terça-feira, novembro 15, 2016

Resultados de eleições aparentemente bipolares

Se sou o primeiro a perguntar-me se não será excessivo o espaço ocupado pelas eleições nos Estados Unidos, em detrimento de tanto que há a dever (pre)ocupar-nos, mais me choca a qualidade do que preenche o espaço e tempo ocupados. Foi, evidentemente um choque (i)mediático, como o foi o chamado Brexit, como o foi o golpe no Brasil, e não digo mais (para poupar palavras...) mas comunicação social abusa. 
O mundo está em convulsão, e não é (só) em tremendos desastres naturais. O capitalismo, como sistema dominante na relação de forças sociais, dá sinais de desnorte, ou de desorientação na rosa dos ventos. Depois de ter vencido a batalha do Leste europeu, mostra não controlar o que intentaria fazer por via de regimes políticos democráticos "à sua maneira", isto é, manipulando as massas para que legitimem pelo voto (expresso ou abstencionista) estratégias imperialistas. Estratégias que, evidentemente, não são consensuais entre os vários  e friccionais ou conflituais interesses da/na classe dominante. E o perigo - para a Paz, para a Humanidade - não é escamoteável.
As recentíssimas eleições presidenciais poderão tê-lo tornado evidente. Não o digo por ter sido eleito quem foi, nem pela campanha à medida dos dois candidatos bipolares. Mas, com o velho hábito de analisar resultados, encontro sinais ocultos (ou ocultados) que são significativos para quem queira ver a política para além de quem é que foi eleito, e reduz a participação das gentes ao gesto periódico e bem manipulado de escolher quem a classe dominante entende mais conveniente para os interesses dominadores dentro dela.
Pois bem, observando os números-sinais arrogo-me trazer novidades, que algumas não o deveriam ser.
  1. - além dos candidatos bipolares, houve (este ano e mês) mais 4 candidatos com votos expressos, um dos quais com 4 milhões e perto de 200 mil votos e outro ultrapassando largamente o milhão de votos; 
  2. - de 2012 para 2016 houve, na totalidade, menos um milhão e quase 400 mil de eleitores;
  3. - os dois candidatos que a esmagadora maioria das gentes julga terem sido os únicos tiveram menos 5 milhões e 400 e muitos milhares de votos que os seus antecessores (uma queda de 7,4% nos "democratas" e de 0,8% dos "republicanos");
  4. - em contrapartida, os votos nos outros candidatos, se bem que partindo de pouco mais de 1 milhão e 300 mil votos, subiram mais de 4 milhões e acima de 700 mil, ultrapassando os 6 milhões de votos, o que representa saltos de 226% para o candidato "libertário" e de 168% para a candidata "verde", que foram os mesmos de há 4 anos.
Têm estas contas algum significado ou interesse? Cada um julgará por si, pelos seus critérios e escalas. Mas é indispensável inseri-las (às contas...) no contexto de ilusões criadas há 8 anos e reforçadas há 4, alheias - então e agora -, à consciência do sistema social prevalecente e correlação de forças em que o mundo se agita.      

2 comentários:

Olinda disse...

È muito interessante esta reflexão!E a "nossa" comunicação-manipulação sempre a martelar no mesmo...Bjo

cid simoes disse...

Sempre à cata da verdade os media de "referência" vão colocar nas primeiras páginas este trabalho.