São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.
Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?
Eugénio de Andrade
Tive de vir mergulhar a cabeça
na água límpida das palavras
de Eugénio de Andrade,
como um cristal,
um punhal, um incêndio, orvalho apenas,
secretas, prenhes de memória, navegando inseguras,
barcos ou beijos, a fazerem estremecer as águas.
Porque, por veses,
desamparadas, inocentes, leves,
desamparadas, inocentes, leves,
tecedeiras do luar na noite,
ainda que pálidas, a lembrarem paraísos coloridos,
semelham pérolas cruelmente desfeitas
em conchas vazias e sujas?
Não as traiam, às palavras,
não digam liberdade, democracia, povo,
que não saiam, da vossa boca,
as palavras que o vosso sentir não sente,
as palavras que o vosso discurso mente!
Ao menos hoje,
hoje, 25 de Abril de 2012!
5 comentários:
Excelente!
EXCELENTE!!!
Com uma dor fininha a subir-me no peito...
Beijo.
Mas muita vontade e força para continuar a luta!
Lidas as palavras aqui ditas e a provar que, mesmo quando nos pedem para que não digamos as palavras, eles bem ditas ainda valem mais que o silêncio!
Um abraço ingénio
As palavras são pérolas ou punhais. Mas, quem hipocritamente as usa como pérolas, que não esteja a apunalar-nos com elas.
Um beijo.
Essa gente parece ter alma,quando a "música"está a tocar.
José G. Ferreira.
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