domingo, setembro 30, 2007

Entre a guerra e a paz, a Paz como necessidade

Realizou-se, em Lisboa, nos dias 28 e 29 de Setembro um “Encontro Europeu em Defesa da Paz”, iniciativa do Conselho Português para a Paz e a Cooperação (CPPC), do Conselho Mundial da Paz (CMP) e do Grupo da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GEUE/EVN) do Parlamento Europeu.

Foram dois dias de debate sério, aprofundado, sobre o modo de promover a Paz, com participações muito variadas, mas todas muito válidas, vindas dos promotores e de 19 movimentos da Paz presentes (da Alemanha, Bélgica, Chipre, Dinamarca, Espanha, França, Geórgia, Grécia, Polónia, República Checa, Sérvia, Suiça e Turquia).

Sendo este um artigo de opinião (que me foi pedido), e não um trabalho de reportagem, vou transcrever o que tive a oportunidade de dizer, ao presidir a uma das mesas de debate, sob o tema “em defesa da paz, contra o militarismo e a guerra”, em representação do CPPC.

Mas, antes, sublinho duas notas que particularmente me tocaram.

Na sua intervenção como secretário-geral do CMP, o grego Pafidis, também deputado no PE, confrontou a ordem de trabalhos do encontro com a ordem de trabalhos da “reunião informal dos ministros da defesa da União Europeia”, no âmbito da presidência portuguesa, que no mesmo fim-de-semana se realizava em Évora. Do confronto resulta evidente que uma O.T. é de uma reunião de quem defende a Paz, enquanto que a outra O.T. é de ministros da guerra e não de ministros da defesa. E não é uma questão de semântica...

Na sua intervenção, como deputado do GEUE/EVN, Pedro Guerreiro leu o nº 2 do artigo 7º da Constituição da República Portuguesa (depois de todas as revisões) – 2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos, bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares e o estabelecimento de um sistema de segurança colectiva, com vista à criação de uma ordem internacional capaz de assegurar a paz e a justiça nas relações entre os povos. Pelo que, se respeitasse a CRP a que está obrigado, o representante do governo português deveria estar no encontro de Lisboa e não na tal reunião informal de ministros da UE. Bem pelo contrário, presidiu a uma e terá contribuído decisivamente para que a outra tenha sido ignorada – ou desvirtuada – na comunicação social.
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Na minha introdução ao tema na mesa que dirigi, trouxe algumas reflexões que há muitos anos me acompanham (e que para aqui transformo em artigo de opinião), a partir de um ofício do CPPC que recentemente recebi, e que começa assim: “A Paz é condição essencial para…” e que pede… o pagamento de quotas aos “militantes da Paz”.
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Começando por afirmar a minha total concordância com o apelo – a que, aliás, correspondi –, essa formulação suscitou-me uma reflexão que há mais de 20 anos me acompanha.
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Na verdade, na Assembleia para Paz realizada em Copenhaga em 1986, talvez cansado de tanto ouvir falar na necessidade da Paz para e da argumentação, a que chamaria orçamental, de que, em Paz, sem as despesas com as armas e a guerra, seria possível usar os meios delapidados em escolas, hospitais e muito mais em benefício das populações, dentro de mim ouvi um grito a berrar-me que a Paz é uma necessidade, ponto final! Não é uma necessidade para que…

E nestes 20 anos tenho reflectido e “burilado” a reflexão sobre a Paz como necessidade, e a repetir a “tese” quando oportuno ou quando oportuno me parece.

Se há 20 anos, no final dos anos 80, essa asserção me parecia justa e imperiosa, ilustrada pelo complemento de que a Paz era uma necessidade do socialismo, enquanto macro-estruturas reais, em contrapartida, a guerra era uma necessidade do capitalismo dado o peso e a influência crescentes do complexo industrial-militar, nos 20 anos que passaram isto terá sido confirmado.

A dita “guerra fria”, na luta de classes ao nível inter-nações, foi vitoriosa para um dos lados (também) porque conseguiu impedir que a Paz (a coexistência pacífica) prevalecesse, porque a guerra (a qualquer temperatura) ditou as suas leis e obrigou o lado que necessitava da Paz a dedicar-se ao seu contrário.

Estas duas décadas confirmam que o imperialismo tem necessidade da guerra, que as armas – e o seu consumo – são uma mercadoria vital para o sistema (além de letal para a Humanidade), que se não há “inimigos” há que os inventar, que há que – como foi dito por outro interventor no debate – “criar o medo!”, o medo que justifica a corrida armamentista, as ingerências, as agressões e as ocupações.

E se a Paz cada vez mais se confirma como necessidade da Humanidade, a guerra é uma necessidade anti-Humanidade, des-humana, parecendo estar condenada a que nas armas e na sua utilização se procure a saída para as crises.

A ameaça é sempre maior porque os meios são progressivamente mais perigosos para a Humanidade em si, como no encontro algumas contribuições muito interessantes o comprovaram. É a própria Humanidade que está em risco.
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Como regra, não há que ter pressa, tem de ser nossa conduta, de gente de esquerda e pela Paz, não se precipitar, mas há que não perder tempo. Porque a defesa da Paz, e a mobilização para ela, é urgente.

1 comentário:

GR disse...

As guerras são irracionais, cada vez mais perigosas para toda a Humanidade!
Nós próprios estamos também desumanos, ficando frente a um televisor à espera que mais uma guerra comece!
Como poderá haver Paz se cada país incentiva a guerra?
Quanto se ganha a fazer uma Guerra? Todos nós sabemos que a guerra é muito lucrativa! O lucro é neste momento o mais importante!O assassino/Bush pode confirmar!
Que haja cooperação entre os Povos! Será que dá tempo para se defender a Paz?

“Encontro Europeu em Defesa da Paz”
Esperei poder ver um flash, uma nota de referência sobre a iniciativa, qualquer coisa que fosse, num canal mesmo a horas tardias.
Não vi, NADA! Nada deu! Espero poder ler no Avante!
É uma outra forma de se ajudar a guerra!

GR