Reservo para o docordel as minhas impressões, crónicas, devaneios, comentários (mais) pessoais. Mas, desta vez, porque tem a ver com a política que se faz, é aqui que quero deixar uma crónica personalizada.
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Chegara a casa, vindo da saga hóquista de Mealhada, que meteu assaltos a carrinhas e outros episódios, e vinha cansado. Ao arrumar o carro, ainda ouvi, na RDP2, o noticiário começar por dizer que era 1 da manhã para logo emendar para 2 da manhã, hora de verão. Pensei "lá me roubaram uma hora de vida... hei-de recuperar lá para o outono".
Apesar da pressa em adormecer e recuperar do cansaço (e já passava das 2 da manhã!) ainda cumpri o ritual de pegar num livro ou num jornal. Foi no Jornal de Leiria que aguardava leitura. Na passagem de páginas vi, em "breves", que se referiam a "Ana Rita Carvalhais na corrida das europeias" e comentei para dentro do meu sono "Boa!, o jornal não deixou passar... e é natural porque a Ana Rita é da terra, porque é uma mulher em lugar elegível...".
Passei mais uma (foram duas) páginas e apanhei com a fotografia de meia página do Miguel Portas e a entrevista de duas páginas, a entrevista daquela edição. Fiquei pior que urso (aquela coisa que se abrevia como piurso), e o sono espalhou-se, fugiu.
Antes de adormecer (com ajuda de dose reforçada do comprimidinho receitado) alinhei três ou quatro questões, para que o sono, ao tomar-me, levasse um homem com ideias arrumadas.
Aqui estão elas.
1. Miguel Portas é deputado europeu, e cabeça de lista às próximas eleições, pelo Bloco de Esquerda.
2. A sua "prestação" nos 5 anos desta legislatura teve tal dimensão (quantitativa) que eu, que estive em deputado europeu do final de Julho de 2004 a 11 de Janeiro de 2005 (note-se que foram 5 meses completos, entre eles Agosto e Dezembro) fiz tantos relatórios e tantas perguntas como ele e fez fiz 26 intervenções em plenário enquanto ele terá feiro 40, para não a confrontar com as "prestações" de Ilda Figueiredo e de Pedro Guerreiro, os dois deputados do PCP no PE que cumpriram 5 anos de mandato (o Pedro menos os meus 5 meses).
3. Os nossos curricula (e digo-o porque somos ambos economistas), quer académicos, quer de intervenção cívica, quer de coisas editadas, não são comparáveis, até porque tenho grande avanço em anos (em décadas, isto é, 2 décadas e ainda dois ou três anitos)...
4. O Miguel não tem muito a ver (se é que alguma coisa tem) com Leiria, enquanto eu tenho muita e muita coisa, e a Ana Rita, tão candidata como ele, nem se fala!
5. Estive 11 anos no PE, fui candidato ao PE em todas as eleições (até esta), tendo estado sempre disponível para tudo o que o JL tem pretendido de mim e nunca tive o privilégio de ser o de a entrevista.
6. Não me lembro que a Ilda Figueiredo, ou outro qualquer deputado do PCP no Parlamento Europeu, tenha sido escolhido para a entrevista.
7. Claro que tudo que sai num jornal obedece a critérios editoriais que, por vezes, transcendem os responsáveis pelo próprio jornal. Será este o caso?
8. Uma coisa é certa, este critério editorial, aqui ilustrado, reflecte uma deliberada escolha política, quer pelas ausências, pelo que, no mínimo em igualdade de circunstâncias, levaria a um outro tratamento do PCP, quer pelas presenças (oportunas e com a resultante, inevitável pela aplicação do critério) de desvalorizar o PCP, ou de encontrar compensações para a presença do PCP na luta coerente com a sua matriz ideológica.
9. Este critério editorial é de classe. Ponto final.
10. Mas "eles" dizem que não há classes.
11. Nós dizemos que há. E fazemos a luta das ditas.
12. "Eles" dizem que não há classes (valha-nos Deus!). E fazem a luta das ditas! De forma capciosa.
Adormeci. Tranquilamente.
Ah! Depois disto, vou ler a entrevista. Talvez volte!
7 comentários:
É claro que os critérios editoriais obedecem a quem manda, neste caso ao capital, logo é um critério de classe.
Jornal de Leiria. Pois...
Tem cuidado com o fígado...
:)
Ilda Figueiredo ou Sérgio Ribeiro em
"a entrevista " do J. Leiria ?
Caro amigo toma mais um comprimidinho para não te admirares(eu sei que não te admiras). O capital sabe muito bem o que faz e quem os combate de verdade.
Um abraço
Nocturna
Luta de classes, pois claro!
Somos especialistas em "candidatos invisíveis"... :-)))
Abraço
Como não quero ser malcriada logo de manhã só digo: "yo no creo en brujas... pero que las hay, las hay". E acrescento... bruxas, vampiros e lobisomens.
Campaniça
Como eles marram no vermelho o melhor é espetar-lhes um par de bandarilhas.
Eles são tão democraciáticos!... E a "Esquerda Moderna", preguiçosa e mentecapta semte-se tão bem.
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