quarta-feira, abril 25, 2012

Não digam as palavras...

AS PALAVRAS

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.


Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?


Eugénio de Andrade
Tive de vir mergulhar a cabeça
na água límpida das palavras
 de Eugénio de Andrade,
como um cristal,
um punhal, um incêndio, orvalho apenas,
secretas, prenhes de memória, navegando inseguras,
barcos ou beijos, a fazerem estremecer as águas.
Porque, por veses,
desamparadas, inocentes, leves,
tecedeiras do luar na noite,
ainda que pálidas, a lembrarem paraísos coloridos,
semelham pérolas cruelmente desfeitas
em conchas vazias e sujas?
Não as traiam, às palavras,
não digam liberdade, democracia, povo,
que não saiam, da vossa boca,
as palavras que o vosso sentir não sente,
as palavras que o vosso discurso mente!
Ao menos hoje,
hoje, 25 de Abril de 2012!

5 comentários:

Maria disse...

Excelente!
EXCELENTE!!!
Com uma dor fininha a subir-me no peito...

Beijo.

Maria disse...

Mas muita vontade e força para continuar a luta!

Pata Negra disse...

Lidas as palavras aqui ditas e a provar que, mesmo quando nos pedem para que não digamos as palavras, eles bem ditas ainda valem mais que o silêncio!
Um abraço ingénio

Graciete Rietsch disse...

As palavras são pérolas ou punhais. Mas, quem hipocritamente as usa como pérolas, que não esteja a apunalar-nos com elas.

Um beijo.

Olinda disse...

Essa gente parece ter alma,quando a "música"está a tocar.

José G. Ferreira.