•Anabela Fino
Certificado de óbito
O comunicado do Instituto de Saúde Ricardo Jorge confirmando o aumento da mortalidade em Portugal, «por todas as causas», entre os dias 13 e 19 de Fevereiro, causa arrepios.
Diz a instituição que os 3000 óbitos registados em apenas seis dias – a maioria pessoas com mais de 65 anos – estão provavelmente associados «ao período de frio e à circulação de agentes infeciosos respiratórios que ocorreu em simultâneo». Embora reconhecendo que o «apuramento efetivo do impacto da infeção por gripe e o período de frio extremo na mortalidade só será possível com a análise da mortalidade desagregada por causas de morte, por região e por grupos etários», o Instituto avança desde já que «não se identificou outros fatores (sublinhado nosso) que melhor possam explicar o excesso de mortalidade observado».
Quer isto dizer que em Portugal milhares de cidadãos – e não se está a falar de sem-abrigo – não conseguem enfrentar condições climatéricas que, sendo agrestes, estão longe de se assemelhar às registadas na generalidade dos países europeus. Quer isto dizer que milhares de portugueses não têm capacidade para aquecer as suas casas nem para comprar os medicamentos necessários à sua saúde, o que evitaria o aumento cíclico da mortalidade.
Quer isto dizer que as brutais medidas de austeridade impostas pelo Governo a uma população em que 85 por cento dos reformados vivem com menos do que o salário mínimo nacional – sendo que milhares têm pensões de miséria de 100 ou 200 euros –, significam dias a mais de frio e fome e dias a menos para morte. Dirão alguns que ainda é cedo para se tirar ilações de causa e efeito.
Mas para quem tem de optar entre comer ou comprar medicamentos; quem fica condenado ao isolamento devido ao aumento dos transportes; quem protela a ida ao médico por não poder pagar as taxas moderadoras; quem vive o pesadelo da míngua de recursos para acudir às subidas da electricidade, do gás e da generalidade dos bens e serviços essenciais, não sobra tempo para esperar pelo «apuramento exaustivo» que alguém fará às causas de tamanha mortandade. Seja qual for o resultado, será sempre um certificado de óbito da política deste Governo
Hoje, da Lusa:
Mortes em excesso "por todas as causas"
ultrapassaram as seis mil em duas semanas
A mortalidade em excesso "por todas as causas" atingiu na semana passada os 3.080 óbitos, aumentando para 6.110 os números das duas últimas semanas, revelam dados oficiais.
Quantas "mortes antecipadas"!?...
Causa arrepio,
como escreveu Anabela Fino!
5 comentários:
E desses quantos são os assassinados por este sistema?
Um abraço,
mário
Mortes antecipadas pela política de morte deste goveno e deste sistema. E isto se não tivermos que mandar para a guerra os nossos jovens.
Um beijo triste.
Estes assassinatos são premeditados. Retirando dinheiro à saúde a vida é menos longa e logo também eles ganham ao não pagar reformas àqueles que morrem prematuramente.
Meus caros comentadores, colocaram o verbo assassinar e o adjectivo assassinados (ou seja, assassinos), não posso estar mais de acordo.
Abreijos e muita luta
Assassínio programado, em massa e sem câmaras de gás. Mas, a continuar este caminho, a morte tornar-se-á uma coisa banal. Como banais se estão a tornar de novo as infecções hospitalares, as necroses de pés diabéticos e outras coisas que estiveram quase erradicadas nos anos 80 do século XX.
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