanos mortos no Iraque!
Um abraço Sérgio...
Que parceria!
Fiquei muito contente com a vossa visita.
Voltem sempre. Também por outros motivos de assinalação. E deixem sinais.
Vou retribuir a visita.
Saudações calorosasa
E continua a chover em muito lado!
A canalha continua a comer morangos nas esplanadas da vida
até a vida acordar
Caro Sérgio Ribeiro
Já tinha posto este blog na minha lista de links.
Agora tomei a liberdade de o juntar a outra lista com que fiz um post que tem vindo a aumentar, a lista dos que se lembraram DESTE 11 de Setembro.
Abraço.
Valeu a pena ter aqui trazido, mais uma vez como todos os anos, esta memória viva e que viva tem de continuar. Pelos vossos comentário neste blog tão pouco comentado, que nasceu para ser assim. Pouco... público mas bem frequentado.
Para todos vai um abraço, mas aceitem por favor uma referência especial - em que todos englobo - para o "cantigueiro" Samuel. Obrigado pela vinda a este canto. Visita que retribui e gostei, até pela oportunidade de, de novo, ouvir Victor Jara.
A revolta foi tanta nesse dia, Sérgio....
Um abraço enorme
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