6 de Fevereiro de 2012
- 20h42
Governo grego anuncia demissões;
sindicatos preparam greve
As bolsas europeias fecharam em baixa nesta segunda-feira com as preocupações em torno da crise da Grécia voltando a ganhar força. A troika (FMI, BCE e UE) intensifica a pressão sobre o país, o governo cede, anunciando a demissão de 15 mil servidores, e os trabalhadores prometem uma nova greve geral nesta terça-feira, 7.
Atenas e outras cidades gregas devem amanhecer paralisadas e sacudidas por manifestações de rua, já que a adesão à paralisação deve ser grande, a julgar pelas expectativas dos sindicalistas.
Luta de classes
O acirramento da luta de classes é o desdobramento natural e inevitável da chamada crise da dívida, cuja “solução”, comandada pelo FMI, consiste num pacote de maldades mais cruel que as medidas aplicadas no Brasil e em outros países latino-americanos nos anos 1980, durante a crise da dívida externa.
Longe de solucionar os problemas, a receita do FMI agrava a crise da economia real e serve exclusivamente aos interesses dos banqueiros credores, principalmente alemães e franceses. A Grécia padece mais quatro anos de recessão, com uma taxa de desemprego que não para de subir e avança para 20% da População Economicamente Ativa (atingiu 18,2% em outubro do ano passado), brutal arrocho salarial e redução de direitos.
Imperialismo
As potências que comandam a União Europeia com espírito imperialista (Alemanha e França) estão ampliando a pressão sobre Atenas, para que o país que aceite uma nova rodada de dolorosas medidas de austeridade em troca de um empréstimo de 130 bilhões de euros.
O país enfrenta um resgate de bônus no valor de 14,4 bilhões em março e se o acordo com a troika não for fechado, a moratória será inevitável. Além das demissões, FMI, BCE e UE exigem um corte de 20% no salário mínimo, medida que vai conter ainda mais a demanda e jogar mais lenha na fogueira da recessão. A troika também exige profundos cortes nas pensões suplementares pagas ao aposentados.
Dinheiro para os bancos
É preciso destacar que nem mesmo um tostão do empréstimo em questão será dado em benefício do desenvolvimento do país, combate ao desemprego, estímulo ao setor produtivo ou coisa que o valha. A grana vai todinha (nada menos que 100%) para o bolso de banqueiros estrangeiros, garantindo o pagamento dos juros e evitando a inadimplência, a exemplo do que ocorreu por aqui no passado.
Não há um caminho fácil para sair da crise da dívida externa, mas a esta altura restam poucas dúvidas de que a solução progressista passa, hoje, necessariamente pela suspensão do pagamento dos débitos e o resgate da soberania monetária, ou seja, o abandono do euro e a ressurreição do dracma (moeda do país, e a mais antiga do mundo, antes da adesão ao euro). É isto que corresponde aos interesses nacionais da Grécia e da classe trabalhadora.
Euro é uma camisa de forças
Conforme apontam inúmeros economistas, a Grécia precisa de uma moeda desvalorizada para corrigir o déficit em conta corrente (que resulta em endividamento), mas não poderá fazer isto enquanto estiver sob a camisa de força da moeda comum, sem poder de emissão ou qualquer autonomia sobre a taxa de câmbio. Muitos já consideram que é apenas uma questão de tempo o país sair da zona do euro, embora os líderes da Alemanha e da França ainda acreditem que podem evitar tal desfecho.
A crise, que se arrasta ao longo dos últimos anos, ganhou força a partir do ano passado, com o ruidoso ingresso do FMI na história. Os planos impostos pelo Fundo lograram dobrar a taxa de desemprego (que era de 8% em 2007) e despertar a ira do movimento sindical e dos trabalhadores e trabalhadoras.
Chantagem
A greve geral desta terça será a 16ª do gênero desde que a troika começou a ditar ordens ao submisso governo grego, agora liderado pelo banqueiro Lucas Papademos. A paralisação foi convocada pelas entidades que representam os setores privado (GSEE) e público (Adedy).
O presidente da GSEE, Giannis Panagopoulos, afirmou que as conversas com a "troika" não são "uma negociação, mas uma crônica de morte anunciada. É uma chantagem por parte da 'troika'. Aconteça o que acontecer, os gregos estão condenados a viver na pobreza. Isso nenhum país pode aguentar. Já basta!", assinalou o líder sindical.
A queda das bolsas é sintomática da insegurança e do nervosismo que domina os investidores. Em Londres, o índice FTSE 100 caiu 0,15%, para 5.892 pontos; em Paris, o CAC 40 recuou 0,66%, para 3.405 pontos; em Frankfurt, o DAX fechou em baixa de 0,03%, aos 6.765 pontos; e em Milão, o FTSE MIB encerrou com perda de 0,30%, para 16.390 pontos.
150 mil demissões
O anúncio das 15 mil demissões impostas pela troika foi feito hoje pelo ministro de Reforma Administrativa, Dimitris Reppas. E ele ainda avisou que será apenas o começo, já que as dispensas são parte do compromisso do governo de cortar 150 mil cargos públicos até 2015.
“O compromisso que foi adotado para reduzir 150 mil postos em 2015 — e que inclui 15 mil vagas em 2012 — será bem sucedido em conjunto [com nossos esforços para criar] um setor estatal funcional e eficiente,” disse o ministro. Acrescentou que a redução no quadro de funcionários irá afetar todos os ministérios, professores, forças armadas, empresas prestadoras de serviços públicos e todas as organizações do setor público.
Num cenário de depressão econômica não é difícil imaginar os efeitos dessas iniciativas. O país terá eleições em abril e o crescente descontentamento popular com os rumos que a troika está imprimindo aos acontecimentos certamente vai repercutir nas urnas. A crise ainda está longe do fim. A esperança de um final feliz para a tragédia grega repousa exclusivamente na luta da classe trabalhadora.
Da Redação, com agências
1 comentário:
E os nossos governantes,teimosamente,seguem os passos que deram origem à catastrófica situaçao grega.
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