“Não tenho tempo para ler”, dizem todos (ou quase). Uns justificam “até gosto de ler, mas não tenho tempo…”; outros acrescentam, peremptórios, “nem gosto!”; ainda há os que se ficam nos meios-termos “não tenho muito o hábito… umas vezes gosto, outras não!”. Há que fazer alguma coisa, e algumas coisas estão a ser feitas. Não as suficientes.
Cá por mim, ganhei o vício. Bom. A boas horas. Acho eu...
Como escreve Daniel Pennac (mais ou menos assim) em “Comme un roman”, na vida deste tempo em que não há tempo para ler, cada tempo de leitura é tempo que se acrescenta ao tempo… de vida.
Estou a ler dois livros. De dois Prémio Nobel. De 2008. Le Clézio, de literatura, P. Krugman, de economia.
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Comprei o livro de P. Krugman e comecei a lê-lo com uma fundada expectativa. O Prémio Nobel da Economia de 2008 tem escrito de forma dita irreverente, tem sido, por vezes, polémico e tem preocupações de dessacralizar a linguagem do economista.
Claro que não esperava vir encontrar grandes surpresas em que parte de pressupostos que se traduzem na analogia do Estado, da administração pública, com as empresas privadas, com a gestão capitalista mas... esperava que, face à crise (ou a esta explosão da crise) dissesse algumas coisas interessantes. E com elas aprendesse.
Mas logo le desiludi. Nem vou - agora - ilustrar a decepção por nada encontrar de interessante, nem o exemplo (re)batido da cooperativa de babby-sitting, e algumas coisas ter lidas verdadeiramente agressivas (para este leitor!). Transcrevo: "Mas quem poderá agora invocar as ideias do socialismo com seriedade?(...) Hoje em dia, não passa de uma piada de mau gosto(...)". Não há nobilíssimo prémio que me iniba de dizer que é uma tristeza haver um economista que - até onde li... - revele tal ignorância do contributo de Marx, que assimile socialismo a "fracasso humilhante da União Soviética", isto quando, entre outras coisas, escreve "parece que a oferta surge em todo o lado e a procura desaparece por completo". Uma visita ao século XIX e a "certos autores" (nem digo revisita porque se pode concluiur que nunca visitou esses tempos e autores) seria aconselhável, pois dar-lhe-iam pistas de explicação oara muita coisa que apenas lhe parece estarem a acontecer, e que ele, entretido com as taxas de juro, de câmbio, os défices orçamentais, não descortina...
Estou a perder a esperança de aprender o que quer que seja. E preciso/amos tanto!
12 comentários:
Já não sei se ser Nobel é uma honra ou uma desonra. Pode não ser o caso do Krugman, mas para mim que não sou economista, tenho a ideia que naquela lista de laureados há criminosos e muitos teólogos.
Ainda hoje ouvi alguém falar desse senhor, nada de novo. Mas então? o capitalismo está doente, o socialismo não serve para alternativa...é o mínimo curioso que não apresentem soluções!
cá por mim continuo rumo ao socialismo! e sei que não vou sozinha!!
Parece-me que neste caso a ediologia,condicionou a ciência, será possível?
Abraço
Bruno - Isso da hontas e desonras depende dos critérios de quem as atribui ser honrado ou desonrado. No caso da economia, atribuição do "prémio nobel" é, em si mesma, uma desonra, porque é ideológica e parte do preconceito da economia como uma "ciência" da classe dominante.
Eulália - Para este "economista", o socialismo morreu com a URSS, como para os que, cá em Portugal acham que (desejam!) que o PCP morreu com o PCUS. E nós, a Humanidade, cá vamos no (difícil) rumo ao socialismo... e "até os mortos vão ao nosso lado" e, nalguns casos, os "mortos" são a vanguarda.
Poesianopopular - Sejas bem aparecido! A economia é uma ciência social, não é neutra, há uma coisa que se apresenta como ciência económica que é um instrumento ideológico da classe dominante, do capitalismo.
Obrigado e abraços para todos.
Pois é, estes senhores são os donos da verdade. E se não encontram respostas nas suas verdades, é porque não há respostas, e pronto!!
Tristeza...
E se não consegues aprender o que quer que seja, então vai ensinando, que também há muito quem precise:))
boa, boa, Justine!! :)))
Ó Sérgio.
É impressão minha, ou o sistema está sempre a lançar mão destes "enfants terribles" (e a dar-lhes prémios), que no essencial não contestam nada e apenas servem para fazer crer que depois de resolvidos uns "problemas menores", continua a não haver nenhuma alternativa fora do sistema?
Já dei para os "enfants terribles" da economia, política, música...
Grande abraço!
Olá camarada, venho cá porque a Alice deu-me o recado que deixaste para mim no blog dela ;)
Então o meu convite está a gerar muito desassosego!!?
Esperemos que seja em sentido positivo, e aguardamos ansiosamente por notícias...
bjs
Queria apenas deixar aqui a noticia e o link de um filme que vai estrear nos cinemas no dia 19 de Março, que vai retratar a luta de Che Guevara.
Parece-me ser um excelente filme e achei que eras capaz de querer aqui divulgar!
Podem espreitar os pormenores no link em baixo:
http://especial.sapo.pt/che/
bjs
Há bocado numa aula uma professora falava da grande novidade de Keynes: a busca pela liquidez pelos capitalistas (dos investidores), que levam-no (ao Keynes) a concluir pela necessidade de intervenção pública na economia produzindo bens e serviços. E logo me lembrei de falar com ela.
Sem pretensiosismos falei-lhe da fuga à produção dos capitalistas de que um tal de Marx falou no Séc. XIX. Do D-D' que, cem anos antes, descreve a tal busca pela liquidez dos tais investidores nos mercados financeiros. Foi bom! Ela esteve de acordo. Fico à espera de 5ª Feira, a ver se ela aborda o tema...
Ricardo
Dum prémio Nobel da economia não há grande coisa a esperar. É que se trouxesse uma alternativa nem tinha a honra de ser indicado.
Estranhamente, encontra-se isto no Espesso: http://awurl.com/ExpfBDqKb
Não conhecia o senhor, mas apreciei. Sublinhados meus.
Abraço
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