As necessidades naturais dos seres humanos são idênticas às dos outros seres vivos, a começar pela de se auto-conservarem… vivos. Para isso recorrem, naturalmente, aos recursos do "meio" em que vivem. Aos que “têm à mão”, com o que “têm à mão”. Ou à pata, ou ao focinho, ou ao bico…
Mas há uma grande diferença. Há o que se pode assimilar a uma “diferença qualitativa”, ou melhor, a primeira e essencial e humanizadora diferença qualitativa.
O ser humano, ao servir-se da natureza, no "meio" em que é, fá-lo por uma actividade racional, que adapta e transforma o “meio”, libertando-se progressivamente da sua sujeição a esse “meio” que adapta e transforma ao seu serviço.
Mas os outros seres vivos não adaptam e transformam a natureza?, as formigas não “isto”, as toupeiras não “aquilo”, os pássaros não “aqueloutro”?
A diferença - qualitativa – estará em que a actividade do ser humano é… trabalho. Porque é racional, porque, ao servir-se, ao adaptar, ao transformar, o ser humano aprende, retém o aprendido, transmite o retido.
Com o ser humano, a organização da matéria atingiu o estádio de transmitir o retido porque experimentado e aprendido. Para explicar o porquê dessa “diferença” existem áreas do saber na humana busca constante de conhecer e explicar.
O trabalho é a actividade racional do ser humano que tem por fim transformar os objectos naturais (de trabalho) com o seu corpo e instrumentos (de trabalho) que vai criando para, com esses recursos, satisfazer as suas necessidades. Também em permanente evolução. Assim criando valores de uso, ou para uso, isto é, que satisfaçam necessidades humanas.
E porque retém e transmite, no espaço e no tempo, o que aprende e retém, o trabalho é colectivo, porque, hoje, usa o que até hoje foi aprendido e retido, aqui e ali. Divide o trabalho. Humaniza-se e socializa-se (o que é redundante…) pelo trabalho.
Mas há uma grande diferença. Há o que se pode assimilar a uma “diferença qualitativa”, ou melhor, a primeira e essencial e humanizadora diferença qualitativa.
O ser humano, ao servir-se da natureza, no "meio" em que é, fá-lo por uma actividade racional, que adapta e transforma o “meio”, libertando-se progressivamente da sua sujeição a esse “meio” que adapta e transforma ao seu serviço.
Mas os outros seres vivos não adaptam e transformam a natureza?, as formigas não “isto”, as toupeiras não “aquilo”, os pássaros não “aqueloutro”?
A diferença - qualitativa – estará em que a actividade do ser humano é… trabalho. Porque é racional, porque, ao servir-se, ao adaptar, ao transformar, o ser humano aprende, retém o aprendido, transmite o retido.
Com o ser humano, a organização da matéria atingiu o estádio de transmitir o retido porque experimentado e aprendido. Para explicar o porquê dessa “diferença” existem áreas do saber na humana busca constante de conhecer e explicar.
O trabalho é a actividade racional do ser humano que tem por fim transformar os objectos naturais (de trabalho) com o seu corpo e instrumentos (de trabalho) que vai criando para, com esses recursos, satisfazer as suas necessidades. Também em permanente evolução. Assim criando valores de uso, ou para uso, isto é, que satisfaçam necessidades humanas.
E porque retém e transmite, no espaço e no tempo, o que aprende e retém, o trabalho é colectivo, porque, hoje, usa o que até hoje foi aprendido e retido, aqui e ali. Divide o trabalho. Humaniza-se e socializa-se (o que é redundante…) pelo trabalho.
10 comentários:
A criatividade e sentido colectivo no trabalho foi-se tornando tão importante, que hoje a criação de novas ferramentas e o constante aperfeiçoamento das já existentes, assim como a sua divulgação e partilha, são uma parte cada vez mais fundamental do próprio trabalho.
Para não variar... belo texto!
Abraço
Concordo com o Samuel.
Porém, se considerarmos que o trabalho era a actividade que o homem escolhia e se identificava com ele perante o seu conhecimento, dinamismo, num processo sempre criativo, satisfazendo as suas necessidades e as da sociedade. Como era há uns anos atrás. (Um dia tive curiosidade de conhecer um trabalhador que fez uma grades e portões se um solário. Lindos parecem filigrana. Todo o trabalho foi desenhado e criado por homens (sem estudos) discutindo, pensando entre eles, saiu a aquela obra (para mim é arte). Estiveram naquela profissão, mais de sessenta anos.
Hoje, não é possível. Hoje, um engº está numa caixa de um supermercado, amanhã num banco. Ou outra qualquer profissão.
Actualmente há um retrocesso, perante o trabalho e o homem. Pois, para além de não ter trabalho, os que têm não o exerce mediante o seu conhecimento, estando o seu desenvolvimento criativo constrangido (contrafeito) e sendo a sociabilização mais difícil.
(Se é burrice o que acabei de dizer, p.f. explica-me.)
Mais uma pág. para imprimir. Na FA mostro-te esta maravilha.
GR
Oh stôr, dá licença? Posso colocar uma dúvida?
É que me parece, no meu fraco entender, que os animais também adaptam e transformam o meio,para satisfazer as suas necessidades. Não é trabalho o ninho que as andorinhas fazem? Os diques que os castores constroem? E esse saber está retido nos seus genes, e é transmitido aos filhotes, não é?
Então, stôr, explique um bocadinho melhor a diferença...
Se pensar-mos que o homem, quando começou a fazer as suas primeias vestes, e os seus utensílios,tinha nessa altura a inteligência da formiga, fácilmente chegamos á conclusão, que o homem em ralação aos outros animais foi dotado de uma inteligência maior, daí uma maior capacidade evolutiva, que rápidamente se sobrepôs a todos os outros animais, que apenas lutam para se auto-conservarem.
A evolução foi tão grande, que o homem, conseguiu domesticar, e por ao seu seviço muitos animais, (início da exploração)com alguma resistência destes, mas a inteligência do homem superou, (salvo raras excepções)sempre os outros animais, até que a luta passou para o campo, exclusivo dos hmomens:-A exploração do homem pelo homem.
Ó Setôr, dei um grande salto, não dei?
Por alguma razão eu não tenho muito jeito para a escrita!
Justine,
Lembrei-me logo dos castores, da cegonha, as abelhas e da inteligente formiga.
Mas... nem me atrevi!
GR
Estou esmagada.
Há um psicólogo que desenvolveu toda uma teoria do comportamento baseado no facto de haver uma reciprocidade tripartida, entre a influência do meio, a influência do factor biológico, e do próprio comportamento, que em interacção, são geradores de novos comportamentos, porque os indivíduos aprendem, reteem o apreendido e transmitem o retido, modificando os seus comportamentos e a sua capacidade de gerar auto-confiança a partir dessas experiências.
Coincidências?
Não creio.
beijos
E eu cheguei atrasada à aula...
Ainda estou a pôr os cadernos em dia...
Ler estes teus posts é um regalo e, como já disse, uma espécie de "revisão da matéria". Até já fui buscar os apontamentos da escola onde andei há 24 anos...
Isto promete. E promete tanto que vais ser responsável por eu levar um portátil para o lado de lá do oceano...
Sérgio Ribeiro disse ontem...
Ora aqui está. Não sei como foi, marquei a postagem para as 8 horas de amanhã e saiu logo, e logo "apanho" com 6 comentadores!
Todo contente, até porque estão aqui ditas coisas e levantadas dúvidas que estimo muito importantes,
Aliás, esperava algumas das dúvidas. Cá por coisas...
Marx bem sublinhou um aspecto decisivo para as concepções sequentes: o de que o homem constroi na sua cabeça antes de construir. É o que distingue o mais analfabeto dos homens do "mais engenheiro" dos castores.
Mas a isto voltaremos...
E onde está escrito que os seres vivos não-humanos não adaptam e não transformam a natureza, o "meio"? Faz favor de reler, menina justine.
Mas não o fazem a partir, evidentemente, da concepção de trabalho como actividade racional. E racional o que quer dizer?... Lá voltaremos, a melhores horas.
Mas vou dormir regalado!
17/6/08 00:54
(e corrigiu, hoje, um erro que a quase madrugada lhe trouxe...)
Mais um excelente texto camarada.
Só uma questão. Talvez valesse a pena distinguir trabalho concreto de trabalho abstracto e, por outro lado, força de trabalho do trabalho propriamente dito. Claro que estes são dois eixos capitais e extremamente densos e complexos na teoria marxista mas que valeria a pena a sua divulgação em termos simples e precisos, como tu tens feito.
Aqui fica um desafio Camarada ;-)
Um abraço
Samuel, óptima achega!
GR - estas tuas observações têm a ver com a diferença entre trabalho, actividade criativa e libertadora, e venda da força de trabalho em capitalismo. Lá chegaremos.
Justine - obrigado pela ajuda. Já conversámos (e não só aqui...)
poesianopopular (Zé Manangão) - G'anda salto. E perigoso. Porque... inteligência o que é? Um dom divino?, ou o resultado de uma mudança qualitativa na organização da matéria, que se aperfeiçoa e treina como os músculos e outras formas? Lá iremos.
Sal - temas para desenvolver... a reflexão. E não são coincidências. Sendo-o! (ah, a dialecticazinha). É o homem e as suas circunstâncias, também nas áreas do saber em que aborda a realidade. Isto é, tudo!, materialismo histórico.
Maria - que bom "rever matérias", pô-las em confronto com as novas realidades, ou melhor: com as novidades da realidade!
Ah! e muita atenção (este aviso é para mim!) para o facilitismo dos revisionismos...
Mais um excelente contributo-ajuda, João Aguiar. Essas duas questões maiores - trabalho concreto e trabalho abstracto, e trabalho e força de trabalho - serão, evidentemente, tratadas. A primeira já está na calha; a segunda sê-lo-á mais tarde e devo dizer que é das que considero mais relevantes tendo até feito um artigo para O Militante, apropósito dos 160 anos do Manifesto, em que o abordo com algum (muito) cuidado, além do do pauperismo.
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