Em Setembro, foi aqui dada publicidade à apresentação deste livro.
Não nos foi possível, então, participar nessa Conversa com Livros, mas comprámos o livro e lemo-lo, saboreadamente, por vezes com um gosto amargo de recordações vividas e duras... Também gratas, algumas lembrande grandes amizades e, todas, suscitando um enorme respeito.
Acabado de ler o livro, há a grande vontade de saudar calorosamente a autora, Cristina Nogueira, e de entabular, com ela, uma conversa com sobre o livro. Talvez um dia...
Por agora, fica a transcrição do começo da introdução e as notas finais
Introdução
Este trabalho agora editado tem por base uma pequena parte de uma dissertação, defendida na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, para a obtenção do grau de Doutor em Ciências da Educação. O objectivo da investigação que realizámos foi determinar de que forma é que aqueles que tiveram de se tornar clandestinos se formaram, e assim puderam permanecer durante um arco temporal longo na clandestinidade, promovendo lutas e resistindo às investidas policiais.
(…)
Algumas notas finais
Das narrativas biográficas recolhidas sobressai uma representação de si transversal a todos os biografados: a ideia de que não possuem qualidades excepcionais, e de que a sua capacidade de resistirem às torturas e à prisão, de viverem clandestinos, com tudo o que isso implicava, e de continuarem a lutar por algo em que acreditavam, se deve sobretudo à consciência que possuíam e à vontade que tinham. Se esta ideia pode traduzir a desvalorização pelos feitos individuais e a importância atribuída pelos entrevistados à acção colectiva, não deixa contudo de nos fornecer também óptimos contributos para a reflexão sobre a sociedade actual, em que o sonho, a utopia e as causas parecem não estar “na moda”, estar a desaparecer e em que imperam valores como o individualismo, o egoísmo e o consumismo.
Consideramos preocupante que 37 anos após a revolução de Abril, surjam de forma cada vez mais clara alguns dos traços e valores que caracterizaram o regime fascista português. Longe de pretendermos estabelecer qualquer paralelismo entre a situação actual e o regime fascista que oprimiu mais de quatro décadas o povo português, não podemos deixar de considerar que actualmente as injustiças sociais, a pobreza que assola uma parte substancial da população, algumas formas subtis de camuflar a liberdade, cada vez mais entendida e exercida no campo formal, tornam imprescindível a reflexão sobre os testemunhos recolhidos. Hoje, tal como ontem, é necessário que cada um se torne autor e actor da mudança, que use a sua vida para de forma crítica transformar o mundo em que vivemos.
As vidas dos clandestinos biografados demonstram que é possível sonhar, que é possível lutar por aquilo em que acreditamos e que essa luta vale a pena. Os homens e as mulheres que dão corpo a este trabalho e que representam tantos outros, anónimos e desconhecidos, fazem parte integrante da história portuguesa do século xx e merecem ter os seus nomes escritos, semeados e multiplicados.
2 comentários:
Para minha vergonha ainda não li esse livro que tenho já há tanto tempo.
Mas agora vou lê-lo.
Um beijo.
Também adquiri o livro e também já o li. Nasci após o 25 de Abril de 74, e por razões diferentes do camarada Sérgio, também eu valorizo muito os biografados e a autora. Não vivi estas situações mas quero aprender sobre elas, quero que a minha filha saiba que em Portugal, o Fascismo torturou e assassinou, e como referido pela autora numa altura em que se pretende passar a ideia de que por cá foi uma "ditadurazinha" em nada comparada a outros países europeus.
Eles andam por aí, "pousam nos prédios, pousam nas calçadas mas nada os prende às vidas acabadas..."
camarada Sérgio, um abraço fraterno desde a Serra da Estrela.
Sim, ontem em Gouveia, coisa impensável de acontecer até à pouco tempo, houve justos protestos na recepção a Passos...
A luta continua, contínua...
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