segunda-feira, fevereiro 25, 2013

Uma espécie de retrospectiva de/requiem por um governo - 1

Em Junho de 2011, tomou posse o XIX Governo Constitucional da chamada 3ª República Portuguesa. Governo de coligação, com apoio dos partidos à direita do espectro parlamentar, vinha continuar a alternância que desde 1976 caracteriza a governação deste País.

Com o caminho aberto pelos XVII e XVIII Governos, do Partido Socialista sozinho, e na esteira daquele episódio da nossa vida institucional que foram os governos PSD/CDS, Durão Barroso e Santana Lopes, de tão triste memória, tão triste que há quem deseje que da memória seja apagado. Episódio da deserção de um, para ir colher frutos da vassalagem ao império personificado em Busch-Blair, com Aznar em “pau de cabeleira” e Barroso como "estalajadeiro", e do estrebuchar do outro, cuja representação de “enfant terrible” na zona de sombra entre a social-democracia e o neo-liberalismo o levou a apanhar com um governo nas mãos, qual presente envenenado do seu “camarada” de partido.

Os governos Sócrates (2005-2011) cumpriram a alternância, em nome do Partido (com o nome de) Socialista. Apanharam com a previsível e prevista “crise” e foram os governos dos PECs, a procurarem manter, com a fachada socialista, a ilusão dos eleitores, que outra política tinham votado, que não aquela que lhes impunham ao invés do discurso demagógico, enquanto faziam ou cobriam negócios, nem todos claros,

Os PECs, documentos denunciadores da política anti-constitucional, porque anti-social e de democracia a recuar em vez de avançar, escancararam as portas para o acordo do governo com a “troika”, imposto pelos banqueiros, e negociado e assinado com a cumplicidade de quem espreitava a herança do poder, de cujo “arco” se vangloriam os três partidos.

E dela, da “herança” de um défice orçamental dramatizado e de uma dívida (pública e publicada) que nos colocava nas mãos invisíveis dos… mercados e das suas agências de “rating”, nasceu este XIX Governo, que veio, com entradas de leão, colocar a cereja no cimo do bolo. O que, concede-se, não seria nada fácil, como a própria imagem o faz imaginar, com a patorra do leão a esmagar o bolo e a cereja.

Pesporrento, formou-se com curiosas peças de puzzle. Com um trio político – Passos, Portas, Relvas – e alguns nomes “de novidade” e “de surpresa”. De surpresa dou o exemplo dos nomes vindos do CDS para pastas “à medida” das habilidades do “chefe”, e alguns do PSD, como o transferido para a Saúde, um conceituado “tesoureiro”, com a explicação tácita da dupla origem semântica da palavra – de tesouraria fiscal e de tesoura para cortar no Serviço Nacional de Saúde, um dos emblemas a abater do 25 de Abril (como outros... que não se perderão); de novidade (e também surpresa), para a economia e para as finanças, sendo um, o da Economia, um “cromo” vindo do Canadá, e o outro, o das Finanças, o apregoado trunfo do baralho, que assim foi durante muito tempo, resistindo, seráfico, aos falhanços sucessivos do que sucessivamente ia afirmando e sendo desmentido.

Com este continuarei,
que é o que dá mesmo o mote
para o requiem
ilustração Expresso
(Helder Oliveira)

2 comentários:

Graciete Rietsch disse...

Este desastre que agora se radicaliza teve como cúmplices governos anteriores fiéis servidores do capitalismo imperialista,com destaque por mais próximo,para o governo de Sócrates.

Um beijo.

Olinda disse...

Uma anâlise,sucinta,mas muito bem feita,destes ûltimos desGovernos.Cada um pior que o antecessor,O requiem para este,jâ estâ encomendado,ao som de Grandola Vila Morena.

Um beijo