sexta-feira, novembro 02, 2012

Memória - Mário Castrim - Dez anos

por Correia da Fonseca
(e avante!):

«Passaram depressa, quase não dei por eles – Por estes dez anos. Não admira: na verdade, bem se pode dizer que durante estes anos, dia após dia, o Mário continuou comigo. Graças à televisão que era entre nós uma quotidiana preocupação comum? Sim, em certa medida, mas não muito.
Na verdade, o Mário foi para mim muito mais do que um camarada de trabalho, e bem se entenderá porquê se lembrarmos que o Mário Castrim foi muito mais que um crítico de televisão quotidianamente visitado por um toque de genialidade.
Lembro-o, é claro, sempre que a televisão me indigna, ou me desgosta, ou me inquieta, mas lembro-o em muitas mais ocasiões ao longo dos dias. Porque o Mário Castrim era um homem raro, possuído por uma generosidade sem limites, fraterno como nunca encontrei outro, sábio de uma sabedoria que se alimentava de inteligência, de cultura e de ternura. E cidadão exemplaríssimo: sabe-se, para além de qualquer dúvida, que renunciou à grande obra literária que bem poderia ter-nos deixado porque a sacrificou em favor da tarefa cívica de denunciar, dia após dia, o crime político e cultural que era uma televisão ao serviço do fascismo. Bem nos lembramos de que as suas crónicas eram implacáveis, fulminantes, mobilizadoras, E, naturalmente, encorajantes.
O francês Louis Aragon escreveu um dia que «il est contagieux l’éxemple du courage». Durante anos e anos, muitas vezes me lembrei deste verso ao ler crónicas do Mário Castrim.
Passaram depressa estes dez anos. Mas não passou o Mário Castrim. Continua em quantos tiveram a sorte de com ele privarem, de aprender com ele acerca das grandes mas também das pequenas coisas De o lerem, sendo certo que nunca mais puderam ler textos como os que o Mário escrevia. Na planificação do Avante! para este ano de 2012 desde sempre esteve inscrito o dever de este jornal assinalar o décimo aniversário da morte do Mário, nosso companheiro e nosso mestre. Porque ele não deixou de estar connosco, dia após dia. E aqui vai continuar.»






3 comentários:

Graciete Rietsch disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Graciete Rietsch disse...

"Amigamigo que vais nascer. O 25 de ABRIL é para ti."
Dedicatória de Mário Castrim, num livro seu, para a minha filha Susana que ainda não tinha nascido( nasceu em Agosto de 1974).
Não esquecerei aquela pequena conversa que com ele tive nessa distante Feira do Livro, cá no Porto, na Rotunda da Boavista.
A nossa maior homenagem a esse grande combatente da Liberdade é continuar a luta sempre por ele travada, mesmo nos duros anos do fascismo.

Um beijo.

Olinda disse...

Tambêm li.E os poemas escolhidos.Fiquei comovida.Mârio Castrim,faz parte dos nossos mortos,que nao morrem,pois estao sempre na nossa memôria

Bjo