terça-feira, outubro 06, 2020

Comenta dor - Marcelo dixit!

 O PESO DAS PALAVRAS

Corrupção, ética, ditadura são palavras pesadas que saltaram para a praça pública.

A corrupção, acompanhada de compadrio e clientelismo, e a ética, complementada com a adjectivação de republicana (que bem dispensaria), enchem a informação com que nos querem ir formatando. Curiosamente, a palavra ditadura, que ouvi, e como que me sobressaltou ao ouvir o discurso do Presidente da República, ficou a modos que suspensa sobre a dita praça pública, e não a encontro nos títulos e citações sublinhadas.

Pois ela aqui se sublinha e se comenta:

“(…) Temos de continuar a agir em liberdade e vamos continuar a agir em liberdade, porque não queremos ditaduras em Portugal e sabemos que ditaduras, por esse mundo fora, não resolveram esta crise e, porventura , nem sequer a assumiram a tempo e com transparência(…)”.

É na verdade curioso, ou melhor: significativo, que os exegetas de tanto que Marcelo Rebelo de Sousa diz, não se tenham detido nesta afirmação. Em que, aliás, Marcelo não se queda pelas fronteiras em que se costuma movimentar, e entra por territórios alheios e controversos.

Depois de deixar claro que, para ele, ditadura e liberdade são antónimos como palavras, e antagónicos como regimes políticos – o que exigiria (para outra oportunidade) elucidação sobre significados e conceitos –, Marcelo Rebelo de Sousa é afirmativo: não quer(emos) ditadura em Portugal, o que é de sobremodo interessante vindo de quem vem, que bem se lembrará dos “cantos da casa” de quando Portugal vivia em inquestionável ditadura.

Também é interessante que o PdaR não se tenha ficado por cá e por aqui, e tenha assegurado (“como sabemos”!) que ditaduras, por esse mundo fora, não resolveram esta crise e nem sequer a teriam assumido a tempo e com transparência. A quem estaria Marcelo a referir-se? Por mais curta que fosse a lista dos países que tivesse no pensamento – e não explicitou, nomeando-os –, decerto incluiria o Brasil e os Estados Unidos, e respectivos responsáveis máximos por via de uma pretensa democracia que, por hábito e pregação, se diz ser contrária às ditaduras, segundo conceitos partilhados… que não discutidos.

 Tudo muito curioso, interessante, e que me deixaria um pouco perplexo se não me ajudassem os provérbios populares que dizem que quem muito fala pouco acerta, mas também o contrário: quem muito fala às vezes acerta.

1 comentário:

Olinda disse...

Resta saber o que MRS entende por "ditaduras"...já que o seu conceito de democracia,cujos efeitos sociais é o que se sabe,também é contraditório.Bjo