A necessidade do ser humano se auto-conservar obriga-o a recorrer à natureza de que faz parte. Colhendo frutos, arrancando folhas e raízes, bebendo água, tirando carne e peles de outros animais. Aproveitando o que tem à mão. E só a esses recursos naturais começou por recorrer… Mais capacitado ficou para o fazer quando “desceu à terra”, quando saiu da altura das árvores e, "aprendendo" a mover-se de pé, ficou com as mãos livres. Para colher, arrancar, beber, lutar com outros animais. Quando começou a descobrir que o braço podia chegar mais longe e mais fundo porque um ramo ou um osso o prolongava, que uma pedra podia ser o punho mais além do braço, que o ramo e a pedra podiam, ligados, ser o braço mais comprido e também com um punho.
E por aí fora… até que o osso de um animal descarnado feito instrumento, ano a ano, século a século, milénio a milénio(*), se transformou na nave espacial (lembram-se de 2001 Odisseia no Espaço, do Stankey Kubrick?, a sequência daqueles dois planos “era” materialismo histórico…)
Os recursos serviam, e servem, para satisfazer necessidades, e servem para completar o corpo, como recurso primeiro que é, para auxiliar a aceder aos recursos que as satisfazem directamente.
Depois, os recursos adquiridos como auxiliares foram-se tornando indispensáveis para transformar a natureza, para a fazer produzir. Como meios e objectos de produção. Trabalhando a terra. Lavrando, semeando, alterando os ciclos naturais. Descobrindo o lume ao afiar as pedras como cutelos das mãos, guardando o fogo, aproveitando materiais mais resistentes, e mais resistentes os tornando. Sempre os recursos, sempre o prolongamento e a complexificação do corpo humano. O primeiro e intrínseco recurso.
E por aí fora… até que o osso de um animal descarnado feito instrumento, ano a ano, século a século, milénio a milénio(*), se transformou na nave espacial (lembram-se de 2001 Odisseia no Espaço, do Stankey Kubrick?, a sequência daqueles dois planos “era” materialismo histórico…)
Os recursos serviam, e servem, para satisfazer necessidades, e servem para completar o corpo, como recurso primeiro que é, para auxiliar a aceder aos recursos que as satisfazem directamente.
Depois, os recursos adquiridos como auxiliares foram-se tornando indispensáveis para transformar a natureza, para a fazer produzir. Como meios e objectos de produção. Trabalhando a terra. Lavrando, semeando, alterando os ciclos naturais. Descobrindo o lume ao afiar as pedras como cutelos das mãos, guardando o fogo, aproveitando materiais mais resistentes, e mais resistentes os tornando. Sempre os recursos, sempre o prolongamento e a complexificação do corpo humano. O primeiro e intrínseco recurso.
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(*) - adenda depois de uma visita às "gravuras de Foz de Coa", que parecia feita para este "episódio" do MH, em que um amigo nos deu uma lição daquelas que sabem tão bem (obrigado, José Pedro!). Foi... empolgante! E acrescento aos milénios dos milénios os milhões de anos dos milhões de anos. O que bem nos dá a dimensão temporal do que vivemos e do que foi vivido!
9 comentários:
A lição de hoje parece um poema, tão bonita é a maneira como está escrita. Nunca pensei que o pensamento lógico pudesse ter tanta beleza.
Campaniça
Belo texto! (é mesmo belo que quero dizer)
Não fosse a apropriação indevida e forçada por alguns, dos recursos de todos e poderíamos viver usufruindo de grande parte dos avanços tecnológicos e científicos (embora alguns pudessem bem ter ficado no tinteiro), mas muito mais próximos da pureza original (ambiental e não só) das margens do Côa, quando uma simples pedra de sílex podia ser de facto o prolongamento do punho, mas também do espírito e da beleza.
A demonstração de com saber e arte é possível explicar coisa complicadas de forma simples e eficaz.
Obrigado camarada, és um mestre na difícil arte de ensinar.
Um abraço.
a.ferreira
Tenho dois livros que, não são para ler , mas sim para ir lendo , é o que eu faço.
" A historia da raça Humana"de Henry Thomas traduçãode gilberto Miranda 5ª edição da livraria Globo editado em 1947, outro " O Processo Histórico"de Juan Clemente Zamora, tradução de Marcolino Cardoso, editado pela Livraria Renascença em 1946.
Não resisto a transcrever, uma passagem com que termina o Manifesto Comunista de 1840, que terminava assim: -"Os proletáriosnão teem nada que perder, a não ser as suas cadeias;mas teem um mundo para ganhar.
Proletáriosde todos os países, uni-vos.
Agora , uma pergunta!
Setôr, não sei se conheces estes livros, com mais de 60 anos, e nos quais eu vejo,conhecimentos prátcos que ainda fazem sentido a sua aplicação, estou certo ou errado?
Abraço
Senhor Doutor obrigado por estas lições simples, objectivas e que prendem a atenção do aluno.
Com lições destas, quem é que não se "rende" ao materialismo histórico? Muito artístico - quero eu dizer, utilizando cinema e gravuras paleolíticas como exemplos...:))
A descoberta dos recursos, depois de conseguidos a sua necessidade, a transformação.
Um texto muito bonito, muito explícito. Quase dá vontade dizer, a vida é bela!
GR
Campaniça - ainda apanhas um 20... vá lá, um 19!
Samuel - belo? bela é a vida, GR!
A.Ferreira (ferreira, ferreira, quem és tu?) - retribuo o abraço
José Manangão - conheço(ci) bem "o processo histórico", devo tê-lo por aí. Mas há tanto livro por ler e tanto para nos ajudar...
Antuã - camarada, se fazes favor!
Justine - tens de me dar umas "ajudas" nestas abordagens da matéria...
GR - então e não é bela a vida?, estou sempre ea repeti-lo.
Sou um simples desconhecido, embora te “conheça” das andanças da luta. O que não é nada mau.
a. ferreira
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